Milhares protestam contra previdência 

Anna Carolina Papp / Fábio Grellet / Julia Lindner / Ricardo Galhardo

16/03/2017

 

 

Ato de São Paulo teve discurso de Lula; Rio de Janeiro, confronto; e Brasília, depredação

 

 

Milhares de pessoas se reuniram em atos e paralisações, em praticamente todas as capitais e grandes cidades do País, organizadas por centrais sindicais e movimentos populares contra as reformas da Previdência e trabalhista propostas pelo governo federal. Segundo organizadores, em São Paulo, 200 mil pessoas se reuniram na Avenida Paulista. Em Brasília, 5 mil ocuparam a Esplanada dos Ministérios. No Rio de Janeiro, o ato, marcado por confronto, reuniu de 50 mil a 70 mil pessoas. A Polícia Militar não fez estimativa nesses locais.

Em São Paulo, o protesto teve início às 16 horas e ocupou as duas faixas da Avenida Paulista.

Apontado como candidato do PT à Presidência em 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do ato e, em um discurso de dez minutos, fez fortes críticas a Temer e ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

“Vocês querem resolver o problema da Previdência? Em vez de fazer uma reforma que tire direitos, façam a economia voltar a crescer, gerem emprego e aumentem os salários que a receita vai voltar”, afirmou. O petista foi a estrela da manifestação convocada pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.

Segundo os organizadores, o ato reuniu mais de 200 mil pessoas até as 20h30.

Além dos ataques a Temer, que chamou de ilegítimo, Lula enalteceu seu governo.“ A política de reação de emprego e renda, a formalização das empresas e das relações de trabalho proporcionaram um crescimento inédito nas receitas da Previdência e da Seguridade Social entre 2004 e 2014”, afirmou.

Representantes das centrais sindicais também discursaram no protesto, convocando manifestantes a pressionarem os deputados para impedir que haja votação da reforma trabalhista na próxima terça-feira. Vagner Freitas, presidente da CUT, disse que, se o projeto não sair da pauta, será organizada “a maior greve geral que o Brasil já fez”.

“Nós não vamos negociar migalha com Temer. Esse ato é só o primeiro passo.” No Rio de Janeiro, onde segundo os manifestantes se reuniram de 50 mil a 70 mil pessoas, as manifestações foram marcadas por confrontos. Um mulher ficou ferida.

Agências bancárias e postos da PM foram atacados.

 

Invasão. Já no Distrito Federal, cerca de 5 mil pessoas ocuparam a Esplanada dos Ministérios, de acordo com boletim divulgado pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF). Mais cedo, a Polícia Militar informou que o número de participantes chegou a aproximadamente 10 mil, mas a secretaria corrigiu a informação no final do dia.

Os manifestantes colocaram cruzes em frente ao Congresso Nacional e um grupo invadiu o Ministério da Fazenda durante a madrugada, quebraram vidros e fizeram pichações./ANNA CAROLINA PAPP, FÁBIO GRELLET, JULIA LINDNER e RICARDO GALHARDO

 

São Paulo. Insatisfação com a reforma da Previdência, lotou a Avenida Paulista

 

Rio de Janeiro. Manifestantes entraram em confronto com policiais

 

Brasília. Protesto na Fazenda

Curitiba. Mobilização e greve

 

Recife. Profissionais de
diversas categorias na rua

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Temer avalia ir à TV para defender reforma

Tânia Monteiro e Vera Rosa

16/03/2017

 

 

Deputados da base aliada querem que o presidente grave um pronunciamento e assuma ônus do projeto

 

 

O presidente Michel Temer avalia a possibilidade de gravar um pronunciamento para explicar a reforma da Previdência. O pedido foi encaminhado a ele por deputados da base aliada, que pedem ao governo para arcar com o ônus da reforma. Os parlamentares estão sendo pressionados para que se posicionem contra as mudanças na concessão dos benefícios e querem que Temer vá à TV explicar o que está em jogo.

No dia em que milhares de brasileiros foram às ruas para protestar contra o endurecimento das regras da Previdência, Temer deu demonstrações públicas de que não pretende ceder significativamente e procurou deixar claro que tem evitado tomar atitudes ou medidas populistas. Em nenhum momento, no entanto, ele citou as manifestações, preferindo dizer que “a sociedade, pouco a pouco, vai entendendo que é preciso apoiar este caminho para colocar o País nos trilhos”.

Em evento do Sebrae e do Banco do Brasil, por volta de meio-dia, quando as manifestações já tomavam as ruas, Temer afirmou em seu discurso que não se pode fazer uma reforma “modestíssima”. “Podemos fazer uma ou outra adaptação, o Congresso é quem está cuidando disso, mas não podemos fazer uma coisa modestíssima agora, para daqui quatro ou cinco anos, termos que fazer como Portugal, Espanha, Grécia e outros países, que tiveram de fazer um corte muito maior, porque não previram o futuro”.

Depois, Temer lembrou a aprovação da PEC do teto dos gastos e disse que seu governo tem dado “rumo às contas públicas”, imunizando o Brasil contra o “populismo fiscal”.

O Planalto acompanhou as manifestações pelo País e o presidente Temer foi mantido informado. A avaliação do governo é que as manifestações são patrocinadas por quem tem poder de mobilização, que engloba as categorias que não querem perder seus privilégios. Da mesma forma que eles têm mais poder de organização e até mesmo de faltar ao trabalho para participar de protesto, ao contrário dos demais trabalhadores. “São grupos específicos que querem manter seus privilégios”, disse um assessor presidencial. / COLABORARAM ANDRÉ ÍTALO ROCHA E ANNE WARTH

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Justiça proíbe propaganda do governo federal

Breno Pires / Rafael Moraes Moura / Isabela Bonfim

16/03/2017

 

 

A 1ª Vara Federal de Porto Alegre determinou a suspensão da veiculação de publicidade pelo Governo Federal relacionadas ao programa de reforma da previdência. A decisão foi tomada pela juíza Marciane Bonzanini, em resposta a uma ação civil pública de autoria de nove sindicatos trabalhistas do Estado.

“A campanha publicitária retratada neste feito não possui caráter educativo, informativo ou de orientação social, como exige a Constituição. Ao contrário, os seus movimentos e objetivos, financiados por recursos públicos, prendem-se à mensagem de que, se a proposta feita pelo partido político que detém o poder no Executivo federal não for aprovada, os benefícios que compõem o regime previdenciário podem acabar”, declarou a juíza em sua decisão.

A magistrada apontou, ainda, no despacho “uso inadequado de recursos públicos” e “desvio de poder que leva à sua ilegalidade”, e pediu que o Ministério Público Federal de manifeste. A multa diária para descumprimento da decisão, que é de caráter liminar, é de R$ 100 mil. A AGU já afirmou que irá recorrer da decisão. 

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45075, 16/03/2017. Economia, p. B6-B7.