Mantega admite US$ 600 mil em conta na Suíça não declarada 
Cleide Carvalho 
30/05/2017
 
 
Ex-ministro, acusado por Odebrecht, nega, porém, que recebeu propina

-SÃO PAULO- O ex-ministro da Fazenda, pasta que ocupou por quase nove anos, Guido Mantega admitiu à Justiça Federal do Paraná ter uma conta na Suíça não declarada no Brasil. Ele ainda abriu mão dos sigilos bancário e fiscal. Em petição ao juiz Sergio Moro, apresentada ontem, os advogados do petista afirmaram que a conta Papilon Company, no Banco Picktet, na Suíça, recebeu um único depósito de US$ 600 mil como parte de pagamento pela venda de um imóvel herdado do pai. A defesa disse ainda que tem outras informações bancárias a fornecer não relacionadas com o período sob investigação, que deverão ser prestadas quando o ex-ministro for intimado a depor.

A defesa diz que Mantega “não espera perdão nem clemência pelo erro que cometeu ao não declarar valores no exterior, mas reitera que jamais solicitou, pediu ou recebeu vantagem de qualquer natureza como contrapartida ao exercício da função pública, conforme poderá inclusive confirmar o extrato da conta, documento que o peticionário se compromete a apresentar tão logo o obtenha da instituição financeira”.

CITADO NA DELAÇÃO

Mantega foi citado na delação do empresário Marcelo Odebrecht. Segundo ele, durante a negociação da MP 470, conhecida como Refis da Crise, Mantega lhe pediu R$ 50 milhões. A MP permitia o parcelamento da dívida tributária da Braskem, controlada pela Odebrecht, que chegaria a R$ 4 bilhões. Marcelo disse que Mantega só começou a usar o dinheiro a partir de 2011, e que o valor ficou creditado na contabilidade paralela da empresa, na conta “pós-italiano”.

O ex-ministro dos governos Lula e Dilma foi alvo de mandado de prisão temporária na 34ª fase da Lava-Jato. Ele foi detido no Hospital Albert Einstein, onde acompanhava a mulher num tratamento médico. Ele acabou tendo a prisão revogada pelo juiz Sergio Moro. Na época, o empresário Eike Batista havia afirmado que pagou US$ 2,35 milhões ao PT (cerca de R$ 4,7 milhões na época) a pedido do ex-ministro.

 

O globo, n. 30612, 30/05/2017. País, p. 7