O Estado de São Paulo, n. 45069, 10/03/2017. Metrópole, p. A14

Enem passa a ser em dois domingos e MEC deixa de divulgar nota por escola

É a maior mudança na estrutura de aplicação do exame desde 2009, quando virou vestibular para universidades públicas; também foi anunciado o fim da certificação, o que reduzirá o nº de candidatos. Prova online foi reprovada em consulta

Por: Ligia Formenti

 

A partir deste ano, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deixará de ser feito em um fim de semana (sábado e domingo) para ser aplicado em dois domingos consecutivos – a edição de 2017 será nos dias 5 e 12 de novembro. A medida integra um pacote de mudanças divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC). Outra alteração é que não serão mais divulgados os resultados do Enem por escola, o que permitia fazer um ranking de colégios.

É a maior transformação na estrutura de aplicação do Enem desde 2009, quando a prova passou a ser um processo seletivo para universidades públicas do País. Segundo especialistas, nos últimos anos o exame perdeu seu caráter original de avaliação, passou a ter múltiplas funções e se consolidou como um grande vestibular.

A distribuição das disciplinas também será modificada. Redação foi passada para o primeiro dia e será feita com Linguagens e Ciências Humanas, em 5 horas e 30 minutos. No segundo domingo, os candidatos farão os testes de Matemática e Ciências da Natureza. O prazo máximo será de 4 horas e 30 minutos.

Outra mudança é que os participantes receberão os cadernos de questão personalizados, com o nome e o número de inscrição preenchidos. O ministro da Educação, Mendonça Filho, disse que o novo formato não aumentará os custos da prova e mantém o padrão de segurança.

“Ela trará mais tranquilidade para o aluno e ao mesmo tempo garante dignidade aos sabatistas, que hoje (por motivos religiosos) permanecem horas confinados, aguardando o sol se pôr para iniciar a prova”, disse.

Sobre a divulgação dos resultados por escola, Mendonça Filho disse que a qualidade do ensino deve ser medida por outros mecanismos. “O MEC e o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, órgão responsável pela prova) não têm como missão fazer propaganda falsa”, disse o ministro.

A partir deste ano, todos os alunos do ensino médio público e privado farão a Prova Brasil, que antes era aplicada por amostragem na etapa. Esse exame é usado para compor o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal avaliação do ensino no País. O risco, dizem especialistas, é de que a lista dos resultados do Ideb por escola substitua o tradicional ranking do Enem.

 

Consulta. As mudanças foram apresentadas pelo MEC após consulta pública. A grande surpresa desse processo foi a preferência dos participantes em manter a prova no papel, em vez de uma versão digital. Na consulta, 70% do 600 mil participantes disseram preferir a prova impressa.

Uma das explicações da pasta para a resistência é o receio de fraudes. “O medo em relação ao novo é humano”, disse o ministro.  Ele avisou, porém, que a migração para o formato digital é inevitável. “Não sei quando, mas ela vai ocorrer.” A partir deste ano, o exame também não poderá mais ser usado como certificação do ensino médio. Em parcerias com Estados e municípios, o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) passará a cumprir este papel.

A exclusão dessa função do Enem pode ajudar a reduzir o gigantismo da prova, o que dificulta a logística e encarece a aplicação. Dos 8,6 milhões inscritos da última edição, cerca de 1,07 milhão tinha interesse no certificado.

O atendimento especializado também vai mudar. Candidatos que necessitem de tempo adicional (como diabéticos e pessoas com distúrbios de tireoide) devem fazer a solicitação na inscrição – que poderá ser feita de 8 a 19 de maio. Até a edição de 2016, o requerimento era feito no dia da prova.

 

Repercussão. Especialistas se dividiram sobre o fim da divulgação dos resultados por escola. Priscila Cruz, do Todos Pela Educação, elogiou a medida. Já para o ex-presidente do Inep Reynaldo Fernandes a transparência é essencial e não cabe ao MEC avaliar como a interpretação do dado será feita. “O governo não pode ter o monopólio da informação”, diz. O professor observa que a colocação no ranking é um dos dados observados na hora de se fazer a avaliação da escola. “É um indicador.

