Advogado de Renan é alvo de operação da PF

Jailton de Carvalho

29/04/2017

 

 

Ex-assessores de Sarney, Jucá e Garibaldi também são investigados

-A Polícia Federal fez ontem busca e apreensão em dez endereços de ex-assessores do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), do ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), do ex-ministro da Previdência Garibaldi Alves (PMDB-RN) e do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Entre os alvos da polícia está Bruno Mendes, um dos advogados de Renan, suspeito de movimentar dinheiro de origem ilegal. As buscas foram pedidas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e autorizadas pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Janot pediu as buscas da chamada Operação Satélite II em inquérito aberto com base na delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, afilhado político de Sarney, Renan e Jucá. Em um dos depoimentos, Machado disse que, durante o período em que esteve no comando da Transpetro, arrecadou aproximadamente R$ 100 milhões de propina para políticos do PMDB. Desse total, R$ 70 milhões teriam sido destinados a Sarney, Renan e Jucá. Machado foi presidente da Transpetro de 2003 a 2014 e só deixou o cargo depois de acossado pela Lava-Jato.

A partir das buscas de ontem, Janot pretende reforçar os indícios apontados por Machado, entre eles corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. No escritório de Bruno Mendes, a polícia apreendeu celular, laptop, pendrive, cópias de processos e rascunhos de discursos, entre outros documentos.

O advogado foi, pela segunda vez, alvo de um pedido de busca do procurador-geral. O primeiro foi rejeitado. Desta vez, o novo relator entendeu que os elementos eram suficientes para autorizar a apreensão de equipamentos e documentos.

O advogado Luís Henrique Machado, responsável pela defesa do colega, negou que Mendes tenha cometido qualquer irregularidade. Ele argumenta que, embora Fachin tenha autorizado, a polícia não localizou e, portanto, não apreendeu dinheiro, joias ou objetos de arte, conforme queria o Ministério Público. “Tudo isso demonstra que não há nenhuma evidência ou participação do advogado nos fatos investigados”, disse Machado.

 

RENAN: “NÃO ESTOU SABENDO”

Ainda ontem pela manhã, quando as buscas estavam em andamento, Renan disse que nada sabia sobre a operação.

— Não estou sabendo de nada disso — disse ao GLOBO o senador, que já não estava mais em Brasília quando a polícia entrou em ação.

A PF apreendeu documentos e equipamentos eletrônicos em endereços dos investigados em Alagoas, Rio Grande do Norte, São Paulo e Sergipe. Entre os alvos das buscas estão Amauri Cezar Piccolo, ex-assessor de Sarney, Lindolfo Sales, ex-chefe de gabinete de Garibaldi, e também o empresário Caio Gorentzvaig, ex-presidente da Triunfo, além de uma ex-assessora de Jucá.

A assessoria de imprensa de Jucá disse que o senador “está à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos, assim como seus funcionários, para que as investigações possam ocorrer rapidamente e que a verdade seja restabelecida”. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, responsável pela defesa de Sarney e Jucá, criticou as buscas pedidas pelo procurador-geral e deferidas pelo relator da LavaJato. Para ele, o procurador não deveria dar credibilidade à delação do ex-presidente da Transpetro. “É o mais absoluto desvirtuamento do processo penal valorizar desqualificados, corruptos confessos, para atingir pessoas que detêm poder, numa visão rasteira e vulgar para obter o apoio popular e midiático”, disse o advogado.

Em fevereiro do ano passado, o GLOBO mostrou que a PF apontava indícios de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em pedidos de doação de campanha em 2014 feitos pelo senadores Renan e Romero Jucá. Na época, a PF também identificou três assessores de Renan, apontados como responsáveis pela marcação de jantares do senador com empreiteiros e também por acertos de doações de campanha. São eles: Everaldo França Ferro, assessor legislativo no gabinete do senador; Marcus Antônio Amorim dos Santos, ajudante parlamentar intermediário do gabinete; e Bruno Mendes, ex-assessor de Renan e agora alvo principal da operação.

O globo, n.30581 , 29/04/2017. País, p. 4