Duque pede novo interrogatório e promete colaborar com a Justiça

Cleide Carvalho

28/04/2017

 

 

Condenado a 57 anos de prisão, ex-diretor da Petrobras estava em silêncio

 

Na corrente de nova leva de delações, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque — acusado de intermediar cobrança de propina para o PT, já condenado — pediu ao juiz Sergio Moro um novo interrogatório, que vai ocorrer na sexta-feira da próxima semana, para colaborar com a Justiça. A petição foi apresentada ontem. Duque tentava, sem sucesso, fechar acordo de delação premiada com a forçatarefa do Ministério Público Federal (MPF) e, até hoje, sempre se manteve em silêncio durante os depoimentos. A intenção de Duque se segue à delação do expresidente da OAS Léo Pinheiro, na semana passada, e ao desejo manifestado pelo ex-ministro Antonio Palocci de apresentar novas contribuições às investigações da Lava-Jato.

Na petição, Duque afirma que, “livre de qualquer tipo de coação física ou mental”, deseja colaborar com a Justiça na investigação dos fatos relacionados ao inquérito em que Palocci é acusado de gerenciar uma conta-corrente de propina da Odebrecht para o PT e de determinar pagamentos ao publicitário João Santana no exterior.

 

DELATADO POR COSTA

Duque já foi condenado na Lava-Jato, em primeira instância, a 57 anos de prisão e responde a seis ações em andamento — uma delas é a que envolve o exministro Palocci.

O ex-diretor da área de Serviços da Petrobras foi delatado pela primeira vez pelo ex-diretor da área de Abastecimento Paulo Roberto Costa. Ao ser preso e decidir pelo acordo de colaboração, Costa contou que os diretores da Petrobras ocupavam seus postos por indicações políticas, em troca de fazer arrecadação para os partidos nos contratos da estatal. A área de Costa respondia inicialmente ao PP, e Duque, afirmou, era o representante do PT.

Ao contrário de Duque, Palocci não ficou calado no depoimento a Moro e negou que tenha determinado pagamento a João Santana no exterior. Palocci admitiu a existência de caixa 2 nas campanhas dos partidos e que sabia que a Odebrecht havia provisionado valores para contribuir com a campanha petista. Durante a audiência, ele manifestou a intenção de colaborar e disse que daria à LavaJato mais um ano de trabalho, pelo menos, depois de mencionar, sem citar nomes, a participação de importante figura do mercado financeiro na arrecadação de campanhas.

Palocci contratou também advogados especialistas em delação premiada para iniciar as negociações. O advogado dele, José Roberto Batochio, disse ontem que seu escritório não trabalha com causas que envolvem delação.

O globo, n.30580 , 28/04/2017. País, p. 4