China, UE, Coreia e Chile anunciam restrições à compra de carne brasileira

Lu Aiko Otta e Fernando Nakagawa

21/03/2017

 

 

FRIGORÍFICOS SOB SUSPEITA / Medidas, tomadas na esteira da deflagração da Operação Carne Fraca, preocupam o governo, que iniciou ofensiva para evitar o fechamento dos mercados internacionais ao produto nacional; segundo o ministro da Agricultura, isso ‘seria um desastre

 

 

Alguns dos maiores importadores de carne do Brasil anunciaram ontem restrições à compra do produto, o maior efeito econômico até agora da Operação Carne Fraca, deflagrada na sexta-feira pela Polícia Federal. União Europeia, China, União Europeia, Coreia do Sul e Chile anunciaram algum tipo de restrição às exportações. Juntos, esses mercados representam cerca de 35% das vendas externas de carne bovina do Brasil.

Preocupado com os efeitos da operação da PF sobre as exportações, o presidente Michel Temer autorizou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, a endurecer nas negociações, para evitar o fechamento dos mercados à carne brasileira. “Comércio é assim, às vezes tem cotovelada”, comentou o ministro.

“Se tiver de ter uma reação mais forte, farei com toda tranquilidade.” Ele falava sobre a hipótese de o Chile adotar uma suspensão total à importação da carne brasileira, embora o governo brasileiro não tivesse ontem clareza sobre a extensão das medidas restritivas chilenas. Blairo lembrou que o Brasil importa produtos de lá e, se for o caso, poderá adotar restrições a eles.

Ontem, o governo fazia uma corrida contra o tempo para evitar que países suspendam de forma mais definitiva as importações de carne brasileira. “Seria um desastre”, disse Maggi.

“Eu torço, rezo, penso e trabalho para que isso não acontecer.” Ele disse que um eventual embargo às importações levaria anos para ser revertido. Na crise da vaca louca, em 2012, a China passou três anos sem comprar o produto brasileiro.

As primeiras reações dos países compradores mostram, por enquanto, um prejuízo limitado às vendas brasileiras de carne.

A China, principal mercado do País, comunicou que os embarques do Brasil não serão desembaraçados, ou seja, não deixarão a área do porto, até que haja explicações adicionais das autoridades brasileiras. Estava programada para a noite de ontem uma teleconferência entre autoridades brasileiras e chinesas para prestar os esclarecimentos necessários.

Outro mercado importante, a União Europeia suspendeu a compra dos 21 estabelecimentos suspeitos, uma decisão vista com certo alívio pela área técnica, que temia uma medida mais forte. Em sintonia, o Brasil deixou de emitir autorização para esses frigoríficos venderem para a Europa. De acordo com o ministério, quatro frigoríficos da lista efetivamente exportam para lá. Entre eles, estão a BRF e a JBS.

A Coreia do Sul, um mercado aberto recentemente, informou que não comprará da BRF.

O país também ampliará a amostra de produtos a serem vistoriados, de 1% para 15%.

“Ontem (domingo) eu estava preocupadíssimo; hoje (ontem), estou preocupado”, comentou o ministro. Ele encara como “natural” a hipótese de os 33 países que importaram dos frigoríficos investigados pedirem informações adicionais e até mesmo adotarem novas restrições.

“Daqui pra frente, pode tudo, mas temos nossos argumentos”, disse. O Brasil tem insistido que o sistema de controle sanitário é sólido. Os funcionários suspeitos foram afastados.

De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), as exportações para China, Chile, União Europeia e Coreia do Sul representaram no ano passado 34,42% das exportações da carne bovina e 20,16% das de frango.

No caso da carne bovina, as vendas ao mercado externo somaram US$ 4,344 bilhões, dos quais 16,71% foram adquiridos pela China, principal comprador, e 11,24% pela UE. Nas exportações de frango, que somaram US$ 5,946 bilhões no ano passado, a China comprou 14,45% do total e a Coreia, 2,85%. 

 

Fatia. Nas exportações brasileiras de frango no ano passado, a China comprou 14,45% do total e a Coreia do Sul, 2,85%

 

A REAÇÃO INTERNACIONAL

● Alguns países já ameaçam suspender a compra de carne brasileira

 

UNIÃO EUROPEIA

Suspendeu a compra de carne dos 21 estabelecimentos que foram alvo da operação Carne Fraca e estão sob investigação

 

CHILE

País comunicou que restringirá as importações, mas não está clara a extensão da medida

 

RÚSSIA

Aguarda o movimento da União Europeia para decidir

 

COREIA DO SUL

Suspendeu compras da BRF. Ampliou a fiscalização para 15% das amostras (era 1%)

 

CHINA

A carne do Brasil não sai do porto para o mercado interno até que as autoridades brasileiras deem mais esclarecimentos

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45080, 21/03/2017. Economia, p. B1.