CENTRAIS AMEAÇAM GREVE. PROTESTO ‘É CONTRA CRESCIMENTO’, DIZ MINISTRO

Roberta Scrivano

Leticia Fernandes

28/04/2017

 

 

Segundo órgãos de inteligência, transporte deve ser o setor mais afetado

As principais centrais sindicais ameaçam realizar greves hoje em pelo menos 60 cidades do país, em protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência, que estão em tramitação no Congresso. O governo vem monitorando de perto as convocações para a greve e, até agora, a avaliação no Planalto é que os grupos tentarão paralisar os transportes nas grandes cidades, dificultando assim o deslocamento dos trabalhadores, para criar uma impressão de adesão maior ao movimento.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse ontem que essas manifestações são “parte do jogo democrático”. Na sua opinião, porém, a greve vai contra o crescimento do país, já que as reformas, sobretudo a da Previdência, são necessárias para reequilibrar as contas públicas:

— Acho que é uma greve que vai contra os interesses de você voltar a crescer, o Brasil precisa dessa reforma (da Previdência) para equilibrar suas contas e voltar a crescer, mas greves fazem parte do jogo democrático, óbvio que dentro do respeito da ordem da lei.

 

GUERRA DE LIMINARES

Desde ontem, a Força Nacional está mobilizada em Brasília para proteger o prédio do Ministério da Justiça. A tropa poderá intervir no entorno de outros edifícios federais, caso haja solicitação de ministros, segundo a pasta. Uma foto da Força Nacional em Brasília viralizou nas redes sociais ontem. Nas imagens, entre os itens manuseados pelos agentes, estão embalagens de gás. Segundo o Ministério da Justiça, não é possível confirmar se a imagem é mesmo de ontem, mas a pasta explicou que esses são equipamentos de proteção individual usados pelos agentes.

No Rio de Janeiro, segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT), 34 categorias vão aderir à paralisação. Em São Paulo, metroviários, ferroviários da CPTM e motoristas de ônibus vão cruzar os braços. A convocação de greve mobilizou uma batalha jurídica entre sindicatos patronais, órgãos do governo e centrais.

Em São Paulo, o governo estadual obteve liminar do Tribunal Regional do Trabalho determinando aos metroviários e ferroviários a manutenção de um efetivo mínimo de 80% trabalhando nos horários de pico. Os sindicatos que descumprirem a decisão, de acordo com a liminar, deverão arcar com uma multa no valor de R$ 937 mil. Mas o sindicato da categoria já recorreu da decisão, alegando garantia ao direito de greve previsto na Constituição, e disse que a paralisação está mantida.

A Advocacia Geral da União (AGU) obteve liminar que proíbe que a Rodovia Presidente Dutra seja fechada durante os atos. Segundo a AGU, cada pessoa que descumprir a determinação pagará multa de R$ 10 mil. Em São Paulo, motoboys ameçam fazer barricadas nas principais avenidas, disse Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT). As rodovias mais importantes do país devem ser fechadas pelos caminhoneiros, contou Paulinho da Força.

O Sindicato dos Bancários do Rio obteve liminar contra a decisão da diretoria da Caixa de descontar o dia não trabalhado na greve de hoje.

 

AEROVIÁRIOS VÃO PARAR

Em nota, o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, diz que a greve é legítima e “um direito fundamental assegurado pela Constituição Federal”.

Aeroviários — que trabalham em solo nos aeroportos — também farão greve. O Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos, em São Paulo, solicitou auxílio do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que poderá fazer bloqueios nos acessos as aeroportos do país, os de Congonhas e Guarulhos. Já os aeronautas, que são os pilotos e comissários, optaram por não aderir à paralisação. Para contornar possíveis problemas com os voos rapidamente, a Aeronáutica acionou seu gabinete de crise. As maiores preocupações são com os aeroportos de São Paulo, Rio e Brasília.

O globo, n.30580 , 28/04/2017. Economia, p. 18