Exportação de carne está quase paralisada

Lu Aiko Otta

23/03/2017

 

 

Embarques caíram de uma média diária de US$ 63 milhões para US$ 74 mil

 

 

As irregularidades flagradas pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, fizeram as exportações de carnes e derivados despencarem. De uma média diária de US$ 63 milhões, os embarques caíram para US$ 74 mil anteontem, segundo dados divulgados pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, em reunião na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. “A gente não sabe o tamanho da pancada que vai levar”, disse.

Ainda assim, ele estimou que as exportações poderão recuar perto de 10%, ante um total de US$ 15 bilhões em 2016. Ou seja, uma perda de US$ 1,5 bilhão no ano. “Vamos trabalhar muito para que isso não aconteça.” O próprio governo brasileiro suspendeu as exportações dos 21 estabelecimentos envolvidos na operação da PF. Mercados importantes, porém, se fecharam até para os que não estão sob investigação. Há cargas de frango e suína paradas nos portos da China, de Hong Kong e da Rússia, segundo o secretário de Agricultura de Santa Catarina, Moacir Sopelsa.

O governador do Estado, Raimundo Colombo, que esteve com Maggi na manhã de ontem, alertou que há pouca capacidade de armazenamento da produção.

“Temos capacidade para mais ou menos sete dias”, disse.

“Depois, as gôndolas e navios precisam escoar, se não o processo entra em colapso.” A preocupação maior é com os frangos, que têm um ciclo de produção mais curto e cujo abate não pode ser muito postergado.

O ministro disse ter sido informado que, diante da incerteza quanto à exportação, os frigoríficos não compraram carne bovina para processar esta semana.

“O mercado está parado”, admitiu. Também no mercado de suínos, as compras dos frigoríficos, que foram adiadas.

Os animais permanecem no pasto, mas o atraso no abate faz com que o custo de manutenção deles pese sobre a rentabilidade do produtor. Os criadores informaram também sobre queda no preço da carne.

O foco de preocupação de Maggi são China e Hong Kong.

Além de serem grandes mercados, eles impuseram restrições à compra de produtos de todos os frigoríficos. É uma postura diferente da adotada por União Europeia, Estados Unidos e Japão, que suspenderam a compra apenas das 21 plantas envolvidas na operação.

O ministro disse estar com malas prontas para, se for o caso, viajar para a Ásia e destravar o mercado. Maggi pretendia telefonar para seu homólogo na Rússia, outro mercado importante, para dar explicações. Já o Chile, que havia ameaçado com suspensão total, se alinhou à maioria dos mercados e restringiu apenas as compras dos 21 alvos da operação.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45082, 23/03/2017. Economia, p. B13.