Para ex-diretor, setor é ‘propenso’ à corrupção

Rafael Moraes Moura/ Beatriz Bulla/ Fabio Serapião/ Fábio Sabrini

25/03/2017

 

 

Ex-executivo da Odebrecht Luiz Eduardo Soares relata ao TSE que pagar caixa 2 na área de construção é frequente tanto no Brasil quanto no exterior

 

 

O ex-executivo da Odebrecht Luiz Eduardo Soares relatou em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o funcionamento do Setor de Operações Estruturadas – o departamento da propina da empreiteira. À Justiça Eleitoral, ele falou que o setor de construção “é muito propenso” à corrupção, no Brasil e no exterior.

“O setor de construção é um setor onde isso ocorre com frequência, não só no Brasil como no mundo inteiro. Não é um pro- duto de exportação brasileiro, eu acredito, que a utilização de pagamento de caixa 2 ou de propina para alavancagem de obras”, disse Luizinho, como é conhecido o ex-executivo na Odebrecht.

Soares foi transferido para o Setor de Operações Estruturadas em 2006, onde ficou até meados de 2014. Ele cuidava da abertura de empresas offshore e contato com bancos no exterior usados pela área para operacionalizar os pagamentos extraoficiais feitos pelo setor. Ele afirmou que muitos pagamentos eram feitos em razão das obras obtidas pela empreiteira fora do País.

O executivo afirmou que sabia da ilicitude dos pagamentos e que “tinha certeza que um dia isso poderia dar algum problema”. “No Brasil e, principalmente, no exterior”, disse. Para Soares, no Brasil era mais difícil “dar problema” porque o pagamento era feito em dinheiro em espécie.

‘Volúpia’. Segundo ele, após a Lava Jato, a Odebrecht passou a fazer as coisas com “menos volúpia”. O fechamento definitivo do Setor de Operações Estruturadas foi em 2015. Mesmo Frequência após o início das investigações, a área continuou funcionando porque “existiam alguns compromissos” a serem encerrados, de acordo com o delator.

O ex-executivo disse que ser chamado para integrar o setor não era um convite, mas uma “missão”. “Eu fui instado a seguir essa missão e fui”, afirmou. Soares era subordinado a Hilberto Mascarenhas, que, em depoimento ao TSE, disse que foi “intimado” por Marcelo Odebrecht, herdeiro do grupo, a participar do setor.

De acordo com Soares, conforme o faturamento da empresa cresceu, o volume de recursos movimentado no setor de contabilidade paralela também aumentou. “Ou seja, o senhor faz uma correlação entre o crescimento da empresa e o aumento de recursos, por exemplo, para corrupção e caixa 2?”, questionou o ministro Herman Benjamin. “Sim. É o que eu... minha visão do negócio”, respondeu o delator. “Em outras palavras, o caixa 2 e a corrupção estavam vinculados a este crescimento do volume de negócios da própria empresa”, completou o ministro. “Sim”, confirmou o ex-executivo.

Segundo ele, a partir de 2002 a empresa cresceu muito fora do País.

 

Frequência

“O setor de construção é um setor onde isso (corrupção) ocorre com frequência, não só no Brasil como no mundo inteiro.”

Luiz Eduardo Soares

EX-EXECUTIVO DA ODEBRECHT

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Mônica Moura é incluída no ‘top 5’ de recebedores

 

 

O ex-executivo da Odebrecht Hilberto Mascarenhas afirmou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que a empresária Mônica Moura, mulher e sócia do exmarqueteiro do PT João Santana, estava no “top five” da lista dos maiores recebedores de dinheiro do Setor de Operações Estruturadas, o “departamento da propina” da empreiteira.

Em depoimento ao TSE em 6 de março, Mascarenhas disse que foram pagos entre US$ 50 milhões e US$ 60 milhões a Mônica. Segundo ele, o casal recebeu por campanhas no Brasil de 2010, 2012 e 2014 e por serviços no exterior. O delator chefiou o Setor de Operações Estruturadas de 2006 a 2015.

Conforme o ex-executivo, os repasses saíam de uma conta vinculada ao “Italiano”, apelido atribuído por ele ao ex-ministro Antonio Palocci, e eram sempre tratados com Mônica. “Existia uma conta-corrente para o Italiano por ele ter apoiado a empresa em determinada coisa. Aquele dinheiro ficava para ele usar na medida em que o PT necessitasse. Pagar ao marqueteiro da campanha de Dilma é uma necessidade. Então ele autorizava.”

O advogado Juliano Campelo Prestes, que representa Mônica Moura e João Santana, disse que só pode se manifestar após ter acesso à íntegra do depoimento. 

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‘PT tinha pressa para garantir tempo de TV

 

 

O ex-diretor da Odebrecht Ambiental Fernando Cunha Reis disse em depoimento ao TSE que o PT tinha pressa de assegurar o apoio de partidos à chapa Dilma- Temer. Segundo ele, a empreiteira pagou R$ 4 milhões via caixa 2, em dinheiro vivo, ao tesoureiro do PDT, Marcelo Panella, para garantir apoio da sigla.

“Do que me lembro é uma conversa que tive internamente com o diretor de Relações Institucionais da construtora, Alexandrino Alencar. Ele me disse que a pressa que existia era de assegurar o apoio desses partidos para garantir o tempo de TV”, afirmou Cunha Reis.

Alencar, de acordo com Reis, mencionou uma reunião entre Marcelo Odebrecht e o ministro da Fazenda à época, Guido Mantega, no qual havia um pedido do petista “para que a Odebrecht consolidasse um apoio financeiro a determinados partidos”. Alencar cuidou do pagamento a PROS, PRB e PC do B e Reis foi escalado para intermediar o pagamento ao PDT.

A sigla informou em nota que confirmou apoio à candidatura de Dilma em 10 de junho de 2014, “meses antes do suposto pagamento de caixa 2”. “O PDT irá agir no âmbito da Justiça para que o delator comprove o que afirmou”, diz a nota. Mantega não foi encontrado para falar sobre o assunto.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45084, 25/03/2017. Político, p. A5.