Planalto não espera impacto negativo no voto da Previdência

Júnia Gama

Cristiane Jungblut

29/04/2017

 

 

Temer lamenta bloqueios e ‘graves incidentes’ no Rio. Parlamentares rebeldes perderão cargos no governo
 

O Palácio do Planalto considerou que a greve geral convocada para ontem teve baixo engajamento e não terá influência negativa na votação da reforma da Previdência no plenário da Câmara, prevista para a segunda quinzena de maio. Em nota, o presidente Michel Temer lamentou os bloqueios para “impedir o direito de ir e vir do cidadão” e os “graves incidentes ocorridos no Rio de Janeiro”. Enquanto isso, nos bastidores, Temer iniciou uma verdadeira cruzada contra os deputados infiéis que votaram contra a reforma trabalhista na quarta-feira passada — e que já sinalizaram que devem votar contra as mudanças no sistema previdenciário. Temer deu sinal verde para uma enxurrada de exonerações de indicados a cargos federais por esses parlamentares, na próxima terça-feira, como forma de pressionar por um alinhamento mais claro na hora da votação. Calcula-se que entre 20 e 30 nomes devem ser substituídos por apadrinhados de parlamentares que votam com o governo.

A retaliação começou ontem. Um indicado do deputado Uldurico Junior (PV-BA), que votou contra a reforma trabalhista, foi exonerado do Ibama na Bahia. Segundo fontes do Planalto, o corte na terça-feira será “transversal”, ou seja, atingirá diversos partidos da base, mas a expectativa é que o PSB, que se posicionou partidariamente contra a reforma, sofra o maior número de perdas.

Em reunião com assessores ontem à tarde, Temer avaliou que a greve geral teve fraca adesão e não mobilizou a população, o que deve reduzir a pressão sobre os deputados na hora de votar a reforma da Previdência. O presidente pretendia fazer um pronunciamento sobre a greve, mas foi aconselhado por seus assessores a divulgar apenas uma nota, para não dar maior dimensão ao episódio.

No texto, Temer lamentou os bloqueios e, especificamente, os “graves incidentes” no Rio. Ele reafirmou o compromisso com a “modernização da legislação nacional” e destacou que o trabalhador brasileiro “luta intensamente nos últimos meses para superar a maior recessão econômica” que o Brasil já enfrentou e disse que as ações do governo visam a levar o país “aos trilhos do desenvolvimento social e do crescimento econômico”.

Para Temer, é preciso aguardar o fim de semana e o 1º de maio — até ontem, o presidente não tinha compromissos oficiais para a data —, mas, por enquanto, a sensação é de alívio com o que considera a baixa repercussão do movimento. Apesar de acreditar que conseguirá aprovar a reforma da Previdência, o Planalto continua cauteloso em relação à votação. Para aprovar o texto serão necessários 308 votos, e a avaliação, no momento, é que ainda não é possível assegurar que o governo terá os mesmos 296 votos obtidos na reforma trabalhista. A ordem é não subir no salto alto e manter um trabalho intenso e diário junto aos líderes e deputados da base.

A planilha de cortes dos chamados infiéis está sendo definida em conjunto pelo presidente da República, o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, e o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). As exonerações, no entanto, não serão irreversíveis. O governo pretende continuar aberto ao diálogo com esses parlamentares, e eles poderão se redimir caso se comprometam a votar a favor da reforma da Previdência.

Imbassahy disse ao GLOBO que as exonerações são resultado de um pleito dos deputados da base que votam com o governo. Esses parlamentares têm levado ao Planalto reclamações de que não é justo colegas que votam contra as matérias de interesse do governo manterem cargos na máquina pública. E ameaçam se rebelar caso não sejam tomadas providências.

— Vários parlamentares vieram reclamar do comportamento de outros que têm recebido a atenção do presidente e recursos orçamentários e, mesmo assim, vêm votando contra o governo. Muitos estão indignados e colocam essas exonerações como fundamentais, para que a base não se contamine com esses exemplos desagradáveis. Queremos incluir, e não excluir. Mas, ou tomamos uma medida, ou perdemos aqueles que estão sendo fiéis — afirmou Imbassahy. Ribeiro usou argumentos semelhantes: — Esse é o momento de diálogo com os parlamentares para ampliar a base. Esses ajustes são necessários para consolidar essa reorganização da base. Tem uma cobrança dos próprios deputados da base para que sejam feitos esses ajustes. E é justa essa cobrança. Estar participando do governo com posições contrárias na hora de votar é, no mínimo, incoerente.

COMISSÃO SERVIRÁ DE TERMÔMETRO

A votação na comissão especial, marcada para a próxima quarta-feira, servirá de termômetro para o governo sobre a posição dos aliados. A partir daí, o Planalto vai definir se mantém a data prevista para o texto ir a plenário ou se pede algum adiamento, caso considere que é preciso conquistar mais votos. A posição dos parlamentares está sendo mapeada pela Casa Civil, mas o governo só pretende arriscar um placar após a votação na comissão especial. No colegiado, não está descartada movimentação de peças, ou seja, substituição de deputados que tenham dificuldades de votar com o governo.

Temer também resolveu reforçar o time da articulação na Câmara para as próximas votações e para acomodar os partidos e tentar obter os votos para aprovar a reforma da Previdência. O cronograma em plenário já foi adiado para depois do dia 15. O presidente formalizou a indicação de novos vice-líderes na Casa, entre eles o seu ex-assessor deputado Rocha Loures (PMDB-PR) e o deputado Beto Mansur (PRBSP), que auxilia o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), nos momentos de votação. Mansur, já um dos vice-líderes, defendeu que os parlamentares infiéis percam seus cargos no governo:

— Essa troca dos vice-líderes já estava prevista, o presidente Michel (Temer) apenas formalizou. Já estávamos atuando. Mas eu defendo, e já disse isso ao Planalto, que o presidente tire os cargos daqueles que votaram contra.


“Vários parlamentares vieram reclamar do comportamento de outros que têm recebido a atenção do presidente e, mesmo assim, vêm votando contra o governo” Antonio Imbassahy Ministro da Secretaria de Governo

O globo, n.30581 , 29/04/2017. Economia, p. 22