Valor econômico, v. 17, n. 4231, 07/04/2017. Brasil, p. A4

Inflação oficial recuou 0,24% em março, afirmam analistas

 

Arícia Martins

 

A inflação oficial deve desacelerar novamente em março e ficar bem próxima da meta perseguida pelo Banco Central para todo o ano já ao fim do primeiro trimestre. Segundo a estimativa média de 27 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 0,33% em fevereiro para 0,24% no mês passado.

As projeções para o indicador, a ser divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vão de alta de 0,17% até 0,28%. Se confirmadas as expectativas, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 4,56% em março - apenas 0,06 ponto percentual acima do alvo central.

A saída de boa parte dos reajustes de mensalidades escolares - que, pela metodologia do IBGE, afetam a inflação em fevereiro - é o principal vetor de desaceleração esperado para o IPCA, afirma Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. Em seus cálculos, o grupo educação recuou de 5,04% para 0,85% na passagem mensal. Já o indicador oficial de inflação ficou em 0,20% no mês, estima.

Além da parte de educação, outros alívios importantes devem vir dos grupos comunicação e transportes, que tiveram deflação de 0,65% e 0,76% na medição atual, respectivamente, calcula Leal. No último segmento, o economista destaca a redução de 5% prevista para o etanol, em função do aumento da oferta com a nova safra de cana-de-açúcar, que deve puxar para baixo os preços também da gasolina, acrescenta.

"Em março, as altas dos preços de alimentos e da tarifa de energia elétrica, devido à mudança para a bandeira amarela, foram mais do que compensadas pela queda dos preços de combustíveis", afirma a equipe econômica do Santander, em relatório. Para o banco, o IPCA subiu 0,21%, enquanto a inflação acumulada em 12 meses passou a 4,53%.

Assim, depois de sete anos, "finalmente a inflação ao consumidor alcançará a meta de 4,5%", ressaltam os economistas. Outros pontos favoráveis, de acordo com os analistas, são a tendência de declínio da inflação - o que seria uma boa notícia para o processo de corte de juros - e o fato de que, desta vez, a menor alta do IPCA não será resultado de deflação nos preços dos alimentos.

Leal, do ABC, projeta aumento de 0,25% para o grupo de alimentação e bebidas em março, depois de terem caído 0,45% no mês anterior. Este deve ser o maior impacto de alta sobre a inflação no período, aponta o economista, devido aos preços um pouco mais pressionados de itens in natura, ovos e leite, a exemplo do que vem ocorrendo no atacado.

Apesar do avanço previsto para os alimentos, a inflação entrou em um "círculo virtuoso", avalia o economista-chefe do ABC. "No ano passado, estávamos em um círculo vicioso: na medida em que os empresários viam a inflação subir, reajustavam seus preços. Agora, com a tendência de desaceleração, esses repasses diminuem", explica Leal, para quem o IPCA encerrará 2017 em 4,2%. O indicador pode ficar abaixo de 4%, mas isso depende principalmente do comportamento dos alimentos, diz.

Para os economistas Rafael De La Fuente, Guilherme Loureiro e Thiago Carlos, do UBS, o IPCA cedeu para 4,6% nos 12 meses encerrados em março, com perda de fôlego na inflação de alimentos (3%) e de bens industriais (2,8%). Já a variação dos serviços deve permanecer relativamente estável nessa medida, em 5,9%, prevê o departamento econômico do banco suíço.

O IPCA acumulado em 12 meses deve ficar abaixo de 4,5% já no mês de abril, preveem os analistas do UBS. Em agosto, o indicador vai atingir seu piso do ano no cenário do banco, de 3,4%. "No entanto, não esperamos que a inflação excepcionalmente baixa observada no fim do ano passado se repita em igual período deste ano, o que vai levar o IPCA a subir para 4,3% em dezembro", estimam os economistas.

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Atacado puxa queda e IGP-DI tem deflação de 0,38%

 

Alessandra Saraiva
Arícia Martins

 

Commodities agrícolas mais baratas no atacado, devido à oferta maior, levaram à deflação de 0,38% no Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) de março, de acordo com a FGV. A taxa surpreendeu positivamente o mercado financeiro, e foi a menor desde julho de 2016 (-0,39%). Foi o menor resultado nos meses de março desde 2009 (-0,84%). Conforme analistas consultados pelo Valor, o quadro mostra cenário confortável para a família dos Índices Gerais de Preços no curto prazo. No ano, o IGP-DI acumula alta de 0,12%, e em 12 meses, de 4,41%.

No atacado, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) caiu 0,78% em março, após recuar 0,12% em fevereiro. O IPA de produtos agropecuários aprofundou a queda de 0,67% para 2,09%, favorecido por safras recordes para grãos no Brasil e no exterior, enquanto o de produtos industriais saiu de alta de 0,08% para queda de 0,30%. O superintendente-adjunto de Inflação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), Salomão Quadros, citou evolução de preços de materiais para manufatura no atacado, insumos para a indústria, que saíram de inflação de 0,85% para deflação de 1,15%. Houve recuo de preços de farelo de soja (-7,47%), e o setor químico mostra preços mais baixos. Esses movimentos podem prosseguir, disso.

