Suspiros 

George Vidor 

15/05/2017

 

 

Duas notícias servem como um sopro de ânimo para a economia no meio de mais delações na Operação Lava Jato que deixam qualquer um de cabelos arrepiados. A primeira, de certa forma, envolve a Lava Jato, mas já por um ângulo positivo, pois pela primeira vez a Petrobras divulga um balanço trimestral limpo de toda essa sujeira. E finalmente os lucros reapareceram nos demonstrativos financeiros da maior companhia brasileira. Ainda são resultados modestos para uma empresa cuja produção diária de petróleo passa de 2,2 milhões de barris. Mas é um alívio, significa que a política de preços para os combustíveis adotada pela Petrobras, acompanhando as cotações internacionais, é a apropriada. Evidentemente que o consumidor tem se beneficiado da fase de preços baixos preços do petróleo no mercado interacional. Isso não será para sempre.

Por outro lado, o câmbio também tem contribuído para que não haja oscilações tão bruscas nos preços internos dos combustíveis. O real tem sofrido algumas desvalorizações, mas isso se deve ao quadro político. O mercado brasileiro de câmbio é muito suscetível a movimentos especulativos, devido à elevada proporção de derivativos e negócios futuros. A parcela de compra e venda diárias de moeda estrangeira para pagamentos, remessas, turismo, etc. é relativamente pequena diante do volume de negócios futuros.

No entanto, é o considerável saldo da balança comercial que tende a garantir essa estabilidade no câmbio. Para 2017, já se projeta um saldo recorde US$ 55 bilhões, puxado pelo incremento nas exportações. Se a esse valor forem somados os investimentos diretos de capitais estrangeiros, daria com sobra para o Brasil honrar todos os seus compromissos este ano no exterior.

Só não há uma valorização do real porque a conjuntura política ainda não traz confiança na área financeira. O fluxo de câmbio (entrada e saída de moeda) tem sido positivo pelo lado comercial, em função das exportações, mas está sempre capengando no lado financeiro. Os especialistas ainda não conseguiram decifrar porque isso ocorre.

Porém, tratando-se da Petrobras, a combinação de política de preços adotada com o câmbio relativamente estável está mesmo ajudando a empresa a sair do sufoco. Evidentemente que a recuperação só virá quando a Petrobras reduzir a enorme dívida que contraiu nos tempos tresloucados. Não se sai de um quadro desses sem a venda de ativos, de patrimônio, ou passando adiante negócios que não tragam tanto retorno no curto prazo. Manter a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, não faz sentido, por exemplo. E ao que tudo indica, a Petrobras vai se desfazer dela.

A outra notícia positiva foi o primeiro aumento de arrecadação tributária no Estado do Rio de Janeiro. O fisco estadual arrecadou em abril mais ICMS, o imposto que traduz exatamente o que está acontecendo no consumo. Não houve qualquer fato extraordinário que causasse esse incremento. É cedo para sair comemorando, mas já pode ser um sinal de recuperação. A crise no Estado do Rio é traumatizante. O problema da segurança pública se agravou, serviços se deterioram, e a capacidade de investimento da máquina estadual foi a zero. A população almeja ansiosamente por algum sinal de recuperação. Tomara que já seja esse.

Pensadores

Algumas instituições, como a Fundação Getúlio Vargas, ainda formam núcleos importantes de pensamento, de maneira independente, sem vínculo político ou partidário. Amanhã, a federação que congrega essas fundações no Rio vai promover um dia de debates no Hotel Windsor na Barra. Além de representantes do BNDES e do Ipea, haverá participação, por exemplo, do ex-ministro Marcílio Marques Moreira e do professor Luiz Roberto Cunha (PUC-RJ).

Sem fim

O mundo dos aplicativos na internet não tem limites. Dois amigos, consumidores de whey protein que fazem sucesso na turma que frequenta as academias de ginástica, criaram um aplicativo só para buscar descontos na compra desses produtos, que servem como suplemento alimentar. Em poucos meses, o tal aplicativo já havia sido baixado por 12 mil seguidores.

Estão se multiplicando também os aplicativos voltados para tratamento de saúde, escolha de médicos, etc. Depois do Doutor Já, foi a vez da empresa Tecvidya lançar o Saúde Já, cujo foco é listar os profissionais de saúde que cobram pela consulta até R$ 99,00.

 

O globo, n. 30597, 15/05/2017. Economia, p. 18