Ex-mulher de Cabral diz que não ocultou bens

10/05/2017

 

 

Para PF, objetos de arte reforçariam tese de lavagem de dinheiro

Susana Neves, ex-mulher do exgovernador Sérgio Cabral (PMDB), afirmou ontem, por meio de nota, que “nunca ocultou obras de arte ou outro bem de quem quer que seja”. Anteontem, a Polícia Federal realizou buscas e apreensões em dois endereços de Susana Neves em Petrópolis (RJ) e São João del-Rei (MG). No texto assinado por Susana e seu advogado, Sérgio Riera, ela disse que está à disposição das autoridades para prestar quaisquer informações, não sendo necessária a adoção de medidas extremas.

“Susana Neves Cabral esclarece que nunca ocultou obras de arte ou outro bem de quem quer que seja. Como afirmado em seu depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal em 26 de janeiro último, sempre esteve, e está, à disposição das autoridades para prestar quaisquer informações, não sendo necessária a adoção de medidas extremas”, afirma o texto.

A ex-mulher de Cabral já havia sido levada coercitivamente para depor em janeiro, no âmbito da Operação Eficiência. Susana Neves afirmou à PF que recebia entre R$ 15 mil e R$ 20 mil mensais, em média, do ex-governador. Os pagamentos funcionavam como uma espécie de “pensão informal”, já que não há acordo judicial após a separação determinando um valor.

Na operação da PF anteontem, foram descobertos 29 quadros e 61 conjuntos mobiliários, a maioria antiguidades, guardados por Susana na cidade mineira, além de 19 objetos de arte em Araras, o que, para os investigadores da Lava-Jato, reforça a suspeita de que a ex-mulher de Cabral ajudou na lavagem do dinheiro recebido ilegalmente pelo ex-governador.

Uma serigrafia da série “O Beijo”, de Rubens Gerchman, e uma camisa do Santos autografada por Pelé estão entre os objetos apreendidos anteontem. A busca foi autorizada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, depois que vizinhos da propriedade de Susana em São João del-Rei perceberam, entre janeiro e fevereiro, a chegada de grande quantidade de obras de arte no imóvel, formado por três casas. A procuradora da República Marisa Ferrari, integrante da força-tarefa, disse que a investigação caminha para uma denúncia contra a ex-mulher de Cabral por lavagem e participação em organização criminosa.

Anotações apreendidas na casa do operador Luiz Carlos Bezerra, preso com o ex-governador na Operação Calicute, indicam que o esquema de corrupção comandado por Cabral abasteceu o peemedebista e outras dez pessoas do círculo familiar com R$ 7,3 milhões em propina, sempre em espécie, entre outubro de 2013 e outubro de 2016.

 

O globo, n. 30592, 10/05/2017. País, p. 7