Leticia Ferndandes
Eduardo Barreto
19/04/2017
Como seu governo atingido pelas delações da Odebrecht, que resultaram na abertura de inquéritos contra oito de seus ministros e dezenas de parlamentares aliados, o presidente Michel Temer disse ontem, em café da manhã com deputados da base no Palácio da Alvorada, que a classe política precisa “resistir” ao “problema sério” que o país atravessa, em uma referência indireta à Lava-Jato. E fez um apelo aos convidados para que mostrem trabalho e deem uma resposta “adequada ao momento que vivemos".
Temer afirmou que ele pessoalmente resiste “o quanto pode” e que as “questões mais variadas”, como a crise gerada pela lista do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), têm o objetivo de “desprestigiar a classe política”.
— Há um problema sério no país, vocês sabem disso, as questões as mais variadas, que muitas e muitas vezes visam, digamos assim, desprestigiar a classe política. E nós todos precisamos resistir. Eu tenho resistido o quanto posso, dou entrevistas, falo, para dizer aquilo que o Brasil precisa. Não se pode ter a ideia de que porque aconteceu isto ou aquilo o Brasil vai parar — disse Temer, em discurso para a base que sustenta o seu governo na Câmara. — Acontece um fato qualquer e dizem: “como o governo vai continuar?” Ora bem, temos três poderes no país para que cada qual deles exerça sua função. Vamos deixar o Judiciário em paz, o Judiciário vai cumprir sua tarefa e vai cumprir adequadamente como sempre — acrescentou o presidente.
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SEM SE AMEDRONTAR
Temer disse que cabe ao Judiciário julgar quem está ou não em “situação delicada”.
— Não podemos nos acoelhar (amedrontar), achar que estamos em situação delicada. Delicada, deixaremos para o Judiciário. No mais, o Executivo e o Legislativo trabalham — declarou.
Para dar uma resposta ao momento de turbulência política, Temer sugeriu aos presentes que se “vitalizem” e mostrem que estão trabalhando. O peemedebista sugeriu ainda que os deputados usem mais a tribuna da Câmara para “mostrar o que estão fazendo pelo país”.
— Nós temos que nos vitalizar e dar uma resposta muito adequada para o momento que vivemos — afirmou o presidente.
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“VISÃO AUTORITÁRIA”
Entre os oito ministros do governo que foram citados na lista de Fachin estão dois dos mais próximos ao presidente: Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral.
Michel Temer criticou também, em seu discurso, que há no Brasil uma “visão autoritária muito grande”. Segundo ele, é cultural a visão de que, quando o presidente expede um ato, ele não pode mais ser contestado, ou a mudança é considerada um recuo. Nas últimas semanas, Temer vem mostrando bastante irritação com as críticas de que “recuou” em vários pontos da reforma da Previdência.
— As pessoas acham que, se o presidente da República expedir um ato qualquer, não pode ser contestado, sequer ser negociado, conversado, ajustado, equacionado, nem isso é possível. Porque daí vão dizer: “é recuo, recuo do Executivo, recuo do Legislativo etc”. Eu combato isso.
O presidente também usou o discurso para falar da reforma trabalhista, que disse ser prova da “reconstrução” do diálogo entre Palácio do Planalto e Congresso Nacional. Sem citar a ex-presidente Dilma Rousseff, Michel Temer disse que esse diálogo estava “paralisado”. Ele afirmou ainda que, se a reforma da Previdência for aprovada, a economia fará “um foguete para cima”.
— Como diz sempre o Meirelles, se a Previdência for aprovada, a economia... Ele (Meirelles) faz um foguete para cima. Aliás, o foguete já começou, não é, Meirelles? Nos últimos tempos, temos tido a revelação de que a economia está reagindo.
Temer aproveitou o encontro para dizer que sente saudades do “contato buliçoso” e “agitado” que tinha com parlamentares em seus tempos de deputado federal.
O globo, n. 30571, 19/04/2017. País, p. 8