Título: Operação de choque contra o jogo do bicho
Autor: Luiz, Edson ; Sene, Adaíra
Fonte: Correio Braziliense, 16/12/2011, Brasil, p. 8
Polícia prende cabeças da jogatina no Rio, no Recife, na Bahia e no Maranhão. Mais de R$ 500 mil foram apreendidos, parte deles no barracão da Beija-Flor
Uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro deu um profundo golpe na máfia do jogo do bicho e da exploração de máquinas caça-níqueis espalhada pelo país. Até o fechamento desta edição, 40 pessoas tinham sido presas, incluindo o ex-prefeito de Teresópolis Mário Oliveira Tricano. Dois dos principais acusados pelo Ministério Público de envolvimento com a jogatina, Anísio Abraão David, o Anísio da Beija-Flor, e Luiz Pacheco Drummond, o Luizinho Drummond, continuavam foragidos, assim como outras 18 pessoas. A ação teve lances cinematográficos, como a utilização de um helicóptero para que os agentes descessem de rapel na cobertura de Anísio, em Copacabana, de onde foram apreendidos obras de arte, documentos e carros de luxo.
Batizada de Dedo de Deus — nome de um ponto turístico de Teresópolis (RJ) —, a ação foi deflagrada, no início da manhã, no Rio, na Bahia, em Pernambuco e no Maranhão. Na capital pernambucana, a sócia de uma gráfica foi presa em casa, em um bairro nobre do Recife. Ela é apontada como a responsável pela produção de talonários e apontamentos do jogo para bicheiros do Nordeste e do Rio de Janeiro.
De acordo com a delegada responsável pelo cumprimento do mandado, Wedyja Andrade, da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Ordem Tributária, a pernambucana poderá responder em liberdade. "Pode ser que ela não tenha cometido todos esses crimes, mas, de alguma forma, pode ter ajudado para que eles fossem praticados. A decisão caberá ao Rio de Janeiro", concluiu. Duas pessoas foram detidas na Bahia e no Maranhão. As outras prisões ocorreram no Rio.
As buscas culminaram na apreensão de R$ 517 mil, sendo R$ 115 mil no barracão da Beija-Flor, escola que Anísio é patrono. Computadores da agremiação também foram recolhidos. De acordo com a assessoria de imprensa da escola de samba, nos equipamentos, estava toda a programação do carnaval do próximo ano. Com relação ao dinheiro levado pela polícia, a entidade informou que a quantia seria usada para o pagamento do salário dos funcionários. Durante a operação, também foram recolhidos euros, joias, veículos de luxo — quatro Mercedes estavam no apartamento de Anísio —, notas fiscais, documentos e máquinas portáteis.
Coação A investigação começou há um ano pela Corregedoria Interna da Polícia do Rio, que recebeu denúncias de que comerciantes da Região Serrana do Rio eram coagidos para a implantação de pontos de jogos de bicho. A pressão partiria do ex-prefeito de Teresópolis Mário Oliveira Tricano. Entre os envolvidos estão policiais civis e militares, três deles presos ontem. A partir disso, os investigadores começaram a reunir informações de todas as apurações relacionadas à contravenção, depoimentos de testemunhas e escutas.
O contingente de pessoas envolvidas na operação foi um dos maiores já mobilizados pela Polícia Civil carioca: 100 delegados e 700 agentes participaram das buscas, além de cinco promotores de Justiça, responsáveis pelos pedidos de prisão preventiva e pelos mandados busca telefônica.
Máquinas modernas Com o surgimento de novas tecnologias, o jogo do bicho no Rio de Janeiro começou a utilizar máquinas de última geração para efetuar as apostas. Algumas eram fabricadas por uma indústria em Salvador, que fazia cartões de crédito para a jogatina. O sistema era exportado para outras unidades da Federação, como Pará, Rondônia, Rio Grande do Sul, Paraná e Distrito Federal. Segundo a polícia, cada equipamento custava R$ 1.200.