Aposentadoria precoce gera perda de R$ 36 bi, diz Ipea

Lucas Moretzsohn

06/05/2017

 

 

Estudo mostra que, com idade mínima, país economizaria o equivalente a 0,7% do PIB

 

Com a proposta da reforma da Previdência de impor uma idade mínima para aposentadoria, o país pode economizar até R$ 36 bilhões por ano, o equivalente a 0,7% do PIB. É o que mostra um estudo apresentado ontem dentro do Boletim de Mercado de Trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o impacto da aposentadoria precoce na economia brasileira. Hoje, o trabalhador pode solicitar o benefício baseado apenas no tempo de contribuição para a Previdência — de 35 anos, no caso dos homens, e de 30 anos, no das mulheres.

Um dos efeitos diretos da aposentadoria mais cedo é a redução da receita do governo, diante da diminuição no número de contribuintes, segundo os pesquisadores. Indiretamente, a economia também perde, pois o aposentado pode sair totalmente do mercado de trabalho, deixando de produzir e contribuir, ou continuar trabalhando, mas com redução de horas trabalhadas e, consequentemente, salário menor.

 

PERDA SALARIAL

A pesquisa — comandada pelos economistas Bruno Ottoni e Fernando Holanda Barbosa Filho, ambos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) — leva em conta que, atualmente, a aposentadoria ocorre por volta de 60 anos (homem) e 55 anos (mulher), na área rural, e em torno de 55 anos (homem) e 48 anos (mulher), na urbana.

— O governo conseguiria salvar pelo menos uma parcela. Como tramita agora uma idade mínima diferente para mulheres, de 62 anos em vez de 65, isso vai diminuir um pouco (a economia), mas vale lembrar que ainda é uma economia em um ano. Deixaríamos de perder 0,7% do PIB — afirma Ottoni. — Como não poderiam se aposentar com menos de 65 anos, consideramos que os trabalhadores continuariam na mesma situação em que estavam, gerando renda.

O estudo calcula a perda de salário de quem fica no mercado de trabalho e de quem sai, que é de 100%. Com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, o salário médio dos trabalhadores em vias de se aposentar antes dos 65 anos era de R$ 2.336 em 2014. Na maior estimativa, o número de pessoas que se enquadram nessa faixa é de 1,9 milhão, sendo que, dessas, 1,4 milhão realmente vai se aposentar.

— No nosso estudo, estimamos que cerca de 900 mil sairiam do mercado e 500 mil continuariam trabalhando depois de se aposentar. A perda salarial dos que continuariam trabalhando seria de R$ 1.876 — estima Ottoni.

Com isso, a perda anual seria de R$ 36 bilhões. Já na menor estimativa, 200 mil trabalhadores deixariam o mercado, enquanto 1,2 milhão continuaria, com um redução salarial de R$ 680 por pessoa. Nesse caso, o prejuízo seria de R$ 15 bilhões, ou 0,3% do PIB, segundo o economista.

O globo, n.30588 , 06/05/2017. Economia, p. 23