Novo ministro sinaliza que vai ter controle maior da PF
Júnia Gama e Fernanda Krakovics 
30/05/2017
 
 
Entidades de classe mostram preocupação com interferência na Lava-Jato

-BRASÍLIA- Convidado para o Ministério da Justiça, o ministro da Transparência, Torquato Jardim, sinalizou a ministros e interlocutores do presidente Michel Temer que terá um controle maior sobre o comportamento da PF de agora em diante. O novo ministro, no entanto, não decidiu se isso significa uma troca no comando da Polícia Federal (PF).

Ao presidente Michel Temer, Torquato disse que pretende conversar com o diretor-geral da PF, Leandro Daiello, antes de tomar qualquer decisão sobre a permanência dele no cargo. Segundo relatos, o futuro ministro da Justiça disse ao presidente que ainda não tem informações suficientes para um diagnóstico sobre a situação da PF e que não quer fazer nenhum gesto sem saber dos detalhes da situação interna na corporação.

Após se tornar alvo das investigações, Temer passou a dizer que há excessos por parte da Polícia Federal e que eles devem ser corrigidos. O presidente demonstrou forte incômodo, por exemplo, com o fato de a PF ter tentado tomar diretamente seu depoimento, semana passada, na investigação que apura a delação do dono da JBS, o empresário Joesley Batista. Para o presidente, é preciso combater o “voluntarismo de interpretação” na PF.

Entidades de classe criticaram a troca de comando no Ministério da Justiça e manifestaram preocupação com o que consideram uma tentativa de controlar a Operação LavaJato. Em nota, a Federação Nacional do Policiais Federais afirma esperar que o novo ministro “gerencie sua pasta com imparcialidade sem qualquer tentativa de interferência nas investigações da PF, especialmente na Operação Lava-Jato”.

Já o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Sobral, disse que a mudança pode ser a senha para uma eventual intervenção política na PF, com o propósito de esvaziar a Lava-Jato e outras investigações sobre corrupção.

— Não só o diretor-geral, mas todo o comando da instituição. Quem nomeia essas pessoas é o ministro da Justiça. A troca do comando da instituição pode gerar atrasos, interferências ou interrupções nas investigações — afirmou.

O delegado lembra que, em recentes diálogos captados a partir da delação de executivos da JBS, os senadores tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), ambos investigados na Lava-Jato, foram flagrados articulando a saída de Osmar Serraglio da Justiça. Segundo Sobral, um ministro da Justiça pode interferir de várias maneiras para enfraquecer a atuação da polícia. Uma delas é com o corte de verbas para grandes operações. Outra é a indicação política para cargos estratégicos da instituição.

O novo ministro da Justiça deve ser pressionado por alas do governo que defendem um “freio de arrumação” no órgão, responsável pelas investigações da Lava-Jato:

— Em algum momento vai ter que mexer naquilo, não dá para ficar como está — afirmou um auxiliar de Temer

 

O globo, n. 30612, 30/05/2017. País, p. 4