Título: Palanque de luxo para Haddad
Autor: Amado, Guilherme ; Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 24/01/2012, Política, p. 3

Cerimônia de despedida do ministro tem pinta de lançamento de candidatura. Até Lula confirmou presença no evento

Erich Decat

A última passagem de Fernando Haddad pelo Palácio do Planalto como ministro da Educação, na tarde de ontem, mais parecia um evento da campanha que se avizinha, pela prefeitura de São Paulo, do que uma solenidade de governo. Na comemoração da milionésima bolsa concedida pelo Prouni, que distribui o benefício em universidades particulares para jovens carentes, a presidente Dilma Rousseff deu ao pré-candidato um palanque para que ele elogiasse sua própria gestão e preparasse o terreno para a despedida oficial. A transmissão de cargo hoje para Aloizio Mercadante terá a presença até do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em tratamento contra um câncer na laringe, será a primeira visita dele ao Planalto desde que passou a faixa para Dilma.

Embora o Salão Nobre do Planalto não estivesse lotado — o cerimonial do palácio chegou a remanejar alguns convidados para evitar que ficassem grandes espaços vazios na plateia —, era grande o número de políticos do PT de São Paulo e de ministros do partido no evento de ontem. Dilma defendeu a gestão de Haddad, inclusive em relação ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), alvo de críticas nas três últimas edições. "Acredito que o Enem é um exemplo da determinação do ministro Haddad de assegurar uma transformação e uma deselitização da educação do país", afirmou Dilma. A presidente também reservou o anúncio de três edições do exame, em 2013, para o evento, numa tentativa de trazer uma agenda positiva para o agora ex-ministro.

Haddad também tocou no assunto, afirmando que o Enem não será o calcanhar de aquiles de sua campanha. "Pelo contrário. Faça uma pesquisa sobre o Enem que vocês vão constatar que a juventude aprova o Enem", garantiu, defendendo que não houve erro do MEC em divulgar duas edições do exame em 2012 e, depois, voltar atrás. "Toda semana, tivemos uma ação judicial do Ministério Público defendendo uma tese diferente da anunciada na semana anterior. Se a cada semana formos enfrentar um debate judicial, não damos tranquilidade para a equipe aperfeiçoar os processos", alegou o ministro. Pouco antes, na tentativa de potencializar ainda mais o futuro candidato, Dilma havia anunciado que o Enem terá duas edições em 2013.

Apoio estudantil O evento também teve a presença de integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE). Foi a segunda manifestação de apoio da entidade, que recebeu Lula e Haddad em seu congresso no ano passado, em Goiânia. Na ocasião, o ex-presidente já havia exaltado o "candidato". O presidente da UNE, Daniel Iliescu, defendeu que o evento de ontem não se tratava de um ato pró-Haddad. "Essa é uma comemoração de uma conquista do povo brasileiro. Reduzir a um ato político é reduzir os méritos que o Prouni traz para o país", avaliou.

Na oposição, porém, a cerimônia foi encarada como um ato essencialmente eleitoral. "No apagar das luzes, fica clara a intenção eleitoreira do evento, até para que a gestão dele não passe despercebida", criticou o líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira. Para Ivan Valente, líder do PSol, houve superexposição de Haddad. "Todos os movimentos do Haddad e Dilma nesses últimos meses têm sido eleitoreiros. Há de fato uma superexposição nesse período pré-eleitoral", acusou o deputado.

Governador visita ex-presidente em SP Antes de participar da despedida de Fernando Haddad da Educação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a visita do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ontem em São Paulo. Os dois almoçaram na sede do Instituto Lula, e conversaram por duas horas. A reunião teve a presença dos ex-ministros Luiz Dulci, Franklin Martins e Paulo Vannuchi. Segundo o assessor da entidade, a visita teve caráter de "cortesia" e não tratou de alianças para as eleições municipais. "Foi um encontro de amigos, fiquei feliz que Lula vem atravessando bem o tratamento, está animado e não vê a hora de levar uma vida normal", afirmou, em nota, Campos.