Valor econômico, v. 17, n. 4231, 07/04/2017. Finanças, p. C1

Para mercado, Selic cai 1 ponto agora e pode chegar a 8% em dezembro

 

Angela Bittencourt
Lucinda Pinto

 

A reunião do Copom de abril, nos dias 11 e 12, vai acontecer num momento em que a preocupação com o rumo da reforma da Previdência subiu de tom e colocou os mercados em modo defensivo. Os juros futuros subiram, assim como o dólar, num movimento de proteção por parte dos investidores. Ainda assim, analistas do mercado acreditam que há espaço para o Banco Central acelerar o passo no corte de juros na próxima semana. E, para a maioria, há espaço para a taxa cair abaixo de 9% ainda este ano.

Levantamento feito pelo Valor com 44 economistas apontou que a maioria - 42 entrevistados - veem a Selic cair um ponto percentual, para 11,25%, na próxima reunião, o que significaria a aceleração do ritmo definido no encontro anterior - de 0,75 ponto para 1 ponto percentual. Há um economista vendo um corte mais acentuado, de 1,25 ponto, enquanto outro entrevistado prevê a repetição da dose de 0,75 ponto.

O placar dos economistas está alinhado com os preços do mercado. Os juros futuros hoje apontam 90% de chance de um corte de um ponto, ante 10% de um corte menor, de 0,75 ponto. No começo de março, o mercado chegou a arriscar apostas mais ousadas, de corte superior a um ponto, reagindo à queda das projeções de mercado para a inflação para abaixo dos 4,5%. Mas esse movimento acabou sendo contido pela comunicação do BC, que falou em "aceleração moderada do ritmo de flexibilização".

Após o encerramento da pesquisa, o economista da BBM Tomas Brisola informou ao Valor que trabalha com um cenário mais ousado para a política monetária, de corte de 1,5 ponto já neste encontro de abril. No fim do ciclo, a taxa pode estar na casa dos 8%. Segundo Brisola, a política monetária é o único instrumento à mão da equipe econômica do presidente Michel Temer para tornar a "economia estimulativa".

A correção da projeção para inflação no cenário de referência do BC, feita nesta semana, contida no Relatório de Inflação, não alterou as expectativas, nem do mercado nem dos economistas. Com a alteração, a estimativa para o cenário com taxas de juros e câmbio constantes para 2017 caiu de 3,9% para 3,6% e, para 2018, de 4% para 3,3%.

A principal mudança em relação à pesquisa anterior, sobre a reunião de fevereiro, diz respeito ao tamanho do ciclo. Antes, a maioria das estimativas estava na casa dos 9%. Desta vez, as previsões se concentraram na linha dos 8%: 34 entrevistados preveem um juro entre 8% e 8,75% no fim deste ano, sendo que a maioria (17) trabalha com Selic a 8,50%. Ninguém na pesquisa acredita que o juro encerrará 2017 em dois dígitos.

Caso a previsão da maioria se confirme e o juro encerre 2017 em 8,5%, o juro real vai cair para 4%. Isso considerando uma inflação acumulada em 12 meses em 4,56%, como preveem os economistas ouvidos pelo Valor Data. Essa taxa pode estar levemente abaixo do que analistas estimam ser o juro neutro de equilíbrio, aquele que permite crescimento sem gerar inflação. Mas, se a expectativa mais otimista, de juro a 8%, prevalecer, então esse juro neutro cede ainda mais, e vai para perto de 3%, confirmando um cenário de política monetária mais expansionista. Hoje, o juro real está em 4,77%.

A queda das expectativas de inflação na pesquisa Focus, atualmente em 4,10% para 2017 e em 4,50% em 2018, sustentada pelo bom desempenho da inflação corrente, é o pano de fundo para esse movimento. Trata-se de uma rara situação que coloca à mesa o risco de o BC descumprir a meta, por deixar a inflação escorregar para baixo.

"Nossa projeção para o IPCA deste ano é de 4%, com baixa probabilidade de fechar abaixo de 3% [limite inferior da banda da meta]", afirma o economista-chefe da Superintendência de Economia da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, que vê a Selic a 9% no fim de 2017 e a 8,25% no encerramento de 2018.

Gustavo Arruda, economista do BNP Paribas, que espera um IPCA de 4%, acredita que o juro pode cair mais intensa e rapidamente, a 8% neste ano.

"Se esse risco se materializar seria muito bom. Entregar uma inflação abaixo da meta este ano seria uma bela notícia e um evento de grande impacto social", diz Alberto Ramos, diretor do grupo de Pesquisas Econômicas para América Latina do Goldman Sachs. Ele diz que a meta de inflação em 4,5% "significa que em 50% do tempo, a inflação deveria ficar abaixo da meta". "Depois de atravessar uma depressão econômica (recessão que já dura 11 trimestres), com desemprego acima de 13%, e com um choque de oferta muito favorável sobre preço de alimentos, este seria um belíssimo ano para entregar uma inflação abaixo de uma meta de 4,5%, uma meta que é extremamente alta e fora do padrão internacional", afirma.

Essa visão de que o IPCA caminha hoje para baixo desse ponto levou o próprio Banco Central a sinalizar, no Relatório de Inflação, que há espaço para uma "aceleração moderada da flexibilização monetária", consolidando a aposta em corte de um ponto na semana que vem.

O risco desse cenário benigno - em que inflação e juros caem - é a reforma da Previdência não se concretizar. Mas, sobre isso, a visão geral ainda é de que as mudanças fundamentais devem ser aprovadas, sem prejudicar o rumo da política monetária. "Avaliamos que o risco seria a aprovação de uma reforma da previdência muito diluída, com menos de 60% do texto originalmente enviado aprovado, mas esse não é nosso cenário-base e acreditamos que a reforma da Previdência será aprovada de maneira positiva", afirma Daniel Gomes da Silva, economista da Modal Asset.

Para Solange Srour, da ARX Investimentos, caso a reforma seja "muito desfigurada", o mercado reagirá negativamente, o risco país aumentará consideravelmente, especialmente no câmbio, com efeito sobre a inflação e as expectativas. Essa situação poderia levar o BC a interromper o ciclo de alívio monetário.