Para exportar, Brasil pode ter de reduzir preço da carne

Eduardo Laguna e Leticia Pakulski

21/03/2017

 

 

Para Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), mesmo assim, deve haver uma queda no volume vendido

 

 

A operação da Polícia Federal (PF) que revelou a violação de regras sanitárias por frigoríficos brasileiros deve causar duplo impacto nas exportações de carnes, segundo avaliação da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), entidade que abriga empresas exportadoras a importadoras. A instituição acredita que as restrições que outros mercados devem ter ao País poderá reduzir os volumes vendidos entre 10% e 15%.

Além disso, o episódio pode reduzir a reputação da carne brasileira de categoria no mercado internacional, algo que forçaria seus produtores a cobrar menos do que os concorrentes.

O resultado, conforme as previsões da AEB, seria um corte de 20% em relação aos preços que eram praticados pelo setor em mercados internacionais antes da operação Carne Fraca, deflagrada pela PF na sexta-feira.

No saldo final, com a queda tanto de volume como de preços, o Brasil pode perder neste ano entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões em exportações do produto. No ano passado, os embarques de carne chegaram a US$ 12,7 bilhões. “É um impacto grande”, afirma o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

O executivo diz que o choque chega num momento em que os frigoríficos brasileiros vinham conseguindo aumentar preços, com valorização de 40% da carne suína, de 10% da carne bovina e de 20% do frango nos últimos 12 meses.

Mesmo que os embargos contra o Brasil possam, pela redução de oferta, pressionar para cima os preços internacionais, os produtores brasileiros terão que vender a preços mais baixos para voltar ao mercado, diz o titular da AEB.

“O preço no mercado internacional pode subir, mas o Brasil terá de vender mais barato. A alegação dos compradores para pagar menos será de que a carne brasileira é de segunda”, comenta Castro.

Ele também diz que a operação da PF deve frustrar planos de produtores brasileiros de frango de ocupar espaços da concorrência americana após a descoberta recente de mais um foco de gripe aviária no Estado do Tennessee. “Na sexta-feira, mudou tudo. Quem suspendeu a compra do Brasil terá que importar dos Estados Unidos ou ficar sem frango”, diz Castro.

Acompanhamento. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) diz se preocupar com a Operação Carne Fraca, mas acredita que o problema é pontual. O farelo de soja é usado na alimentação de animais no Brasil. “Vemos com preocupação, mas temos um entendimento bastante semelhante ao expressado pelo governo brasileiro de que se trata de um problema localizado e pequeno”, disse o secretário geral da Abiove, Fábio Trigueirinho.

A associação acha cedo para projetar se haverá queda no consumo de farelo caso a operação reduza a venda de carnes. “A gente ainda não conseguiu avaliar isso, mas não acreditamos que deva ter tanto impacto. O governo está sinalizando no sentido de que não há preocupação e que o consumidor não deve se desesperar.”

 

Valorização. Choque chega quando preço subia, diz Castro

 

Momento

A Operação Carne Fraca foi deflagrada em um momento em que o Brasil vinha aumentando os preços de suas carnes – a valorização havia sido de 40% nos suínos e de 20% em frangos.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45080, 21/03/2017. Economia, p. B4.