Valor econômico, v. 17, n. 4233, 11/04/2017. Política, p. A6

Alckmin ganha apoio e Doria promete trabalhar para impedir eleição de Lula

 

Fernando Taquari
Sérgio Ruck Bueno
 

Em um dia de afirmação de sua pré-candidatura à Presidência em 2018, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) ganhou ontem o apoio de aliados inesperados e deixou a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), onde fez palestra para empresários, com a promessa de suporte em sua caminhada rumo às eleições de 2018. Cada vez mais mencionado para concorrer ao mesmo cargo, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), antagonizou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em evento com empresários em Porto Alegre. Doria e Alckmin começaram o dia juntos, na sede do governo estadual.

Presente ao evento, o ex-deputado mineiro Pimenta da Veiga, que foi presidente nacional da sigla, afirmou em entrevista ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, ser contra uma eventual candidatura de Doria ao Planalto.

"Acho que ele [Doria] deveria cumprir o mandato dele na Prefeitura de São Paulo. Ele está começando muito bem uma carreira política que pode se tornar em algo muito sólido. Mas não deve precipitar os fatos deixando de cumprir o mandato até o final. É jovem ainda", disse o aliado do atual presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), outro potencial candidato em 2018.

Pimenta da Veiga considera prematuras as discussões no PSDB sobre 2018. "Não há um debate organizado sobre a eleição do ano que vem. Até porque existem fatores que desaconselham uma posição antecipada. É preciso ver como evoluem os fatos para saber quais são os nomes viáveis", afirmou o ex-deputado sem mencionar as investigações da Lava-Jato contra lideranças do PSDB, como Aécio, Alckmin e o senador José Serra (SP).

Presidenciáveis, os três tucanos devem aparecer na lista que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) com pedidos de abertura de inquérito. Questionado especificamente sobre o impacto das investigações sobre as pretensões do mineiro, Pimenta disse que o Ministério Público tem poder de desmontar qualquer candidatura. "Ao denunciar, sabendo que não haverá prazo para que a pessoa seja declarada inocente antes as eleições, o MP alija do páreo quem quiser", disse o tucano.

Durante o evento, Alckmin foi alçado à condição de "melhor e mais capacitado" candidato ao Planalto pelo vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alfredo Cotait. "Sem dúvida nenhuma, é um nome que nós contamos para dar continuidade às reformas que estão sendo feitas pelo Temer, disse Cotait. "Nós aqui pensamos no Brasil. E pensando no Brasil nós temos que pensar nos homens de bem para dirigir o Brasil. E neste momento estamos precisando do senhor", acrescentou sob aplausos.

Ao defender de forma enfática as pretensões eleitorais do governador, Cotait ainda criticou possíveis "aventuras", sem explicitar a quem se referia. "Temos que manter as regras da democracia e o político mais tarimbado e mais em condições em dar continuidade é o senhor. Portanto, saia daqui hoje sabendo que esta casa está pronta para trabalhar para o senhor", declarou. A manifestação de apoio causou desconforto entre alguns conselheiros, que em conversas paralelas ao fim do evento, ressaltavam o caráter apartidário da entidade.

Alckmin e Doria estiveram juntos pela manhã, quando realizaram a segunda reunião entre os secretários municipais e estaduais para ações de integração entre o governo e a prefeitura. As novas parcerias, que somaram convênios de R$ 45 milhões, foram anunciadas em conjunto. Os dois revezaram-se no microfone em mais um esforço para demonstrar união.

Alckmin procurou ser gentil ao fim da coletiva quando questionado se Doria seria uma boa opção para a sua sucessão no Palácio dos Bandeirantes. "Ótimo candidato", disse o governador depois de hesitar se responderia ou não.

Em Porto Alegre, Doria usou a palestra inaugural que fez da 30ª edição do Fórum da Liberdade, promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE), para desferir ataques a Lula e ao PT. Voltou a negar que será candidato à Presidência da República em 2018, mas questionado se aceitaria um pedido neste sentido de Alckmin saiu pela tangente.

"Ele não pediria isto; o governador é um democrata e não cabe a um governador pedir isto", afirmou o prefeito em rápida entrevista. Doria disse que vai trabalhar para impedir que Lula seja eleito em 2018 oferecendo exemplos de "boa gestão, aquilo que o PT não sabe fazer".

Diante de uma plateia entusiasmada, incluindo políticos locais do PSDB e o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, Doria atacou o "descalabro" do país provocado pelo "desastre" das administrações de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele ainda voltou a dizer que espera um dia "levar chocolate ao ex-presidente Lula em Curitiba", numa alusão às investigações contra o petista no âmbito da Operação Lava-Jato.

"Este cidadão que quase destruiu o Brasil diz que vai voltar para salvar o Brasil", disse o prefeito, em outra alusão ao ex-presidente. "Vou usar toda a minha força como cidadão para dizer: Lula, você não é salvador de nada", acrescentou o prefeito.

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Petistas divergem sobre eleição no partido

 
 

Mesmo sem a conclusão da apuração, a primeira etapa da eleição do novo comando do PT já é alvo de divergências internas dentro do partido. Um dos líderes do movimento de oposição interna, o Muda PT, o secretário nacional de Formação, Carlos Henrique Árabe, responsabilizou ontem a corrente majoritária - Construindo um Novo Brasil (CNB) - pela baixa participação de militantes nas eleições ocorridas no domingo.

Segundo estimativa preliminar da cúpula do PT, pouco mais de 200 mil militantes participaram da escolha de seus dirigentes e delegados municipais.

Esse total representa menos da metade do número de votantes do Processo Eleitoral Direto (PED) de 2013. Há quatro anos -pouco antes da explosão da Operação Lava-Jato - o quorum superou 420 mil.

"Essa queda geral a 50% é de responsabilidade da CNB", acusou Árabe, para quem o atual comando não faz uma autocrítica acerca de seus procedimentos. "Eles se negam a reconhecer que existe uma crise", acrescentou.

Árabe reclama também do fato de o senador Lindbergh Farias (RJ) não ter votado na véspera porque pagou sua contribuição partidária no dia 28 de março.

Para ter direito a voto, os detentores de mandato, ocupantes de cargos comissionados e candidatos nas eleições internas, teriam que pagar sua contribuição partidária até o dia 20 de março. Do contrário, não poderiam votar.

Candidato à presidência do PT, Lindbergh não pode votar e alega não ter sido avisado dos prazos para participação no PED. Presidente do PT do Rio, Washington Quaquá diz que os prazos para participação no PED eram públicos.

A futura direção é a que comandará o partido nas eleições presidenciais de 2018. Seu mandato será de dois anos.