Valor econômico, v. 17, n. 4226, 31/03/2017. Finanças, p. C1

BC ratifica expectativa de aceleração de corte da Selic para 1 ponto em abril

 

Alex Ribeiro
Eduardo Campos
Fabio Graner

 

O Banco Central (BC) indicou que a melhora ocorrida no cenário inflacionário fortalece a possibilidade de uma intensificação moderada no ritmo de flexibilização monetária, praticamente selando as chances de uma baixa de um ponto percentual nos juros básicos da economia em abril, dos atuais 12,25% para 11,25% ao ano.

No Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de março, divulgado ontem, o BC também procurou indicar os limites para o ciclo de baixa de juros iniciado em outubro de 2016, quando a taxa básica estava em 14,25% ao ano. O documento mostra que a queda da Selic a 9% ao ano em 2017 e a 8,5% em 2018 é compatível com o cumprimento das metas de inflação, de 4,5%, deste e do próximo ano.

O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Carlos Viana de Carvalho, ressaltou que os cortes mais intensos de juros significam apenas uma antecipação do ciclo de distensão monetária em curso. Segundo ele, os juros podem cair numa velocidade maior, cuidando da atividade econômica, porque as expectativas e projeções de inflação do BC estão na meta e a economia opera com elevado grau de ociosidade.

"Estamos numa estratégia de fazer mais cedo a flexibilização, que nos parece cabível, pois isso nos auxilia nesse processo de estabilização e retomada da atividade econômica sem comprometer as projeções para a inflação", disse Viana de Carvalho, em entrevista coletiva em que comentou o RTI. "Esse é o nosso compromisso não negociável."

O BC destacou ainda que a extensão do ciclo de baixa de juros - inclusive o que vai ser decidido em 2018 - dependerá das projeções de inflação para 2019. Hoje, os analistas econômicos esperam uma queda dos juros básicos a 9% até setembro próximo. A taxa, então, ficaria estável nesse percentual até o fim de 2017. No ano que vem, haveria dois cortes de 0,25 ponto percentual, um em janeiro e outro entre julho e agosto.

O tamanho do ciclo também dependerá de como está a condução pelo BC das estimativas para a taxa de juros estrutural da economia brasileira. Segundo Viana de Carvalho, as reformas que estão sendo feitas pelo governo podem contribuir para redução dessa taxa, que ele chamou de "ponto morto", pois seria aquela que promove o máximo de crescimento com inflação estável na meta.

Mas ele ponderou que a política monetária não é refém dessa taxa, pois, conforme já comunicado pelo BC, as decisões sobre juros dependem também de fatores conjunturais, como as projeções e expectativas de inflação, nível de ociosidade da economia e avaliações sobre fatores de riscos mais diversos que envolvem a economia internacional e doméstica.

No RTI, o BC apresentou quatro projeções diferentes de inflação, que procuram antecipar como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vai se comportar nos próximos dois anos, trimestre a trimestre, caso se confirme um cenário econômico traçado pelo próprio BC, assumindo as hipóteses para a trajetória da taxa de câmbio e juros.

Viana de Carvalho disse que, entre as quatro projeções, a que traz informações mais relevantes sobre a condução da política monetária é aquela que considera as avaliações do mercado para o comportamento do câmbio e dos juros.

Nesse cenário, que até o RTI de dezembro era conhecido como "cenário de mercado" e hoje é chamado de "projeção de inflação no cenário de juros e câmbio da pesquisa Focus", o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fecha 2017 em 4%, contra 4,2% da ata do Copom de fevereiro, e sobe gradualmente até 4,5% em 2018 e encerra o primeiro trimestre de 2019 em 4,6%. Na entrevista, Viana foi questionado pelo fato de a inflação projetada para 2017 estar abaixo do centro da meta, definido em 4,5%. Para alguns economistas, esse seria um suposto sinal de excesso de conservadorismo na política monetária em fins do ano passado, quando os cortes de juros ocorreram a passos mais lentos, de 0,25 ponto percentual.

O diretor do BC disse que é "natural" que a inflação oscile acima ou abaixo da meta no ano calendário em função de choques de preços que não podem ser combatidos no mesmo período. O importante, argumentou, é que o BC esteja sempre mirando as projeções de inflação com vistas a cumprir o centro da meta. Ao longo do tempo, a inflação medida vai oscilar em torno desse objetivo, ficando uns anos abaixo e outros acima.

No RTI, o BC apontou que as expectativas de inflação do mercado financeiro de 2019 e horizontes mais longos estão ligeiramente abaixo da meta, de 4,5%, "possivelmente refletindo expectativas sobre definição das metas para a inflação no futuro" - ou seja, contemplando a hipótese de uma eventual redução. Questionado sobre a possibilidade de alteração da meta, que está em 4,5% desde 2005, Viana de Carvalho disse que a definição da meta de 2019 será feita pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na sua reunião de junho e que uma mudança na meta de 2018 é um evento teoricamente possível, mas com um risco "desprezível" de se materializar.

O BC renovou a sua avaliação de que a atividade econômica mostra sinais de estabilização, com possível retomada gradual ao longo de 2017. A projeção oficial da autoridade monetária para o Produto Interno Bruto (PIB) foi reduzida de uma alta de 0,8% para 0,5%, mais alinhada à projeção mediana dos analistas do mercado.

O RTI também trouxe uma série de estudos apontando que, mesmo com elevada ociosidade no setor industrial, há espaço para aumento dos investimentos e que o crescimento da produtividade tende a apresentar contribuição superior para a retomada do que o volume de mão de obra ocupada.