Mercado já não descarta juro abaixo de 8%
Fernando Nakagawa
14/03/2017
Após a inflação do mês passado surpreender positivamente ao registrar a menor alta para fevereiro desde 2000, o mercado financeiro refez as contas e cortou as previsões de alta dos preços em 2017. Na pesquisa semanal Focus, do Banco Central, analistas diminuíram a expectativa para a inflação oficial medida pelo IPCA de 4,36% para 4,19%. Com esse cenário, aumentaram as previsões de corte do juro nos próximos meses e já há bancos que não descartam juro abaixo de 8% neste ano.
A inflação mais fraca gerou uma nova onda de readequação das previsões. Com os ajustes feitos nos últimos dias, analistas preveem inflação mais distante do centro da meta, de 4,5%. Confirmada a nova previsão, 2017 terá a menor alta anual da inflação desde 2006, quando terminou em 3,14%.
Sem preocupação com os preços, ganha força a aposta de que o BC deve intensificar o processo de redução do juro, que atualmente está em 12,25%. Para os analistas, a taxa básica terminará o ano em 9%, abaixo dos 9,25% previstos há uma semana. Prevalece a aposta de que haverá mais três cortes de 0,75 ponto porcentual nos meses de abril, junho e julho. Depois, o BC deve reduzir 0,50 ponto em setembro e encerra o ciclo com reduções de 0,25 ponto em outubro e dezembro. Assim, o juro cairia 3,25 pontos nos próximos meses.
Há, porém, economistas que preveem movimento ainda mais forte. O banco BNP Paribas revisou a projeção para o ritmo de cortes e projeta aceleração nas reduções no juro de 0,75 ponto porcentual para 1 ponto nas reuniões de política monetária de abril a setembro. Para a instituição, o juro terminará o ano em 8%.
Com a expectativa de que o IPCA fique em 4% no ano, o economista-chefe do BNP no Brasil, Marcelo Carvalho, não descarta a possibilidade de a inflação ficar abaixo desse porcentual. Para a Selic, o economista vê dois riscos: de a taxa chegar ao patamar previsto de 8% antes do esperado, caso o BC acelere o ritmo de cortes para acima de 1 ponto. O outro risco é a taxa terminar dezembro abaixo dos 8%, na medida em que o BC testa novos limites cíclicos e estruturais.
Mesmo com a inflação controlada e juros em queda, as previsões para a atividade econômica não decolam. A expansão da economia brasileira neste ano recuou ligeiramente para 0,48%.
Cortes
4,19% ao ano é a previsão dos analistas ouvidos no Boletim Focus para o IPCA de 2017. Há uma semana, a previsão era de 4,36%
9% é a projeção para a Selic. Na semana passada, era de 9,25%
O Estado de São Paulo, n. 45073, 14/03/2017. Economia, p. B5.