Defesa de Lula faz ‘propaganda política’, diz Moro

Fausto Macedo/ Mateus Coutinho/ Julia Affonso/ Ricardo Brandt

11/03/2017

 

 

Juiz veta pergunta de advogado do petista a Henrique Meirelles em audiência da Lava Jato

 

 

Em mais um embate com a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o juiz Sérgio Moro afirmou ontem, durante audiência da Lava Jato, que o advogado Cristiano Zanin Martins faz “propaganda política” do governo Lula. A declaração do juiz foi feita ao vetar uma pergunta de Zanin ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ouvido como testemunha de defesa de Lula na ação penal do caso triplex.

“Pelos elementos que o senhor tem, o governo do presidente Lula foi um governo que trouxe benefícios ao País e não um governo que tenha buscado benefícios pessoais para os governantes e pessoas do alto escalão do governo?”, indagou o advogado a Meirelles.

Moro interrompeu. “Ele (Meirelles)responde sobre fatos apenas”, disse. “A impressão é que a defesa está fazendo propaganda política do governo anterior. Não é apropriado, aqui existe umobjeto de acusaçãobem delimitado. Fica indeferida a pergunta”, afirmou o juiz. Segundo Moro, o advogado buscava ouvir a “opinião” do ministro.

Zanin negou. “Propaganda política não estou fazendo, Excelência. Até porque eu sou advogado e não cabe a mim fazer nenhum tipo de consideração de natureza política. Eu só estou enfrentando a acusação difusa que o Ministério Público lançou nos autos.”

Ação. Meirelles, que foi presidente do Banco Central na gestão do petista, prestou depoimento ontem, por videoconferência, de Brasília, na ação em que Lula é réu por corrupção e lavagem de dinheiro.

Zanin questionou se Meirelles, “em algum momento, identificou alguma prática indevida do ex-presidente”. “A minha relação com o presidente Lula era totalmente focada em assuntos relativos ao Banco Central e à política econômicae, nesta interação, eu nunca vi ou presenciei nada que pudesse ser identificado como algo ilícito ou ilegal”, respondeu o ministro.

Meirelles ainda foi questionado se “teve conhecimento de algum elemento concreto que pudesse indicar a presença de uma estrutura criminosa de poder durante o governo do presidente Lula que tivesse o presidente Lula como comandante dessa estrutura criminosa”. “Eu não tive acesso a nenhum tipo de informação sobre isso, inclusive, porque não era o papel do Banco Central”, declarou. 

 

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Empresário nega repasses a Nestor Cerveró

André Ítalo Rocha

11/03/2017

 

 

O empresário José Carlos Bumlai, réu em ação penal acusado de tentativa de obstrução à Lava Jato, disse ontem, em depoimento na Justiça Federal em São Paulo, que seu filho Maurício Bumlai fez dois repasses de R$ 50 mil cada ao senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) como “ajuda pessoal” ao ex-parlamentar. Bumlai negou que os repasses tivessem o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró como destinatário.

Nesta ação, Delcídio, Bumlai, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outras quatro pessoas são acusadas de tentar “comprar” o silêncio de Cerveró. A defesa do senador cassado afirmou no ano passado que Bumlai repassou R$ 250 mil à família de Cerveró, “por interferência do ex-presidente Lula”.

‘Influência’. Ontem, o empresário negou o montante. “O número que ele (Delcídio) falou é absolutamente mentiroso. Não tem nada de R$ 250 mil”, afirmou, via videoconferência, ao juiz Ricardo AugustoSoares Leite, da 10.ª Vara da Justiça Federal de Brasília. Segundo Bumlai, seu filho atendeu ao pedido de Delcídio sem sua autorização e por causa da “influência política” do então senador.

Sobre a sua relação com Lula, Bumlai disse que, embora sejam amigos, o petista nunca lhe pediu para que interferisse para evitar a delação de Cerveró. O ex-presidente será ouvido pelo juiz Ricardo Leite na próxima terça-feira, em Brasília.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45070, 11/03/2017. Política, p. A9.