SOCORRO A CONTA-GOTAS

Eduardo Barreto

Giselle Ouchana

Jailton Carvalho

04/05/2017

 

 

Planalto enviará 200 agentes de segurança ao estado, e avaliará se outros serão necessários
 
 Os apelos do governador Luiz Fernando Pezão para o Palácio do Planalto ajudá-lo a combater a violência foram ouvidos, mas, pelo menos por enquanto, a impressão é que o socorro oferecido está abaixo das expectativas. Um dia após o Rio se tornar refém de uma guerra entre traficantes na Cidade Alta, em Cordovil, o Ministério da Justiça decidiu enviar, num primeiro momento, cem agentes da Força Nacional de Segurança e cem da Polícia Rodoviária Federal para o estado. O efetivo, anunciado ontem, foi criticado por especialistas ouvidos pelo GLOBO. Lembrando o saldo de nove ônibus incendiados, dois caminhões saqueados e 32 fuzis apreendidos na terça-feira, eles afirmaram que a situação exigia um contingente bem maior.
 

José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança e mestre em psicologia social pela USP, defende a criação de um plano estratégico semelhante ao implantado na Olimpíada. Ele, que, anteontem já havia chamado atenção para a necessidade de um maior apoio do governo federal às polícias Civil e Militar, disse que o reforço precisaria ser de pelo menos 700 homens.

— Esses efetivo de cem agentes da Força Nacional não quer dizer nada. Assim, seria melhor não mandar ninguém, sairia mais barato. O envio de cem homens custa e não resolve nada. Precisamos, no Rio, de um esquema semelhante ao dos Jogos. Considerando o momento atual, acho necessária a chegada de 700 a mil agentes de forças federais — afirmou José Vicente, ressaltando que um contingente militar trabalha por turnos divididos em quatro equipes. — Ou seja, num efetivo de cem policiais, temos 25 atuando em cada expediente, e isso não tem grande efeito prático.

Para a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudo de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, além da crise financeira, o Estado do Rio enfrenta um outro grave problema: a falta de legitimidade do governo, o que, segundo ela, prejudica a elaboração de planos concretos contra a escalada da violência.

— É impressionante alguém acreditar que a situação vai melhorar com a chegada de 200 homens da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal. Não é simples assim. A crise de legitimidade do estado impede que o Rio tenha uma verdadeira política de segurança. Precisamos de uma estratégia realmente articulada com o governo federal.

 

MINISTRO DIZ QUE É O EFETIVO DISPONÍVEL

Os locais de atuação dos agentes que virão ao Rio serão decididos hoje, durante um encontro do secretário nacional de Segurança, general Carlos Alberto Santos Cruz, com autoridades do estado. O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, disse que o Rio tem “uma trajetória histórica de insegurança”, mas, agora, o estado precisa do socorro por se encontrar numa grave situação.

— O Rio tem esse diferencial histórico da insegurança. Uma insegurança que ora se acentua, ora se reduz — afirmou Serraglio, acrescentando que existe a possibilidade de envio de mais agentes da Força Nacional. — Ela tem suas limitações, e há reivindicações em todo o país. Precisamos dar mobilidade ao seu contingente. Neste momento, só temos disponíveis cem integrantes. Por isso é que não deslocaremos mais equipes. O que não significa que, sob o comando do general Santos Cruz, de alguma maneira não se refaça tal quadro.

Após uma reunião com o ministro em Brasília, Pezão comentou os confrontos na Cidade Nova.

— Isso aí é guerra — disse o governador, que voltou a bater na tecla de que a violência no Rio está relacionada a falhas no patrulhamento das fronteiras do país. — É algo que tem sido sistematicamente falado pelos serviços de inteligência do estado e do governo federal. Entraram muitos fuzis da Venezuela, e agora estão chegando muitos por conta do desarmamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

As peregrinações de Pezão por Brasília se tornaram frequentes este ano. Em 18 semanas, o chefe do Executivo do Rio foi 15 vezes ao Distrito Federal. Sua agenda, divulgada pela assessoria de imprensa do Palácio Guanabara, indica que a maioria das viagens foi motivada por negociações do plano de recuperação fiscal dos estados. Ele também se encontrou algumas vezes com o presidente Michel Temer e com os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (Dem-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), respectivamente.

O globo, n.30586 , 04/05/2017. RIO, p. 8