Para FHC, ideia de lista fechada ‘cheira a impunidade’

Elizabeth Lopes

23/03/2017

 

 

Ex-presidente diz que reforma em debate ‘tem objetivo de evitar que Lava Jato vá adiante’ e que partidos e políticos estão ‘mal das pernas’

 

 

Em um vídeo postado nas redes sociais na manhã de ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou a tentativa de os congressistas aprovarem uma reforma política que garanta seus privilégios e os livrem das implicações de eventuais inquéritos no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo FHC, tanto as legendas quanto os políticos estão “mal das pernas”. Para o tucano, o momento não é adequado para se aprovar a tese da lista fechada porque isso pode “cheirar a impunidade”.

“Reforma política viável hoje  é aprovar o que já está na Câmara, tem leis importantes já aprovadas pelo Senado”, disse o ex-presidente, citando a que proíbe coligação nas eleições de deputados e de vereadores.

Por esse princípio, conforme FHC, o eleitor vota em um candidato e acaba elegendo outro. “Se dois partidos se coligam, você não sabe em quem está votando, pelo quórum eleitoral. Então, é melhor proibir”, disse. “Em segundo lugar, é muito importante também que haja uma lei que diga: olha, um partido que não recebeu x votos em tais números de Estados não vai ter representação na Câmara. Não tem vantagens na Câmara, porque não é partido , tentou ser partido.”

Fernando Henrique avalia que não é o momento de se fazer propostas. “Nossos partidos, hoje, vamos falar com franqueza, vão muito mal das pernas. Os políticos, todos, estamos mal das pernas. Então, não acho que seja o momento de fazermos propostas.”

Neste trecho do vídeo o ex-presidente faz críticas à reforma política em discussão no parlamento, com foco na lista fechada e na anistia à prática de caixa 2. O presidente de honra do PSDB diz que a direção do partido é quem vai escolher quem serão o primeiro, segundo e terceiro eleitos e o povo vai votar nas siglas.

“Mas o povo nem sabe os nomes dos partidos. Não são partidos, a maioria, são legendas. E mais: não dá para aprovar nada que tenha cheiro de impunidade. Essa é uma lei que tem o objetivo de evitar que a Lava Jato vá adiante, não pode.” Na avaliação de FHC, quem praticou crimes deve ser punido e as leis estão aí para isso. “Depende do que fez. Fez corrupção, ganhou dinheiro porque tirou dinheiro da Petrobrás ou porque recebeu dinheiro de uma empresa para fazer uma lei a favor desta empresa? É crime de corrupção. E não declarou? É falsidade ideológica.”

 

Caixa 2. No vídeo de cerca de dois minutos, o presidente de honra do PSDB também fala da prática de caixa 2: “Caixa 2 também é crime, mas é outro tipo de crime, está capitulado no Código Penal. Deixa que a Justiça separe o que é caixa 2, o que é crime de corrupção. O que pode ser punido com a não eleição e o que vai para a cadeia. Não somos nós, os políticos ou os lideres nacionais, que vão opinar”, disse. “O Brasil neste momento não acredita mais em quase nada.”

No início deste mês, em nota divulgada à imprensa, para defender o correligionário Aécio Neves, o ex-presidente relativizou a utilização do caixa 2 nas campanhas eleitorais, destacando que havia diferença entre os recursos recebidos para financiar campanhas políticas - “um erro que precisa ser reparado ou punido”, e os recebido pelos partidos por fora, para enriquecimento pessoal.

Na defesa do senador mineiro, FHC disse que ele não pediu doação de caixa 2 para aliados e que o próprio Marcelo Odebrecht havia declarado que as doações à campanha presidencial tucana de 2014 foram feitas dentro da legalidade.

 

Discussão

“Se dois partidos se coligam, você não sabe em quem está votando, pelo quórum eleitoral. Então, é melhor proibir.”

 

“O povo nem sabe os nomes dos partidos. Não são partidos, a maioria, são legendas. E mais: não dá para aprovar nada que tenha cheiro de impunidade. Essa é uma lei que tem o objetivo de evitar que a Lava Jato vá adiante, não pode.”

Fernando Henrique Cardoso

EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45082, 23/03/2017. Política, p. A6.