Quadros espera nova queda em bovinos no atacado, cuja deflação recuou (de -2,67% para -0,71%), como reflexo da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que fechou mercados no exterior para carne brasileira, o que poderia elevar oferta no mercado interno.

Os preços do varejo mostram aceleração. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,47% em março, ante 0,31% em fevereiro com alta em cinco de suas oito classes de despesa. A maior contribuição partiu do grupo Alimentação (-0,16% para 0,71%), influenciado por hortaliças e legumes, cuja taxa subiu de 0,41% para 5,45%.

Nem a aceleração de 0,27% para 0,37% do núcleo varejista no IGP-DI, no mesmo período, sinaliza descontrole, na avaliação de Quadros. Para ele, a alta do núcleo foi uma oscilação esporádica. O núcleo está na faixa de 0,3%, que ele considera "muito baixa".

Para Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, a deflação no IGP-DI foi bem mais forte que o esperado e não provocada somente por fatores pontuais. Leal trabalhava com redução de 0,02% para o indicador. "A parte de matérias-primas pode ser algo pontual, mas não a redução no 'core' da indústria, que será repassada aos preços dos bens finais", disse. Para ele, os bens de consumo duráveis devem seguir em trajetória "bastante tranquila" nos índices ao consumidor.

Para Leonardo França, da Rosenberg Associados, a redução inesperada mostra que a desinflação está ocorrendo em ritmo mais rápido do que o previsto e aponta para tendência "bastante benigna" dos preços livres no varejo.

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Câmbio valorizado não deve afetar pequenas empresas, revela pesquisa

 

Camilla Veras Mota

 

O real mais valorizado não deve ter impacto relevante sobre a atividade das pequenas e médias empresas nos próximos meses. De acordo com o Índice de Confiança do Empresário de Pequenos e Médios Negócios no Brasil (IC-PMN), elaborado pelo Insper com apoio do Santander, 51,43% entre 1.260 gestores do comércio, indústria e serviços entrevistados afirmaram que não serão afetados pelo nível atual de câmbio. Na média, quase um terço, 29,37%, acredita que a situação deve melhorar com o dólar mais barato, enquanto 11,43% declararam que haveria piora.

As empresas de menor porte, afirma Gino Olivares, professor do Insper e responsável pela pesquisa, são mais focadas no mercado doméstico e, por isso, menos sensíveis ao câmbio. "Para muitas delas a situação melhora porque o real mais valorizado representa menores custos de insumos importados", pondera.

O percentual alto de empresários que avaliam que não serão afetados, diz ele, pode também ser um efeito da relativa estabilidade da moeda no patamar em torno de R$ 3,20 nos últimos meses.

"O grande movimento de apreciação do real aconteceu no ano passado. Parte das empresas pode ter absorvido os efeitos dessa mudança no início do ano e, por isso, avaliam que não serão afetados de abril a junho". Não é possível fazer comparações com os trimestres anteriores, porque a pergunta sobre câmbio foi incorporada recentemente ao indicador, cuja série começa no fim de 2008.

O índice que mede a confiança dos pequenos e médios empresários cresceu 3,04% em relação ao primeiro trimestre e chegou a 65,06 pontos, voltando ao nível observado nos últimos três meses de 2016. Houve crescimento nos três setores acompanhados - comércio, serviços e indústria.

A retração das expectativas referentes ao primeiro trimestre, na leitura de dezembro do IC-PMN, segundo Olivares, está ligada à frustração no fim de 2016 com o ritmo de retomada da atividade. "Agora os fundamentos permitem enxergar melhor como vai ser a recuperação", afirma, referindo-se especialmente à desaceleração da inflação e à queda dos juros.

A melhora observada na divulgação de ontem, referente ao segundo trimestre, foi puxada pela expectativa em relação ao cenário econômico, parâmetro que avançou 6% sobre a projeção para o primeiro trimestre de 2017. Os pequenos e médios empresários também sinalizaram maior otimismo para os próximos três meses em relação ao faturamento, que atingiu 70,34 pontos, alta de 3,5%, e lucro, 69,01 pontos (3,1%).

Apesar do crescimento, o índice ainda está distante do patamar registrado no segundo trimestre de 2013, ainda antes da crise, de 75,2. No IC-PMN, 100 representa o nível máximo de confiança. Entre as regiões, ainda, o desempenho foi desigual, com avanço da confiança no Sudeste - a maior alta, de 4,8% -, Norte e Sul e recuo no Nordeste e Centro-Oeste.

Olivares destacou a relativa estabilidade da avaliação dos empresários em relação a emprego e investimentos. Em sua visão, esses dois parâmetros serão os últimos a se recuperar. "Depois de três anos de recessão, os empresários estão cautelosos para voltar a investir e recontratar. Eles devem esperar sinais mais claros de que a retomada é consistente."