Valor econômico, v. 17, n. 4234, 12/04/2017. Política, p. A6

Ministros acusados afirmam inocência e dizem que regras foram respeitadas

 

Um dos oito ministros citados nos pedidos de inquérito autorizados pelo ministro Edson Fachin, Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil, disse que só se manifestará quando tiver acesso aos autos do processo. Ele afirmou ainda que a inclusão do relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), na lista de Fachin não prejudicará a votação da proposta. Padilha responderá a dois inquéritos, a partir das delações premiadas de executivos da Odebrecht.

O ministro Moreira Franco, chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, disse que está "tranquilo" com as acusações feitas pelo ex-executivo da Odebrecht Paulo Cesena e defendeu o processo de concorrência no aeroporto do Galeão (RJ).

"Estou muito sereno e tranquilo. Tudo diz respeito ao Galeão. Eles pagaram R$ 19,3 bilhões [em outorga] por um aeroporto. As outras propostas foram de vários bilhões de reais. Não há nada mais competitivo do que isso", afirmou Moreira ao Valor.

Cesena, ex-presidente da Odebrecht Transport, disse em delação que Moreira pediu R$ 4 milhões para manter cláusulas no edital de concessão do aeroporto que favoreciam o grupo na disputa.

Aloysio Nunes, ministro das Relações Exteriores, disse por meio de sua assessoria que as afirmações envolvendo-o em delações de executivos da Odebrecht são "mentirosas" e ressaltou que irá se manifestar somente depois que tiver acesso ao conteúdo do pedido de inquérito.

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, lamentou que seu nome tenha sido incluído na lista e negou ter recebido doações da Odebrecht para campanhas eleitorais ou ter mantido qualquer relação com os dirigentes da empresa. "Me causa grande constrangimento ter minha honra e dignidade maculadas, numa situação na qual não sei sequer do que sou acusado", disse. "Tenho minha consciência tranquila de que nada fiz de errado."

O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, negou as acusações sobre irregularidades e afirmou por meio de nota ter buscado doações empresariais respeitando as regras eleitorais.

Ex-prefeito de São Paulo e ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, disse que e é necessário ter cautela com depoimentos de colaboradores nos processos de delação premiada e afirmou que os atos praticados em suas campanhas eleitorais foram realizados conforme a legislação.

O ministro das Cidades, Bruno Araújo, afirmou que, de acordo com a legislação eleitoral, solicitou doações para diversas empresas, inclusive a Odebrecht, negando ter cometido irregularidades.

"O sistema democrático vigente estabelecia a participação de instituições privadas por meio de doações", disse o ministro em nota divulgada por assessoria. "Mantive uma relação institucional com todas essas empresas Em todo o meu mandato, sempre atuei em prol de interesses coletivos. Atuei de acordo com a minha consciência."

O ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, negou ter cometido irregularidades que todos os recursos que recebeu como doações para sua campanha em 2014 foram devidamente registradas junto ao Tribunal Regional Eleitoral do Pará, que aprovou todas as suas contas.

Barbalho destacou ainda "estranheza" com o codinome Cavanhaque atribuído a ele nas delações que resultaram nos pedidos de inquérito. "Em toda sua trajetória política, Helder Barbalho nunca usou cavanhaque", disse o texto.

Vital do Rêgo, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), informou por meio de sua assessoria que nem ele nem seus advogados tiveram acesso ao conteúdo do pedido de abertura de inquérito feito pelo STF e que está à disposição das autoridades.

Indicado pelo PMDB para o TCU, Vital é acusado de cobrar propina para proteger executivos durante a CPI da Petrobras, da qual foi relator. Ele nega as acusações e diz confiar que "será comprovada a falta de relação entre ele e os fatos investigados".

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Parlamentares negam acusações e minimizam crise após lista de Fachin

 
 

Parlamentares citados nos pedidos de inquérito autorizados pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), negaram as informações fornecidas pelos delatores.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que são falsas as informações e crê que o processo comprovará a inconsistência delas. "Os fatos serão esclarecidos, e os inquéritos serão arquivados", disse Maia.

O deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA) afirmou que a abertura da investigação mostrará que ele não cometeu nenhum ato ilícito. Aleluia é um dos 39 deputados federais que Fachin autorizou abertura de inquérito.

O tucano Betinho Gomes (PSDB-PE) disse que todas as contas de sua campanha foram contabilizadas e aprovadas pela Justiça Eleitoral. Líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP) afirmou que as doações à sua campanha foram legais.

O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) afirmou não ter "nada a temer" diante das acusações.

No Senado, o presidente Eunício Oliveira não comentou o fato de ele ser um dos indiciados e prometeu "tocar a pauta naturalmente" na Casa. Oliveira é um dos 24 senadores na lista de Fachin.

Vice-presidente da Casa, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que seu patrimônio é compatível com sua renda e que não usou mandatos para enriquecer ilicitamente. "Recebi uma doação da Braskem (do grupo Odebrecht) na campanha de 2014. Essa doação foi devidamente declarada na minha prestação de contas", acrescentou.

O líder do PSDB Paulo Bauer (SC) afirmou que os senadores do partido "comprovarão a inconsistência das denúncias" feitas por delatores da Odebrecht. Ao todo, foram indiciados sete senadores tucanos: Ricardo Ferraço (ES), Aécio Neves (MG), Antônio Anastasia (MG), Cássio Cunha Lima (PB), Dalírio Beber (SC), Eduardo Amorim (SE) e José Serra (SP). Em nota, Bauer disse que "o PSDB cumpre papel relevante na recuperação econômica do país e na viabilidade do governo Temer", e os inquéritos "não prejudicarão" isso.

O senador Renan Calheiros, por sua vez, divulgou nota na qual diz que exercerá seu direito de defesa no processo. "Um homem público sabe que pode ser investigado. Mas isso não pode significar uma condenação prévia ou um atestado de que alguma irregularidade foi cometida", afirmou ao apostar em arquivados por falta de provas.

Antonio Anastasia (PSDB-MG) disse em comunicado que "nunca tratou de qualquer assunto ilícito com ninguém" em sua trajetória.

O senador Roberto Jucá (PMDB-RR) divulgou nota se colocando à disposição da Justiça. "Nas minhas campanhas eleitorais, sempre atuei dentro da legislação e tive todas as minhas contas aprovadas", acrescentou.

O petista Lindbergh Farias (RJ) divulgou um comunicado no qual afirma que as investigações esclarecerão os fato. "Estou convicto que o arquivamento será único desfecho possível para esse processo. Novamente justiça será feita."

O correligionário Humberto Costa (PE) disse aguardar "o levantamento do sigilo dos novos documentos para ter acesso às informações necessárias à sua defesa".

O senador Jorge Viana (PT-AC) divulgou nota na qual comenta também a inclusão do nome de seu irmão, o governador do Acre, Tião Viana, na lista de Fachin. "A crise política vai se aprofundar, com risco de paralisia institucional, porque todo o sistema político está em xeque", disse. "Sobre o envolvimento do meu nome e do governador Tião Viana, não há nenhuma denúncia de corrupção, mas questionamentos sobre a arrecadação da campanha."

Fernando Bezerra (PSB-PE) disse em comunicado que em 35 anos de vida pública não teve "qualquer condenação em desfavor do parlamentar". O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) disse que este é o momento que terá para provar que "as doações legais destinadas ao partido foram declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral".