Jaques Wagner diz não temer delação de Palocci: ‘Virou moda’

Luiza Bandeira 

15/05/2017

 

 

Em Oxford, ex-ministro afirma estar ‘muito à vontade’ com citações

-OXFORD- O ex-ministro Jaques Wagner (PT) disse ontem, em Oxford, na Inglaterra, não temer uma eventual delação do também ex-ministro Antonio Palocci, preso em Curitiba suspeito de recebimento de propina. O petista recentemente trocou de advogado, sinalizando que deve fechar um acordo de colaboração premiada com os procuradores responsáveis pela força-tarefa da Operação Lava-Jato.

— Eu não tenho temor nenhum. Quem pode ter temor é quem se relacionou com ele e que eventualmente tenha algo a esconder. Eu pessoalmente não tenho — disse o ex-chefe da Casa Civil de Dilma.

Uma possível delação de Palocci, exministro da Fazenda durante o governo Lula e da Casa Civil no primeiro governo de Dilma Rousseff, provoca apreensão na política e na área econômica.

— Ele, como ministro da Fazenda, se relacionava muito com o setor financeiro, mas eu não estou acusando ninguém, não estou dizendo que a delação vai por aí. Eu sinceramente não sei — afirmou Wagner.

Ao deixar o caso de Palocci, o advogado José Roberto Batochio, que também defende o ex-presidente Lula, disse em nota que seu cliente havia iniciado “tratativas para celebração do pacto de delação premiada com a força-tarefa da Lava-Jato”. Wagner disse não saber se isso ocorrerá, mas afirma que o mecanismo está em alta:

— Virou uma moda a questão da delação, ou quase que o único caminho de salvação. As pessoas, para não ficarem presas, delatam. Se é verdade ou não, tem que provar. Eu estou muito à vontade nos casos em que eu sou citado.

Palocci está preso desde setembro de 2016 e foi um dos principais alvos da delação da Odebrecht. Para que o acordo de delação seja aceito pelo Ministério Público Federal (MPF), ele precisa apresentar novas informações aos investigadores da Lava-Jato. Wagner também foi citado por delatores da empreiteira.

As declarações do ex-ministro foram dadas após sua participação em debate no “Brazil Forum”, organizado nas universidades de Oxford e na London School of Economics (LSE). Em um painel, Wagner defendeu a extinção do cargo de vice:

— Vice-presidente, vice-governador e vice-prefeito só servem para tramar. Vice é gasto de dinheiro, fórum de intriga e fórum de constituição de golpe.

CIRO: “QUE SE FERREM TODOS”

O ex-ministro dividiu a mesa com o exgovernador e também ex-ministro Ciro Gomes (PDT), pré-candidato à Presidência da República. Em entrevista, Ciro repudiou o uso que está sendo feito do mecanismo de delação premiada. Para ele, a delação é apenas um dos meios de prova, e as pistas dadas precisam ser comprovadas. Ciro afirma que elas estão destruindo reputações sem provas:

— Talvez um dos maiores interessados, no Brasil, que a Lava-Jato tenha êxito sou eu. Não sou citado em lista nenhuma. Se essas listas forem apuradas e eles forem culpados, eu fico praticamente sozinho na área. Mas isso não me permite violentar minha consciência jurídica. Sobre a delação de Palocci, disse: — Eu quero é que se ferrem todos. Quem deve tem que pagar.

O juiz federal Sergio Moro estava na plateia do painel composto por Ciro, mas não permaneceu na sala na hora da fala do ex-governador do Ceará. Ele retornou para a fala do segundo participante e sentou-se ao lado do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, que também participava do debate. Em março, Ciro gravou um vídeo no qual dizia que, se Moro tentasse prendê-lo sem que ele houvesse feito algo errado, a “turma” do juiz “seria recebida na bala”.

Em entrevista depois da palestra, Ciro disse não acreditar que exista inclinação partidária na operação.

O pré-candidato disse também que a corrupção é um problema grave, mas não é o único do Brasil. Ele citou desemprego, entraves na infraestrutura e na política contra a inflação.

— Não adianta imaginar que um anjo vai cair do céu, bater o chicote e resolver — disse durante a palestra.

Depois, especificou que a fala não se referia a Moro.

 

O globo, n. 30597, 15/05/2017. País, p. 4