DESEMPREGO SOBE E ATINGE 14,2 MILHÕES

Lucianne Carneiro

Cássia Almeida

29/04/2017

 

 

Contingente é o maior desde 2012. Em um ano, 1,2 milhão perdeu o emprego com carteira assinada

O país tem um contingente de 14,2 milhões de desempregados, o que representa 13,7% da força de trabalho, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) divulgada ontem pelo IBGE. O número de pessoas trabalhando (88,9 milhões) e o de empregados com carteira assinada (33,4 milhões) são os menores da série histórica, iniciada em 2012. Só no primeiro trimestre de 2017, 1,3 milhão de tralhadores perderam vagas, sendo que 600 mil tinham carteira assinada. O primeiro trimestre do ano do mercado de trabalho brasileiro foi o pior desde 2012. São 14,2 milhões de desempregados, que representa 13,7% da força de trabalho em busca de uma vaga, e o menor patamar de trabalhadores com carteira assinada, numa sequência de números negativos pouca vista na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada ontem pelo IBGE.

—É o pior momento, principalmente para o emprego com carteira. Mesmo que haja o efeito sazonal (as pessoas voltam a procurar trabalho no início do ano depois dos feriados de fim de ano, e os temporários contratados são dispensados), ele só potencializou o problema no mercado de trabalho — afirmou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

O contingente de desempregados aumentou em 1,8 milhão de pessoas apenas nos primeiros três meses do ano. Destes, 1,3 milhão perdeu a vaga no primeiro trimestre e outras 519 mil pessoas entraram no mercado à procura de vaga. O número é quase o dobro quando a comparação é feita com o início do ano passado. Nesse período, mais 3 milhões de pessoas ficaram desempregadas, numa alta de 27,8%. Destas, 1,2 milhão tinha carteira assinada.

— Dos que foram demitidos, mais de 70% tinham carteira assinada. São pessoas que perderam proteção social, plano de saúde e até passaporte para o crédito. A queda do emprego com carteira foi o primeiro sinal da crise no mercado e será o último a se recuperar — afirma Azeredo.

Com a dispensa de 600 mil trabalhadores formais em relação ao último trimestre de 2016, há hoje 33,4 milhões de pessoas com carteira, o menor nível desde 2012. Atualmente, 43,5% dos ocupados são informais.

A taxa de desemprego de 13,7% também é recorde negativo da série histórica do IBGE, que começou em 2012. O avanço é forte em relação ao primeiro trimestre de 2016 — quando estava 10,9% — e ao quarto trimestre de 2016 — quando chegou a 12%.

Pelos cálculos da Rosenberg Associados, que usou pesquisas anteriores à Pnad, a taxa de desemprego é a maior desde setembro de 2004, há 13 anos.

“Nossa expectativa é de continuidade da piora da taxa de desocupação, atingindo 13,9% no segundo trimestre e 13,6% no terceiro. Na média do ano, esperamos que a taxa de desocupação fique em 13,5%”, informou a Rosenberg em relatório. No ano passado, a taxa ficara em 11,5%.

Alberto Ramos, chefe da área de pesquisas econômicas do Goldman Sachs, também vê piora a curto prazo, até que a economia mostre sinais mínimos de crescimento que possam ajudar a absorver novos trabalhadores e, com isso, estabilizar a taxa de desemprego. “Esperamos que o mercado de trabalho se estabilize durante o segundo semestre e comece a se recuperar no fim do ano”, afirmou Ramos em relatório a clientes.

Os dados sobre o mercado de trabalho no primeiro trimestre mostraram queda no número de trabalhadores na indústria e na construção. Na indústria, a redução foi de 2,9% frente ao primeiro trimestre de 2016 — 342 mil pessoas a menos —, mas em ritmo menor na comparação com o quarto trimestre, de 0,3% ou 32 mil trabalhadores.

Para o Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial (Iedi), o número do setor trouxe alento: “É primeira vez depois de meados de 2015 que a indústria não lidera a redução de vagas, funcionando como o principal motor da desocupação”.

RENDA ESTÁVEL

No setor de construção, a queda foi maior, de 9,5% frente ao primeiro trimestre de 2016, de 719 mil pessoas. Na comparação com o quarto trimestre, o recuo chegou a 3,4%, de 242 mil trabalhadores.

Na forma de inserção no mercado, apenas o trabalho familiar, sem remuneração, subiu no início do ano. Em todas as outras formas — com carteira, sem carteira, conta própria, funcionário público, domésticos e empregadores — houve queda.

Segundo o IBGE, a renda média ficou em R$ 2.110, que é considerada estável frente ao trimestre anterior (R$ 2.064) e em relação ao primeiro trimestre de 2016 (R$ 2.059). Segundo Azeredo, do IBGE, essa estabilidade veio da inflação menor e de “trabalhadores que ganham menos sendo demitidos”.

O globo, n.30581 , 29/04/2017. Economia, p. 25