EUA ATACAM BASE AÉREA SÍRIA

07/04/2017

 

 

Pelo menos 50 mísseis são disparados em resposta a bombardeio químico que matou dezenas

Os Estados Unidos responderam na madrugada de hoje (noite de ontem no Brasil) ao ataque químico que deixou ao menos 86 mortos na cidade de Khan Sheikhoun, no Noroeste da Síria, na terça-feira, lançando mais de 50 mísseis Tomahawk contra uma base aérea controlada pelo governo sírio a partir de destróieres ancorados no Mar Mediterrâneo. Segundo altos funcionários, o alvo dos mísseis foi a base de Ash Sha'irat, na província de Homs, de onde informações de Inteligência apontam que partiu o ataque químico. O bombardeio — o primeiro ataque americano no país ao governo do ditador Bashar al-Assad —é a mais dramática ação militar desde que Trump chegou à Presidência, no fim de janeiro, e representa uma reviravolta no envolvimento americano no conflito que assola o país desde os protestos da Primavera Árabe, em 2011. Até a abertura da nova frente, a Casa Branca se concentrara em combater os extremistas do Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque.

— Hoje à noite ordenei um ataque militar contra a base de onde o ataque químico foi lançado. Não há dúvidas de que a Síria usou armas químicas proibidas. É do interesse vital da segurança dos Estados Unidos deter o uso e a proliferação de armas químicas letais — afirmou Trump em um rápido pronunciamento de seu resort em Mar-A-Lago, na Flórida. — A crise de refugiados continua se intensificando e a região continua se desestabilizando. Todos os países civilizados devem contribuir para o fim do conflito na Síria.

Os mísseis americanos — que atingiram a base por volta das 3h45m (21h45m de Brasília) tinham como alvo aviões, pistas de pouso e depósitos de combustível. Uma fonte militar síria afirmou a agências de notícias que o ataque à base havia causado baixas, sem precisar quantas pessoas haviam morrido. De acordo com a rede CNN, militares russos estavam na base atingida pelos mísseis americanos. O Pentágono afirmou que autoridades russas foram informadas com antecedência do ataque.

Horas antes, a Rússia advertira os Estados Unidos de que poderia haver “consequências negativas” no caso de uma ação militar contra a Síria, após uma reunião do Conselho de Segurança da ONU.

— Se houver uma ação militar, toda a responsabilidade recairá sobre os que tiverem iniciado uma empreitada tão trágica e duvidosa — declarou o embaixador russo na ONU, Vladimir Safronkov, na saída da reunião, citando a Líbia e o Iraque como exemplos de fracassos de ações militares.

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SÍRIA NEGA USO DE ARMAS QUÍMICAS

Mais cedo, o presidente Trump declarara que “algo deveria ser feito” em resposta ao ataque químico em Khan Sheikhoun, e o secretário de Estado, Rex Tillerson, afirmara que o país estudava uma resposta apropriada. Após o ataque, Tillerson garantiu que os EUA não pediram a aprovação de Moscou.

— O ataque à Síria mostra que Trump está disposto a atuar quando outros países cruzam a linha — afirmou o secretário de Estado. — A Rússia não foi capaz de prevenir ataques com armas químicas na Síria.

Antes, ele indicara que os primeiros passos estavam sendo dados para a formação de uma coalizão a fim de retirar do poder o ditador que comanda a Síria desde 2000.

Por sua vez, os senadores republicanos John McCain e Lindsay Graham — desafetos de Trump desde a campanha presidencial — assinaram um comunicado conjunto, exortando o governo a agir contra as forças do regime sírio:

“Os Estados Unidos devem liderar uma coalizão internacional para reprimir a Força Aérea Síria”, diz o documento.

A mesma opinião foi expressa pela ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, derrotada por Trump na eleição presidencial americana no ano passado:

— Realmente acredito que devemos atacar as bases aéreas de Assad e evitar que as use para bombardear inocentes e envenená-los com sarin.

A Turquia intensificou as acusações contra o regime sírio ontem ao afirmar ter provas de que forças sírias usaram gás sarin no ataque de terça-feira. O Ministério da Saúde turco afirmou que testes preliminares, realizados em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) indicaram a presença do agente nervoso em três cadáveres da cidades síria transportados ao país.

Durante o ataque, a TV estatal síria se referiu ao bombardeio como “uma agressão”. Apesar das declaração do ministério turco, a Síria voltou a negar o uso de armas químicas, e reforçou a narrativa apresentada pelo Kremlin na terça-feira, de que a contaminação foi fruto da explosão de uma fábrica clandestina de armas químicas controlada por rebeldes.

— Eu volto a dizer: o Exército sírio não usou, não usa, e não usará esse tipo de armas — afirmou o chanceler sírio, Walid al-Mouallen.

O apoio russo a Bashar al-Assad foi descrito pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, como “uma relação de cooperação, troca de ideias e apoio mútuo”. No entanto, destacou que o governo russo não controla as ações do presidente sírio.

— Não é correto dizer que Moscou pode convencer Assad a fazer o queremos — afirmou Peskov. — Apoios incondicionais não são possíveis no mundo atual.

O globo, n.30559 , 07/04/2017. Mundo p. 25