Delator: Garotinho recebeu R$ 20 milhões

17/04/2017

 

 

Repasses via caixa dois teriam sido destinados a três campanhas do casal

 

O superintendente da Odebrecht no Rio, Leandro Azevedo, afirmou em seu depoimento aos procuradores da Operação Lava-Jato que o casal de ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho (ambos do PR) teria recebido repasses da empreiteira via caixa dois para campanhas eleitorais. A informação dada por Azevedo reafirma o depoimento de Benedicto Júnior, ex-presidente da construtora. O valor total repassado ao casal, no entanto, é maior: Azevedo contou aos investigadores que o casal teria recebido R$ 20 milhões — a quantia é bem maior dos que os R$ 12 milhões revelados por Benedicto.

De acordo com Leandro Azevedo, o dinheiro da Odebrecht teria sido repassado em pelo menos três eleições: duas de Rosinha Garotinho à prefeitura de Campos, em 2008 e 2012, e uma de Garotinho ao governo do estado, em 2014. Benedicto relata repasses nas mesmas eleições, porém com valores diferentes. E acrescenta doações de R$ 1,2 milhão em 2010, quando Garotinho concorreu a deputado federal.

Aos procuradores, Leandro Azevedo afirmou que a empresa doou R$ 5 milhões via caixa dois para a campanha de Rosinha à prefeitura em 2008. O valor teria sido acertado durante reunião entre ele, Benedicto e Garotinho no escritório do exgovernador, na Glória, na região central do Rio. Garotinho teria feito ajustes no calendário de pagamento e determinou que o dinheiro fosse entregue ali.

— Eu me lembro que era mais ou menos em torno de R$ 5 milhões, que esse valor seria pago através de caixa dois. Dinheiro não contabilizado — disse Leandro Azevedo, em depoimento.

Já superintendente da Odebrecht, em 2012, Azevedo foi informado mais uma vez por Benedicto que, para a campanha de Rosinha à reeleição, seriam doados, via caixa dois, mais R$ 5 milhões. E que, novamente, caberia a Leandro Azevedo “operacionalizar” o pagamento. Segundo ele, o dinheiro foi dividido em remessas semanais ao escritório de Garotinho, “durante seis ou sete meses”.

 

DEFESA: SEM FAVORECIMENTO

A maior doação, também via caixa dois, foi em 2014. Para a campanha de Garotinho ao governo do estado do Rio, foram R$ 10 milhões, afirmou Leandro Azevedo:

— Ele chamou o Benedicto e disse que seria candidato a governador e que contaria com o apoio da Odebrecht. Nossa avaliação era que o Garotinho tinha condições de ser o governador do Rio. Ainda existia uma crise no governo Cabral grande. O outro oponente dele, se não me engano, era o (Marcelo) Crivella, e o Lindbergh (Farias), que a gente achava que não tinha chance. Então o Benedicto aceitou a combinação de valores de campanha. Foi em torno de R$ 10 milhões.

Segundo o ex-executivo, durante os mandatos de Rosinha como prefeita de Campos, a Odebrecht venceu duas licitações, totalizando R$ 833 milhões. Na primeira, para a construção de 5,1 mil casas populares do programa “Morar Feliz”, a Odebrecht faturou contrato de R$ 357 milhões. Leandro Azevedo revelou que, ao contrário do que ocorre normalmente, o modelo da licitação foi lote único, o que impediu que construtoras pequenas, sem condições financeiras, entrassem na disputa.

O delator contou que, para que a Odebrecht não aparecesse como única interessada, a empreiteira negociou com a Queiroz Galvão e Carioca Engenharia — construtoras com concessões em Campos — que apresentassem propostas com valores acima à da Odebrecht. Em 2012, com Rosinha reeleita prefeita, a Odebrecht venceu licitação para a segunda etapa do “Morar Feliz” em Campos, no valor de R$ 476 milhões. A licitação foi em lote único, e a Odebrecht foi a única empresa a participar.

Garotinho e Rosinha negam as acusações. Em nota, eles ressaltaram que não houve benefício pessoal para eles ou favorecimento à empresa em nenhuma obra. Disseram que os delatores não apresentaram prova e que, em caso de instauração de inquérito, ficará provado que os delatores estão mentindo.

O globo, n.30569 , 17/04/2017. País , p. 6