O Estado de São Paulo, n. 45068, 09/03/2017. Política, p. A6

Executivo confirma que Cabral era ‘Proximus’ em lista da propina

Apelido aparece vinculado a pagamentos no Rio; deputado cassado Eduardo Cunha era chamado de ‘Caranguejo’

Por: Beatriz Bulla / Fabio Serapião

 

O ex-executivo Luiz Eduardo Soares, um dos delatores da Odebrecht, confirmou ontem em depoimento à Justiça Eleitoral os codinomes usados para identificar repasses ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Ele afirmou que Cabral era identificado como “Proximus” e Cunha era o “Caranguejo”.

O ex-executivo era um dos responsáveis pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido como “departamento da propina”. A alcunha do deputado cassado e ex-presidente da Câmara já tinha aparecido no anexo de delação do ex-diretor Cláudio Melo Filho que veio a público em dezembro do ano passado.

O apelido de Cabral aparece em materiais da Polícia Federal.

Em relatório de busca e apreensão, a PF aponta em planilhas que a alcunha “Proximus” é vinculada a dois pagamentos no Rio, de R$ 500 mil cada. Anotações fazem menção à Linha 4-Oeste do Metrô.

Em outro relatório, a PF registra e-mails no qual o codinome está atrelado a repasse de valores, a partir de material apreendido com o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior, o BJ.

Em mensagem trocada entre Hilberto Mascarenhas, Benedicto Júnior, Maria Lúcia Tavares, João Borba Filho e Luiz Eduardo Soares, de 17 de fevereiro de 2007, o assunto é a liquidação “Proximus”.

Na conversa, a secretária Maria Lúcia pede para que Benedicto e Borba façam a liquidação com “Proximus”, no valor de R$ 1 milhão, indica que a transação deve ocorrer sob a senha “Tomate” e dá endereço no Rio onde os valores devem ser entregues.

No local, a secretária do “setor de propinas” afirma que o interlocutor a ser procurado responde por “Orelha”.

Em outro e-mail, de 11 de janeiro de 2008, trocado entre Marcelo Odebrecht, BJ e Ubiraci Santos, os executivos falam sobre o “Programa Social RJ”.

Na conversa, BJ pede autorização a Marcelo para liberar porcentagens de pagamentos relacionados ao programa. Do valor do contrato, que seria de R$ 495 milhões, BJ indica que Proximus ficaria com 5%.

 

Depoimento. Soares foi chamado a depor na ação que apura abuso de poder político e econômico na campanha presidencial de 2014. Ao ministro Herman Benjamin, relator do caso no TSE, ele disse que não participou de operações em 2014 porque saiu do “setor de propinas” no mesmo ano.

A defesa de Cunha disse que não teve acesso ao teor do depoimento e, por isso, não comentaria. A de Cabral não respondeu. / B.B. e FABIO SERAPIÃO