Valor econômico, v. 17, n. 4234, 12/04/2017. Política, p. A6

Rodada de inquéritos exclui Ciro e o beneficia para 2018

 

Maria Cristina Fernandes

 

Os ex-ministros Ciro Gomes e Marina Silva são, nesta ordem, os presidenciáveis menos afetados pela lista do ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin. O relator da Lava-Jato no STF determinou abertura de inquérito contra 108 alvos, sendo 9 ministros do governo Michel Temer, 29 senadores e 42 deputados federais.

Ciro Gomes e seus correligionários do PDT não estão incluídos nesta rodada de inquéritos. As delações da OAS ainda estão por ser homologadas e ainda há investigações sob sigilo. As citações referentes ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foram remetidas ao Superior Tribunal de Justiça. Ainda que o governador possa vir a ser beneficiado pela resistência da Assembleia Legislativa a autorizar investigação, o PSDB de Alckmin divide com o PMDB a condição de bancada com o maior número de investigados no Senado.

Mais da metade dos senadores de ambos os partidos serão investigados pelo Supremo, entre eles dois ex-candidatos tucanos à Presidência da República, Aécio Neves e José Serra. A expectativa de que Alckmin venha a ser denunciado na Lava-Jato é o principal combustível das articulações em torno da eventual candidatura do prefeito tucano de São Paulo, João Dória Jr.

Nem mesmo o decano do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ficou de fora das deliberações de Fachin, que remeteu à Justiça Federal de São Paulo as investigações relativas a doações não contabilizadas nas campanhas do tucano na década de 1990.

A entrada das campanhas da década de 1990 no radar das investigações ainda pode resvalar no ex-ministro Ciro Gomes, ainda que nenhuma informação nesse sentido tenha sido revelada. O ex-ministro foi duas vezes candidato à Presidência da República, em 1998 e 2002.

O Rede de Marina Silva não tem parlamentares incluídos na lista de Fachin, o que pode vir a facilitar seu discurso de candidata dissociada da política tradicional. A ex-ministra, ao contrário de Ciro Gomes, no entanto, ainda não assumiu a disposição de se candidatar à Presidência em 2018.

É do PT a bancada da Câmara dos Deputados que tem a maior proporção de investigados. Fachin abriu inquérito contra um quinto dos deputados petistas. O PP é o segundo partido da Câmara em proporção de parlamentares com pedido de inquérito no Supremo.

Como o Senado abriga ex-governadores e ex-ministros, os parlamentares daquela Casa têm mais acesso a financiamento e, por isso, as bancadas foram proporcionalmente mais afetadas do que as da Câmara.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não tem foro privilegiado, permanece investigado pela Justiça Federal em Curitiba, onde acumula seis inquéritos. Seu partido foi um dos mais atingidos, como esperado. Além das bancadas da Câmara e do Senado, é petista (Tião Viana, do Acre) um dos governadores denunciados. O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também citado no PT como eventual integrante de uma chapa presidencial, será investigado pela Justiça Federal na capital paulista pela acusação de uso de caixa 2 em sua campanha municipal de 2012.

O presidente Michel Temer, que já tinha sua condição de cabo eleitoral colocada em dúvida pela impopularidade, perde ainda mais força para influenciar sua sucessão com a inclusão de nove de seus ministros nos inquéritos de Fachin.

A divulgação da lista às vésperas da apresentação do relatório da Previdência, prevista para a próxima segunda-feira, pode prejudicar os planos do governo de acelerar a tramitação da proposta. O Congresso, a partir da próxima semana, deverá estar empenhado em buscar saídas legislativas para garantir uma sobrevida a um número maior de investigados na Lava-Jato.

A imunidade temporária de Temer o protege de investigação, ainda que seu nome tenha sido citado nas delações da Odebrecht. O segundo e o terceiro na linha sucessória, no entanto, os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), serão investigados. Se se tornarem réus, ficarão impedidos de ocupar a Presidência da República.

O PMDB de Temer tem os políticos com o maior número de inquéritos abertos. O presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), é investigado em cinco processos, situação que o coloca em pé de igualdade com o presidente do PSDB, Aécio Neves. O senador Renan Calheiros ocupa sozinho o segundo lugar entre os mais investigados, com quatro inquéritos. Terá a companhia do filho, o governador de Alagoas que também herdou seu nome.

Doze anos depois da denúncia do mensalão, o ex-dirigente do PR, Valdemar Costa Neto, um dos réus que cumpriu pena de prisão naquele escândalo, voltou a ser alvo de inquérito com sua inclusão entre os investigados da Lava-Jato.