O Estado de São Paulo, n. 45069, 10/03/2017. Internacional, p. A12

Comércio fica mais fácil sem Caracas, diz chanceler

Aloysio Nunes projeta parcerias do Mercosul com outros blocos em sua 1ª viagem internacional como ministro das Relações Exteriores

Por: Márcio Resende

 

A primeira viagem internacional de Aloysio Nunes (PSDB-SP) como ministro das Relações Exteriores coincidiu com a primeira reunião do Mercosul sem a Venezuela.

Na mesma linha do antecessor José Serra, o chanceler condenou a situação da democracia venezuelana. Ele ressaltou que agora o bloco sulamericano tem a convergência necessária para avançar em acordos com outros blocos e países.

“Falamos sobre a nossa preocupação com a situação democrática na Venezuela, que o calendário eleitoral seja respeitado, que haja respeito pela prerrogativas da Assembleia e sobre a nossa preocupação com os presos políticos”, disse. “O que temos hoje nos países do Mercosul é uma convergência de pontos de vista em relação a muitas dessas questões sobre a concepção da liberdade de comércio, intercâmbio entre as pessoas, liberdade democrática, segurança jurídica. Existe uma convergência e isso é uma oportunidade muito importante para avançarmos agora”, avaliou o chanceler.

A Venezuela foi suspensa em dezembro, tecnicamente, por não ter completado em tempo e forma os passos necessários para a sua adesão definitiva, deixando de incorporar as normativas do bloco. Politicamente, Brasil, Argentina e Paraguai consideram que o governo de Nicolás Maduro não cumpre a Carta Democrática do Mercosul por desrespeitar os direitos humanos. A suspensão foi obtida depois que o Uruguai se absteve em votação. Com a Venezuela afastada, o Mercosul encontrou a convergência para o livre-comércio.

“O que temos hoje nos países do Mercosul é uma convergência de pontos de vista em relação a muitas dessas questões sobre a concepção da liberdade de comércio, intercâmbio entre as pessoas, liberdade democrática, segurança jurídica. Existe uma convergência e isso é uma oportunidade muito importante para nos avançarmos agora”, observou.

 

Parcerias. A reunião entre os chanceleres de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai também serviu para os quatro países afinarem a oferta que vão apresentar em conjunto entre os dias 20 e 24, durante a reunião birregional Mercosul-União Europeia em Buenos Aires. O acordo de livre-comércio parece ter ganho mais atenção desde a chegada da política protecionista de Donald Trump ao poder. O acordo é a prioridade do Mercosul.

“As perspectivas são muito favoráveis. Ha um interesse grande da parte deles (dos europeus) e da nossa parte também. Falamos dessa oportunidade que temos agora de avançarmos e de concretizarmos o nosso entendimento com a União Europeia”, disse Nunes.

“Mas para que essa oportunidade seja aproveitada, temos de nos azeitarmos entre nos também. Precisamos fazer a lição de casa em relação aos nossos problemas, entraves e obstáculos ao livre-comércio entre nós”, pondera.

Num momento em que o protecionismo pregado por Trump altera a relação comercial pelo mundo, o Mercosul enxerga também a oportunidade de ganhar terreno aproximando-se da Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México) com uma reunião entre os dois blocos nos dias 7 e 8 em Buenos Aires.

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Argentina se queixa de Brasil permitir voos para Malvinas

Por: Márcio Resende

 

Antes e após a reunião de chanceleres do Mercosul, Aloysio Nunes manteve encontros para discutir a relação Brasil-Argentina – primeiro com a ministra argentina das Relações Exteriores, Susana Malcorra, e depois com presidente Mauricio Macri.

Antes da reunião com Nunes, Malcorra disse que “a queixa sobre as Malvinas ainda existe”. O caso refere-se a 12 voos militares britânicos, em 2015, e seis, em 2016, às Ilhas Malvinas que usaram aeroportos brasileiros como escala para chegar ao arquipélago, cuja soberania é disputada por Argentina e Grã-Bretanha.

Buenos Aires ainda espera explicações formais do governo brasileiro, que se comprometeu a não receber nos seus aeroportos e portos aviões e navios de guerra britânicos rumo às Malvinas.

“Nossa orientação em relação à soberania argentina sobre as Malvinas é absolutamente intocável.

O critério para a autorização desses voos continua sendo o da emergência e o humanitário. O que estamos verificando agora são os procedimentos para tornálos mais rigorosos e mais transparentes”, disse Nunes. / M.R.