Se ele não é suficiente para indicar a qualidade da escola, basta fazer essa ressalva.”

 

Feriado

O 1º dia de provas será em 5 de novembro, no fim do feriado de Finados. A divulgação dos resultados ocorrerá em 18 de janeiro do ano que vem.

 

AVANÇO DO EXAME

Número de inscritos cresceu de 2009 a 2014, caiu em 2015 e voltou a crescer em 2016

 

PERGUNTAS & RESPOSTAS

Cadernos serão personalizados

1.  O exame ainda será realizado em dois dias?

Sim, mas agora será em dois domingos consecutivos (dias 5 e 12 de novembro), em vez de em um fim de semana inteiro, como ocorreu em 2016.

 

2. Como será a distribuição dos assuntos por prova?

O primeiro domingo terá Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias e também Redação, com 5 horas e 30 minutos de prova. No segundo dia, serão aplicadas as provas de Matemática e Ciências da Natureza e suas Tecnologias ao longo de 4h30.

 

3. Mudam os cadernos?

Sim, serão personalizados com o nome do candidato.

 

4. Ainda será possível conhecer as escolas mais bem colocadas no Enem?

Não. O governo não vai mais divulgar o resultado do exame por escolas, de modo que não será possível um ranking. A ideia é não fazer “propaganda falsa”, disse o ministro da Educação, Mendonça Filho. Para ele, a melhor forma de aferir o ensino é o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

 

5. Como fica agora a certificação do ensino médio?

Até o ano passado, o Enem servia como certificado deste grau de ensino, mas agora ele não terá mais essa função. Para ter esse comprovante, será necessário fazer o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).

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Doria vai retomar Prova São Paulo

Por: Fabio Leite

 

l O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), assinou ontem parcerias com o Ministério da Educação nas quais prevê a retomada da Prova São Paulo, com apoio técnico do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), e repasse de R$ 26,9 milhões de recursos federais para compra de 8,5 mil notebooks e impressoras para 242 escolas da rede. A Prova São Paulo foi criada em 2007, na gestão Gilberto Kassab (PSD), para avaliar alunos do ensino fundamental, mas foi extinta em 2013 pela gestão Fernando Haddad (PT). / F.L.

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Avaliação do ensino médio precisa ter objetivo claro

Por: Priscila Cruz

 

Avaliar em Educação é complexo, dificilmente uma avaliação atende a vários objetivos distintos. O Enem não apenas mede algumas competências e cria uma nota para o ingresso dos alunos no ensino superior, como o resultado agregado dos alunos de uma determinada escola era divulgado como medição da sua qualidade. Com o anúncio de que a Prova Brasil será aplicada também ao ensino médio, as escolas que ofertam esta etapa – públicas e privadas – terão o resultado dessa avaliação como referência de acompanhamento da progressão de resultados. Para esse objetivo, a Prova Brasil será um instrumento mais adequado do que o Enem, mesmo que avalie “apenas” Português e Matemática (por enquanto).

Diversos especialistas do campo educacional – incluindo o movimento Todos Pela Educação – sempre criticaram os rankings feitos pelas médias das escolas e a abordagem desses resultados como se traduzissem a qualidade do ensino.

As boas escolas continuarão a fazer um bom trabalho. E as famílias terão a Prova Brasil para acompanhar a escola de seus filhos – com a mesma nota que os governos vão utilizar.

As famílias precisam, ainda, observar outros aspectos importantíssimos, como o trabalho cooperativo de alunos, professores e direção da escola; os valores que são promovidos; os projetos construídos pelos estudantes; o desenvolvimento das habilidades cada vez mais importantes no século 21, como empreendedorismo, comunicação e criatividade; as artes e o esporte; e, claro, todos os componentes da Base Nacional Comum Curricular.

 

PRESIDE O TODOS PELA EDUCAÇÃO