O Estado de São Paulo, n. 45069, 10/03/2017. Notas e informações, p. A3

Sinais de reação da indústria

 

Há boas novidades no balanço da produção industrial de janeiro, ainda fraca, mas com sinais de recuperação. O volume produzido foi 1,4% maior que o de um ano antes. Foi o primeiro dado positivo, nesse tipo de confronto, depois de 34 meses consecutivos de resultados em vermelho. Isso mais que compensa, neste momento, o recuo de 0,1% – quase estabilidade – em relação ao número de dezembro.

Houve oscilações de um mês para outro no ano passado.

O resultado final foi uma queda de 6,6% em 2016. Essa perda completou um triênio desastroso para o setor. A produção da indústria já havia caído 3% em 2014 e 8,3% em 2015. O desmoronamento resultou de erros e desmandos governamentais acumulados principalmente a partir do segundo mandato do presidente Lula da Silva.

Não há como subestimar a contribuição da presidente Dilma Rousseff para a catástrofe econômica dos últimos anos, mas seria um erro negligenciar a responsabilidade de seu criador e guia espiritual.

A produção da indústria ainda caiu 7,9% nos 12 meses completados em janeiro. A queda geral de 0,1% em relação a dezembro refletiu a baixa de 4,1% na fabricação de bens de capital – máquinas e equipamentos – e de 7,3% na produção de bens duráveis de consumo, como automóveis e eletroeletrônicos.

O quadro muda sensivelmente quando os números são comparados com os de janeiro de 2016. A variação é positiva para todas as grandes categorias, com aumentos de 3,3% para bens de capital, 0,8% para intermediários e 2,3% para bens de consumo (3,2% para duráveis e 2,1% para os semiduráveis e não duráveis). No total, a diferença é de 1,4%.

Pode ser precipitado tomar esse quadro como indício indiscutível de reação da indústria, mas alguns dados de fevereiro parecem confirmar a melhora.

O mais claro e mais importante, por enquanto, é a evolução do setor automobilístico, especialmente importante pela variedade de seus fornecedores de insumos. A produção de veículos, no mês passado, foi 14,7% maior que a de janeiro e 39% superior à de um ano antes.

O total acumulado em 12 meses ainda foi 3,1% menor que o do período imediatamente anterior, mas a inflexão parece bem definida.

A reação das montadoras, assim como de alguns outros segmentos, é em boa parte atribuível às exportações. No primeiro bimestre, as exportações de veículos e máquinas agrícolas e rodoviárias proporcionaram receita de US$ 1,99 bilhão, 46,4% maior que a dos embarques de janeiro e fevereiro de 2016.

A maior parte da indústria ainda poderá ampliar sua produção por um bom tempo antes de precisar de novos investimentos.

Há muita capacidade ociosa. Em janeiro, a produção de bens de capital foi 3,3% maior que a de igual mês do ano passado, mas é cedo para imaginar um aumento significativo da demanda de máquinas e equipamentos.

A produção desses bens diminuiu 7,9% nos 12 meses terminados em janeiro, mas esse número é insuficiente para dar uma ideia do tombo acumulado nos últimos anos. No trimestre móvel encerrado em janeiro, o índice de produção de bens de capital foi 37% inferior ao de três anos atrás. Na mesma comparação, o índice referente à indústria geral diminuiu muito menos: 15,75%, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A maior parte da indústria opera com cerca de 30% de capacidade ociosa, por causa da baixa demanda. Essa folga facilitará o aumento da produção, a curto prazo, para atender à demanda interna e às oportunidades de exportação. Mas uma expansão mais ampla e sustentável dependerá do crescimento da capacidade produtiva.

Para avaliar o quadro com realismo é preciso levar em conta outro ponto. A prolongada redução do investimento em máquinas e equipamentos, além de limitar o potencial de expansão da indústria, deve ter afetado seu poder de competição internacional. Projetos mais ambiciosos de ocupação de mercados serão inviáveis sem um esforço de modernização e de expansão da capacidade produtiva.