Valor econômico, v. 17, n. 4235, 13/04/2017. Finanças, p. A16

Copom intensifica ritmo e reduz taxa Selic em 1 ponto, para 11,25%
 

Alex Ribeiro
Eduardo Campos

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) acelerou o ritmo e baixou a taxa básica de juros, a Selic, em um ponto percentual, para 11,25% ao ano. O movimento é o mais forte desde 2009 e o colegiado presidido por Ilan Goldfajn deixou espaço para cortes ainda maiores na reunião de 31 de maio, a depender do comportamento da atividade e da inflação.

No comunicado apresentado após a decisão, o Copom afirma que "essa intensificação moderada em relação ao ritmo das reuniões de janeiro e fevereiro mostra-se, no momento, adequada". O uso do termo "no momento" é o que dá grau de liberdade para o BC voltar a alterar o passo de ajuste da Selic. Até então, os cortes vinham sendo feitos em 0,75 ponto percentual. O atual ciclo começou em outubro do ano passado, com o juro em 14,25%.

O Copom diz considerar o "ritmo atual adequado", mas pondera que a atual conjuntura econômica recomenda "monitorar a evolução dos determinantes do grau de antecipação do ciclo".

O BC já vinha trabalhando com a ideia de que o comportamento da inflação e da atividade recomendavam a antecipação do ciclo de redução da Selic. Agora, atrela mais diretamente o ritmo de distensão ao que ele chama de "grau de antecipação", que depende da evolução da atividade econômica, dos demais fatores de risco acompanhados e das projeções e expectativas de inflação.

O colegiado também diz que o ritmo de flexibilização dependerá da extensão do ciclo pretendido e do próprio grau de sua antecipação. Já o tamanho do ciclo, ou até onde a Selic pode cair, dependerá das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira, que continuarão a ser reavaliadas pelo colegiado ao longo do tempo, mas também da evolução da atividade econômica, dos demais fatores de risco e das projeções e expectativas de inflação.

Em evento em São Paulo, no dia 4 de abril, diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Carlos Viana de Carvalho, afirmou que indiretamente a comunicação do BC revela o tamanho do ciclo. "As projeções com juros da pesquisa Focus revelam o que os modelos projetam para a inflação", disse.

E o comunicado do Copom aponta que as projeções de inflação encontram-se em torno de 4,1% em 2017 e mantiveram-se "ao redor" de 4,5% para 2018, em um cenário que supõe Selic de 8,5% no fim de 2017 e de 2018.

No Relatório de Inflação (RI) apresentado no fim de março, também considerando o prognóstico do mercado, que naquele momento era de juro de 9% em 2017 e 8,5% em 2018, a inflação projetada estava em 4% neste ano e 4,5% para 2018.

Em tese, as projeções mostram que Selic a 8,5% não faria a inflação escapar da meta de 4,5%. No RI, no entanto, o BC também chamou atenção para as projeções de inflação de 2019, mas o comunicado do Copom não trouxe projeção para esse ano.

Considerando Selic de 8,5% e a inflação projetada de 4,1%, o juro real fica na casa de 4,2%, ligeiramente abaixo da linha de 5% que boa parte dos analistas de mercado considera como a taxa neutra, ou aquela que produziria o máximo de crescimento com inflação na meta. O BC acredita que as reformas podem reduzir essa taxa.

Atualmente o juro real está em 4,65%, considerando o juro de mercado para 360 dias, de 9,46%, descontada inflação projetada para os próximos 12 meses, de 4,6%. Quando o BC começou o atual ciclo de cortes, o juro real estava ao redor de 6,9%.

Na avaliação sobre indicadores de preços, o BC afirma, agora, que o processo de desinflação se difundiu e houve consolidação da desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária. Em fevereiro, o BC via esse processo como uma indicação e não como fato consumado. O BC também reconhece que a desinflação dos preços de alimentos constitui choque de oferta favorável e volta a afirmar que isso pode produzir efeitos secundários e, portanto, contribuir para quedas adicionais das expectativas de inflação e da inflação em outros setores da economia.

O balanço de risco ganhou um componente: "a aprovação e implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia são relevantes para a sustentabilidade da desinflação e para a redução da taxa de juros estrutural".

O BC já vinha fazendo essa avaliação, mas não dentro da parte dedicada a apontar os vetores com possíveis impactos positivos e negativos para a inflação. Seguem no balanço de riscos a incerteza externa, o choque de preços de alimentos e as dúvidas sobre o ritmo de recuperação econômica.

Na parte dedicada à atividade, a visão do colegiado é de que o conjunto de indicadores divulgados desde a última reunião permanece compatível com estabilização da economia no curto prazo. E que a evidência sugere uma retomada gradual da atividade econômica ao longo de 2017. Em fevereiro, o BC via os indicadores como "mistos, mas compatíveis com estabilização da atividade".

Sobre o cenário externo, o Copom mantém a avaliação de que o cenário ainda é bastante incerto e que há dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento econômico global e sobre a manutenção dos níveis correntes de preços de commodities.

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Temer destaca efeito de inflação e juro em queda na economia

 

Bruno Peres

 

O presidente Michel Temer se manifestou ontem, por meio de uma rede social, após a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que reduziu em um ponto percentual a taxa básica da economia, a Selic, para 11,25% ao ano.

"A medida vai ajudar a acelerar o crescimento econômico do país e gerar empregos para os brasileiros. A inflação em queda e a redução da taxa Selic vão estimular a economia, a produção industrial e o consumo interno", afirmou o presidente Temer em microblog. "Com determinação para tocar as reformas que o país precisa, vamos colocando o Brasil no rumo certo", completou Temer, em uma sequência de mensagens editadas para a rede social.