Petrobras tem melhor resultado em 2 anos 
Bruno Rosa e Ramona Ordoñez 
12/05/2017
 
 
Estatal lucra R$ 4,45 bi no 1º trimestre com custos e investimentos menores e alta na cotação e produção de petróleo

“Estamos reduzindo gastos, com aumento da produtividade, mantendo a curva de produção”

Pedro Parente

Presidente da Petrobras

A Petrobras surpreendeu com lucro de R$ 4,45 bilhões no primeiro trimestre, o melhor desempenho em dois anos. Corte de gastos e aumento da cotação e da produção do petróleo impulsionaram o resultado da estatal. Com o aumento no corte de custos e a redução dos investimentos, a Petrobras registrou lucro líquido de R$ 4,449 bilhões de janeiro a março deste ano. Foi o melhor resultado da companhia desde o primeiro trimestre de 2015. O desempenho surpreendeu o mercado e ocorreu após prejuízo de R$ 1,246 bilhão nos três primeiros meses do ano passado. Analistas destacaram o preço mais favorável do petróleo e a boa performance operacional da estatal, com alta de 10% na produção de petróleo no país ante igual período de 2016.

Entre janeiro e março, a Petrobras reduziu em 18% os gastos operacionais e em 27% as despesas de vendas em relação a igual período do ano anterior. Além disso, a companhia registrou um investimento 26% menor no início deste ano, de R$ 11,542 bilhões. Com isso, a estatal teve a melhor geração de caixa operacional de sua história para um trimestre, medida pelo Ebitda. Foi de R$ 25,254 bilhões, alta de 19% em relação ao primeiro trimestre de 2016.

Também contribuiu para o desempenho o reajuste nos preços de combustíveis anunciado em janeiro. Posteriormente, a companhia anunciou outro aumento em abril, cujo efeito só será percebido nos dados do segundo trimestre. Um dos principais fatores que justificam a melhora no desempenho foi o aumento de 98% nas exportações de petróleo, que passaram de 307 mil barris diários de janeiro a março do ano passado para 609 mil barris por dia no primeiro trimestre deste ano. A importação de óleo caiu de 199 mil barris por dia para 93 mil barris diários na mesma base de comparação.

— A geração de caixa é um recorde histórico. É o maior da história da empresa. É um resultado positivo (neste indicador) pelo oitavo trimestre consecutivo. Tivemos um fluxo de caxa livre de R$ 13,3 bilhões — afirmou Pedro Parente, presidente da Petrobras.

Parente destacou a combinação de fatores que contribuiu para o resultado positivo no início do ano:

— Em dezembro de 2015, a força de trabalho da empresa era de 282 mil pessoas. E no fim do primeiro trimestre chegamos a 220 mil pessoas. Estamos reduzindo gastos, com aumento de produtividade, mantendo a curva de produção conforme dissemos no nosso plano estratégico. E não vamos esquecer a política de preços da companhia.

REFORÇO DE CAIXA EM ABRIL

Parente lembrou que a companhia deve ter também um resultado positivo no segundo trimestre deste ano, já que em abril a companhia contabilizou a entrada de R$ 6,7 bilhões com a venda da rede de gasodutos Nova Transportadora do Sudeste (NTS) para a Brookfield.

— Se a gente observar nos quatro trimestres um resultado positivo, vamos prevê pagamento de dividendo. Já temos um resultado positivo para o segundo trimestre. O desejo da empresa é pagar dividendos o mais cedo possível — afirmou Parente.

Ivan Monteiro, diretor de Finanças da Petrobras, destacou a melhora de indicadores da companhia. O endividamento bruto caiu 5% para R$ 364,758 bilhões. A dívida líquida teve redução de 4%, para R$ 300,975 bilhões na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. O executivo destacou que o recuo ocorreu em razão da apreciação do real de 2,8% e da amortização de dívidas. Monteiro lembrou que a empresa conta com linhas de financiamento disponíveis tanto no Brasil quanto no exterior.

— Temos ofertas para operações nacionais e internacionais. Temos retorno dos bancos comerciais. A Petrobras é uma empresa mais eficiente. Não é só uma questão de reduzir ou fazer menos aquela mesma coisa. Temos vários componentes como o crescimento da produção do pré-sal, o corte de custos e o próprio programa de parcerias e desinvestimentos da empresa — disse Monteiro, afirmando que a posição de caixa da empresa é de US$ 23 bilhões.

PASADENA ‘NÃO FAZ SENTIDO’

Sobre o programa de desinvestimentos, os executivos afirmaram que ainda não há uma data para lançar os teasers (alerta de venda) de ativos como a BR Distribuidora e a polêmica refinaria de Pasadena, no Texas, nos Estados Unidos. Parente não quis antecipar qual seria o total de perdas com a venda da refinaria, comprada por US$ 1,2 bilhão e avaliada hoje em cerca de US$ 250 milhões, segundo fontes.

— Não existe nesse momento a antecipação de um resultado positivo ou negativo do ativo. Haverá certamente avaliações e um processo de venda, como o ministro (de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho) mencionou, é uma questão de matemática. Se não faz mais sentido do ponto de vista estratégico, então faz sentido incluir no nosso programa de desinvestimento — resumiu.

Phillip Soares, analista da Ativa Investimentos, explicou que já se esperava uma melhoria nos resultados em razão do aumento dos preços do petróleo. No primeiro trimestre, o barril ficou em US$ 54, em média, contra US$ 34 em igual período do ano passado. Ele destacou também a nova política de revisão mensal dos preços dos combustíveis.

— Com esses dois fatores já se esperava um bom resultado. Além dos preços do petróleo mais elevados, os combustíveis no país estão acompanhando as cotações internacionais. O que nos surpreendeu foi o forte corte nos gastos da companhia — afirmou Soares, ao ressaltar a redução do número de empregados e a melhora do perfil da dívida.

A redução nos investimentos não é fator de preocupação para os analistas. Segundo Phillip Soares, é melhor a Petrobras investir menos e em melhores projetos, do que investir em projetos que dão prejuízo. Parente lembrou que a redução dos investimentos é resultado do aumento da produtividade e do atraso da plataforma P-66, do pré-sal.

Com a melhora em seus indicadores, a Petrobras já mira nos leilões de petróleo deste ano. Solange Guedes, diretora de Exploração e Produção da companhia, disse que a estatal avaliará atentamente as oportunidades:

— A Petrobras olha atentamente em quais blocos vai exercer o direito de preferência (no caso do pré-sal). Vamos ver isso nesse mês. Estamos olhando com bastante atenção a 14ª Rodada e em especial as licitações deste ano. Queremos recompor nosso portfólio.

 

 

O globo, n. 30594, 12/05/2017. Economia, p. 23