Título: Temporais deixam Rio e Minas em alerta
Autor: Gama, Júnia ; Amado, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 03/01/2012, Brasil, p. 6

Deslizamentos de terra, desabamentos de casas e ruas inundadas marcam os primeiros dias do ano nos dois estados. O mau tempo também prejudicou o funcionamento de aeroportos pelo país

Belo Horizonte e municípios da Região Serrana do Rio de Janeiro estão em estado de alerta devido às fortes chuvas registradas desde o último sábado. Na capital mineira, Janílson Aparecido Moraes, 46 anos, morreu, na madrugada de ontem, no desabamento dos dois blocos do prédio onde morava, no Bairro Caiçara, Região Noroeste da cidade. A tempestade, que continuou por boa parte do dia, derrubou árvores, provocou inundações e deslizamento de barreiras e complicou a vida dos moradores de Belo Horizonte no primeiro dia útil de 2012.

As chuvas também têm provocado caos em aeroportos, causando cerca de 50% de atraso em voos em Brasília e na capital carioca. No Rio de Janeiro, cerca de 300 moradores das cidades da região serrana tiveram de deixar suas casas e se dirigir a alojamentos providenciados pela Defesa Civil. Ao longo do período de chuvas, um sistema de alarmes com sirenes dispara cada vez que o índice pluviométrico atinge um nível de alerta. Em Nova Friburgo, município carioca mais afetado até o momento, desde a tarde de domingo, as sirenes têm tocado a cada 15 minutos. O sinal indica que os moradores deixem suas casas para evitar novas vítimas. Em Miguel Pereira, centro-sul fluminense, um idoso morreu após um barranco cair sobre sua casa.

Segundo o engenheiro civil Alexandre Conti, o governo não tomou providências suficientes para evitar que uma nova catástrofe se repita neste ano. Para ele, o nível de realização das obras de drenagem dos rios assoreados e de contenção das encostas para que não desabem está longe de ser adequado. "Depois do desastre no ano passado, muita coisa ainda não foi feita. Houve muito desvio de verbas que deveriam ser destinadas às obras, um verdadeiro oba-oba com o dinheiro liberado porque os gastos não precisavam ser justificados em situações de emergência", lamenta, referindo-se aos desvios de recursos que deveriam ser destinados ao socorro das vítimas em Teresópolis e em Nova Friburgo, onde quase mil pessoas morreram por conta das enxurradas em janeiro de 2010.

Alexandre Conti conta que os trabalhos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e da Defesa Civil do Rio de Janeiro apresentaram evolução em relação ao ano passado, com a preparação de planos de contingência. Mas, segundo ele, essas ações não serão suficientes. "É um cenário muito complicado, pessoas morando em áreas de risco. Não está descartada uma tragédia como a que ocorreu no ano passado", diz. O engenheiro destaca ainda que uma ação fundamental, o mapeamento das áreas de risco, é muito incipiente no país.

Além das capitais No interior de Minas Gerais, o cenário de morte e destruição se repete. Em Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata, Maria de Lourdes Estevão Rocha, 78 anos, perdeu a vida soterrada por um deslizamento de barranco. Segundo a Defesa Civil, subiu para quatro o número oficial de vítimas das chuvas no estado desde outubro. O corpo de uma mulher de 74 anos, arrastada pela enxurrada, na última sexta-feira, em Santo Antônio do Rio Abaixo, na Região Central, continua desaparecido.

No estado, a chuva atingiu 102 municípios, 46 dos quais decretaram situação de emergência. A Grande BH, a Região Central e a Zona da Mata foram as regiões mais castigadas pelo temporal. Em Contagem, no começo da manhã, duas casas desabaram no Bairro Bandeirantes. Nove pessoas estavam nos imóveis na hora do acidente e foram socorridas. Em Betim, no fim da tarde, três pessoas foram resgatadas depois de soterradas por um deslizamento de barranco.

Obras em curso A Secretaria de Obras do Rio de Janeiro, acusada por especialistas de não executar as reformas necessárias para evitar novas tragédias, afirma que as obras do governo estadual "seguem em rumo normal" e que as áreas identificadas para as obras de contenção "foram priorizadas pelas prefeituras". "O governo fluminense está buscando recursos do Tesouro estadual, junto ao governo federal e por meio de parcerias, para ampliar o número de contenções nas sete cidades atingidas pelas chuvas", informa o órgão, por meio de nota, completando que as obras de prevenção são de responsabilidade das prefeituras.

Cobertura em Minas: Guilherme Paranaíba, Mateus Parreiras, Valquiria Lopes, Paula Sarapu, Paola Carvalho, Landercy Hemerson, Amanda Almeida, Daniel Camargos e Celina Aquino