Título: A frota da servidora
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Fonte: Correio Braziliense, 21/12/2011, Política, p. 2

Quatro carros e um caminhão juntam-se à lista de 10 veículos apreendidos com a funcionária do TRT acusada de desviar depósitos judiciais ou com seus parentes

Não para de crescer a lista de bens valiosos da servidora do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) Márcia de Fátima Pereira e Silva Vieira, presa na manhã da última segunda-feira durante a Operação Perfídia da Polícia Federal (PF). Na noite de segunda, foram apreendidos pela operação três carros, incluindo um Mercedes Benz Rexton e um Hyundai Veracruz, e um caminhão. Um desses veículos está registrado em nome do marido de Márcia, José Aílton, dois em nome da filha da servidora e um em nome do genro — ambos sem a identidade revelada pela polícia.

Esses quatro veículos somam-se a outros 10 já apreendidos durante o dia. Entre eles, estão um Toyota RAV 4 e um Toyota Hilux. A delegada Fernanda Oliveira, responsável pelo inquérito, aponta que todos os automóveis apreendidos são avaliados em cerca de R$ 1 milhão. Os bens representam um montante incompatível com a renda de Márcia, segundo a polícia, e podem ter sido adquiridos a partir de desvios de depósitos judiciais cometidos pela servidora. Neste ano, Márcia desviou ao menos R$ 5,5 milhões. Mas o valor pode ser muito maior, já que a acusada tinha autorização para efetivar transferências desde 2006.

Márcia Pereira foi ouvida ontem pela segunda vez na Superintendência da Polícia Federal, com o objetivo de solucionar inconsistências verificadas no primeiro interrogatório. A responsabilidade pelos desvios, no entanto, já foi assumida pela acusada, segundo a polícia. "Ela confessou os crimes e disse que agiu isoladamente, não envolvendo os colegas. Disse que só ela sabia o esquema", afirmou a delegada. Ainda segundo Fernanda Oliveira, a servidora demonstrou frieza durante o depoimento: "Ela não demonstrou arrependimento, nem surpresa. Acredito que ela achava que poderia ser presa. Como o esquema era muito sistemático, a pessoa acaba cometendo um deslize".

A responsável pelo inquérito explicou que a fraude consistia em realizar transferências fraudulentas de valores vinculados a processos que tramitavam em duas varas da Justiça do Trabalho do Distrito Federal, para contas de beneficiários ilegítimos. Segundo a assessoria de imprensa da PF, o pedido de prisão temporária de Márcia, que acaba na próxima sexta-feira, deverá ser prorrogado por mais cinco dias. Um pedido de prisão preventiva, de 30 dias, também está sendo analisado.

Aproximadamente 20 pessoas consideradas laranjas do esquema comandado por Márcia serão ouvidas pela Polícia Federal, a partir de hoje. "Não sabemos até que ponto efetivamente essas pessoas tinham ciência do que estava acontecendo. Então, não sabemos se o envolvimento é doloso", ponderou a delegada. Entre essas pessoas, podem estar incluídos familiares e amigos da servidora. A investigação já constatou que Márcia agia em conjunto com outras quatro pessoas, todas familiares, que foram presas também na segunda-feira: são a mãe da acusada, Maria Pereira; o marido, José Aílton; e dois irmãos, Maurício Pereira e Márcio Pereira. Os presos, incluindo Márcia, podem responder por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e inserção de dados falsos em sistemas de informática. Ela pode ser condenada também por peculato. As penas podem chegar a 20 anos de prisão para cada um dos acusados.

Além da prisão temporária, a investigação determinou também o bloqueio e sequestro de bens e valores de todos os envolvidos, incluindo os laranjas do esquema criminoso. "Está tudo bloqueado em função da quebra de sigilo. Mas é possível que nem tudo consiga ser devolvido", alertou a delegada. O delegado executivo da PF Rodrigo Carneiro havia afirmado na segunda-feira que os bens apreendidos tendem a ser suficientes para ressarcir os prejudicados. Além dos veículos, os bens registrados em nome da família incluem uma casa no Park Way — avaliada em R$ 2,7 milhões —, outra residência no Guará II e uma fazenda na Cidade Ocidental. Com os presos, também foram apreendidas joias, relógios de luxo, seis televisões, 16 celulares, um monitor de computadores e eletrodomésticos ainda encaixotados. Dois comprovantes de pagamentos de prestações de imóveis — nos valores de R$ 200 mil e R$ 300 mil — também foram encontrados.

Ressarcimento Os bens que já foram apreendidos serão enviados para o TRT para que ele decida a melhor forma de ressarcir os prejudicados. Outro esforço, a partir de agora, é descobrir quanto a servidora pode ter desviado desde 2006. Segundo investigadores, ainda não é possível apontar o valor total porque os bancos que abrigaram a movimentação financeira só liberaram, até agora, o fluxo financeiro deste ano.

O inquérito da Polícia Federal que deflagrou na Operação Perfídia foi instalado em 9 de dezembro, depois que o Correio revelou o golpe. A operação foi batizada de Perfídia para ilustrar a confiança que foi quebrada por Márcia, que exercia funções estratégicas no tribunal. Segundo a delegada que conduz a investigação, o esquema criminoso cometido pela servidora é frequente quando uma única pessoa costuma ter acesso a contas de inúmeros correntistas.