Palocci agora terá advogados especialistas em delação

Gustavo Schmitt e Cleide Carvalho 

27/04/2017

 

 

Contratação indica que acordo de colaboração premiada com o MPF está cada vez mais próximo

Adriano Bretas fará defesa do petista, e o criminalista Tracy Reinaldet deverá negociar detalhes do acordo que pode ser fechado com a Justiça

-CURITIBA E SÃO PAULO- Aumentando o grau de preocupação do PT e também do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o exministro Antonio Palocci contratou advogados especialistas em delação premiada. Adriano Bretas assumiu a defesa do petista, e o criminalista Tracy Reinaldet deverá conduzir a negociação do acordo. Os dois atuam em parceria no caso.

Em depoimento ao juiz Sergio Moro, na última quinta-feira, Palocci havia sinalizado que pode municiar a Lava-Jato com novas informações, como “nomes, endereços e operações realizadas”, capazes de “dar mais um ano de trabalho”.

Ele deu a entender que falaria sobre a participação de uma importante figura do mercado financeiro no financiamento de campanhas políticas. O ex-ministro não detalhou o caso sob a alegação de que estava participando de audiência pública. Quando firmados com o Ministério Público Federal, os acordos de colaboração ficam sob sigilo.

Atual advogado de Palocci, José Roberto Batochio afirmou em nota que, até o fim da tarde de ontem, não havia sido comunicado de qualquer decisão do ex-ministro no sentido de celebrar acordo de delação premiada e nem da contratação de advogado para esse fim. E ressaltou que seu escritório, que defende o ex-ministro, “não aceita causas com delação premiada”. Batochio participa também da defesa do expresidente Lula e do ex-ministro Guido Mantega.

Palocci é o primeiro da cúpula petista a sinalizar com a possibilidade de dizer o que sabe. Até agora, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, condenado a mais de 40 anos na Lava-Jato, se manteve em silêncio. O ex-ministro José Dirceu também cumpre pena sem se manifestar sobre a participação de outros integrantes do partido no esquema de corrupção investigado.

Na semana passada, depois que o empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, disse que o tríplex do Guarujá pertencia ao ex-presidente Lula, Batochio teria começado a reavaliar sua participação na defesa dos petistas. Pessoas próximas admitiam a possibilidade ele se afastar até mesmo da defesa de Lula.

Crítico contumaz das delações premiadas, Batochio temia se ver em meio a um dilema ético de ter um cliente acusando o outro. Com a expectativa de Palocci firmar acordo de colaboração, o advogado teria que desqualificar o depoimento do ex-ministro, caso viesse a ser revelado algum fato que possa atingir Lula ou Guido Mantega. Palocci foi cliente do criminalista em diversas outras ações nos últimos anos.

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Engenheiro da OAS cita pedidos de dona Marisa 

27/04/2017

 

 

Paulo Gordilho diz a Moro que operários do tríplex vieram de Salvador

“Tinha um prazo de entregar essa cozinha antes do (dia de ) São João, então ela foi feita a toque de caixa”

Paulo Gordilho

Engenheiro da OAS

-SÃO PAULO- Em depoimento ao juiz Sergio Moro, o engenheiro da OAS Paulo Gordilho detalhou ontem que a ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em fevereiro deste ano, fazia pedidos a ele por meio de Fernando Bittar, a pessoa em nome de quem o sítio de Atibaia (SP) está registrado em cartório. Em depoimento na semana passada, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro havia dito que a família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha o interesse em passar as festas de fim de ano no tríplex do Guarujá, também em São Paulo.

Segundo Gordilho, os funcionários que fizeram a obra pela OAS vieram de Salvador. O juiz Sergio Moro questionou o arquiteto sobre uma troca de mensagens na qual o arquiteto afirmou que os trabalhadores ficaram hospedados no sítio e que “a Dama me pediu isto para não ficarem na cidade”.

— Certamente para o pessoal não ficar na cidade conversando — respondeu Gordilho sobre o possível motivo para a recomendação de Marisa Letícia. — Apenas porque também esse pessoal, dormindo no sítio, não tinha que ficar transportando da cidade para o sítio todo dia. E porque saía mais ligeiro, tinha um prazo de entregar essa cozinha antes do São João, então ela foi feita a toque de caixa.

Paulo Gordilho ainda foi responsável pelos pagamentos à empresa Kitchens, contratada para a construção das cozinhas planejadas instaladas tanto no sítio de Atibaia como no tríplex do Guarujá. O valor dos móveis para o sítio em Atibaia chegou a R$ 170 mil. Segundo o arquiteto, o pagamento foi feito em dinheiro. O valor em espécie foi entregue pelo próprio Paulo Gordilho após a demora para que os funcionários da Kitchens buscassem os valores na sede da OAS.

— O dinheiro foi oriundo da OAS. Eu liguei para a Kitchens para buscarem o dinheiro e não ia, não ia, não ia. Liguei para o senhor Fernando Bittar para ele pegar e ir pagar, porque estava tudo no nome dele. E o tempo estava passando, São João não muda de posição e ia terminar não dando tempo — disse o engenheiro da OAS.

Gordilho, então, pegou os valores e levou à Kitchens.

— Não deveria fazer, porque ficar andando em São Paulo com 170 mil (reais)... — afirmou.

As perguntas sobre o sítio em Atibaia geraram reclamações dos advogados do ex-presidente Lula, uma vez que a ação aborda apenas as reformas feitas no tríplex em Guarujá. Ao responder sobre os pagamentos no sítio de Atibaia, o próprio arquiteto ironizou a pergunta feita.

— Apesar desse assunto não ser Atibaia... Que aí fica essa mistura de assuntos.

 

O globo, n. 30579, 27/04/2017. País, p. 6