‘Governo não vai acabar após lista do Janot’

Vera Rosa e Lu Aiko Otta

11/03/2017

 

 

Aloysio Nunes Ferreira diz não sentir tensão pré-lista e admite possível menção a seu nome

 

 

O novo ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), disse que o governo “não vai acabar” após a divulgação da lista a ser enviada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal, com base nas delações de 78 executivos e ex-executivos da Odebrecht.

Sob a alegação de que delatores da Lava Jato querem entregar “carne nova” e muitas vezes “inventam”, Aloysio admitiu até mesmo que haja outras menções envolvendo o seu nome. “O governo não vai acabar com a lista de Janot”, disse o chanceler, em entrevista ao Estado. “Se o Brasil for parar por isso, não tem saída. Precisamos continuar trabalhando, porque temos uma crise a ser enfrentada, temos problemas para serem resolvidos e que não podem esperar acabar a apuração de tudo.”

Embora tenha assegurado não sentir “tensão pré-lista”, Aloysio admitiu “sofrimento” ao esperar a conclusão de um inquérito, no qual foi acusado pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, da OAS, de ter recebido R$ 200 mil em dinheiro de caixa 2 para sua campanha ao Senado, em 2010.

“Mais do que constrangimento, isso para mim é razão de sofrimento. Tudo o que tinha de ser investigado já foi e o empresário declarou que nunca pedi contribuição para ele. Agora, evidentemente, pode haver outras menções”, declarou.

A vacina aplicada pelo chanceler é para se antecipar a comentários de que a lista de Janot poderá conter o seu nome. Questionado sobre a acusação do empresário Fernando Cavendish, da Delta, de que ele seria um dos destinatários de pagamentos irregulares a obras da Dersa, sob a responsabilidade do então diretor Paulo Vieira Souza, Aloysio franziu o cenho. “Não conheço Cavendish. Nunca vi na minha vida”, respondeu. “Não me preocupo com isso porque nunca troquei voto ou decisão administrativa por favorecimento indevido.”

Ex-líder do governo no Senado e aliado de José Serra (PSDB-SP), a quem substituiu no Itamaraty, Aloysio lembrou que o presidente Michel Temer impôs uma “lista de corte” para seus auxiliares. Por essa ordem, quem for denunciado será afastado e quem virar réu terá de deixar a equipe. “Agora, o delator que não conseguir provar o que falou também vai quebrar a cara”, insistiu.

O chanceler disse que o Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht abriu investigação para apurar a situação de executivos que “puseram dinheiro no bolso”, sob a alegação de repassar doações a políticos. “Então temos um assunto que ainda vai render muito.”

 

Defesa

“Mais do que constrangimento, isso (acusação) para mim é razão de sofrimento. O que tinha de ser investigado já foi e o empresário declarou que não pedi contribuição. Agora, evidentemente, pode haver outras menções.”

Aloysio Nunes Ferreira

MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

 

_______________________________________________________________________________________________________________________

Para Aloysio, não há anistia sem crime

11/03/2017

 

 

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, disse nesta sexta-feira, 10, que há uma “falsa polêmica” sobre rumores de que o Congresso ressuscitará a votação da anistia ao caixa 2. “Ainda que o Congresso decida que quem recebeu dinheiro de particular e não declarou na prestação de contas está isento de pena, isso não vai aliviar a pena de ninguém”, afirmou ele ao Estado. “O Ministério Público vai continuar denunciando por outros crimes, como falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e corrupção.”

O perdão ao caixa 2 voltou a ser discutido na Câmara e no Senado, nos bastidores, depois que o Supremo Tribunal Federal tornou réu o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Raupp declarou à Justiça Eleitoral uma doação de R$ 500 mil da empreiteira Queiroz Galvão, na campanha de 2010, mas o Supremo entendeu que se tratava de “propina disfarçada”.

“Não pode haver anistia a caixa 2 porque caixa 2 não está tipificado como crime”, disse Aloysio, que é advogado e foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. “Você compra uma polêmica a troco de nada. Existe hoje a ideia de que qualquer contribuição financeira, desde que venha de uma empresa investigada, é propina. Uma acusação dessa natureza vai se sustentar? Eu não sei.”

TSE. Questionado se o PSDB errou ao pedir a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Aloysio afirmou que “não foi um erro”. À época, os tucanos eram oposição à então presidente Dilma, mas hoje são aliados do PMDB. “Havia indícios fortes, que estão sendo confirmados, de abuso do poder econômico.” Apesar da observação, o ministro eximiu Temer de responsabilidade. “Quem é o responsável pela coleta de recursos não é o vice.”

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45070, 11/03/2017. Política, p. A5.