PRIMEIRA REFEIÇÃO DE DIRCEU FORA DA CADEIA ACABA EM PIZZA

Marina Oliveira

Sérgio Roxo

05/05/2017

 

 

Ex-ministro esteve com amigos em Curitiba antes de seguir, de carro, para São Paulo e depois Brasília, onde vai morar

 

“O Zé está muito bem fisicamente, com espírito forte, olhar vivo. Bem melhor do que quando o visitei”

Angelo Vanhoni

Ex-deputado (PT-PR)

 

 
 Na primeira noite fora da prisão após quase dois anos, José Dirceu comeu pizza. Depois de um ano e nove meses de quentinhas, o cardápio da primeira refeição em liberdade do exministro José Dirceu teve pizza e pinhão. Antes de iniciar a maratona de quase 20 horas de viagem de carro até Brasília, onde passará a viver, o petista fez, ainda na noite de quarta-feira, uma parada na casa do advogado Daniel Godoy Junior, em um condomínio de luxo em Curitiba.

No local, já com a tornozeleira eletrônica que vai monitorar os seus deslocamentos, posou para fotos com os amigos, um grupo de dez pessoas, que incluía, entre outros, além do dono da casa e da sua mulher, Andrea, o advogado Roberto Podval e o exdeputado petista pelo Paraná Angelo Vanhoni.

Ao GLOBO, Vanhoni contou que Dirceu estava animado. O ex-ministro ficou cerca de duas horas na casa e, em seguida, partiu para São Paulo, em um carro dirigido pelo próprio Podval.

— Ele está bem de saúde e contente porque o habeas corpus saiu — disse Vanhoni

O ex-deputado contou que no grupo não havia mais lideranças políticas:

— Eu era o único político. Os demais eram advogados amigos do Zé. Foi uma parada rápida.

Além de pizza e pinhão, também foi servido uísque para celebrar a soltura do ex-ministro, preso desde agosto de 2015 na Operação Lava-Jato.

— Ele tomou água e refrigerante — contou o anfitrião de Dirceu em suas primeiras horas em liberdade. O ex-ministro revelou que pretende agora ficar perto da família e estudar os seus processos. Ele já foi condenado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro em duas ações a um total de 32 anos de prisão. Na última quarta-feira, o Ministério Público Federal apresentou uma terceira denúncia contra o ex-ministro.

— A expectativa dele é ser julgado com justiça. Ele se sente injustiçado — disse Daniel Godoy Junior.

Dirceu passou boa impressão para os que estavam presentes no encontro de Curitiba. Vanhoni não via o ex-ministro desde o primeiro semestre do ano passado, quando o visitou na prisão paranense.

— O Zé está muito bem fisicamente, com espírito forte, olhar vivo. Bem melhor do que quando o visitei — disse o ex-deputado.

No despacho em que definiu as medidas cautelares para Dirceu deixar a prisão, Moro havia determinado que ele deveria permanecer no município de Vinhedo, no interior de São Paulo, mas os advogados do ex-ministro pediram que ele pudesse viver em Brasília para ficar perto da filha mais nova, Maria Antônia, de 5 anos, e da mulher, Simone.

— Ele falou que iria ver as filhas e que estava com muita saudade — comentou Vanhoni.

Em São Paulo, onde chegou na madrugada de ontem, Dirceu dormiu na casa da filha Joana. Pela manhã, tomou café com ela, o filho mais velho, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), e o jornalista Breno Altman. “Bem de saúde, com a cabeça no lugar e a mesma disposição de combate, está onde sempre esteve: não importa se preso ou livre, nas trincheiras de luta da classe trabalhadora”, escreveu Breno, em sua página no Facebook, sobre o encontro.

Na manhã de ontem, Dirceu saiu de carro novamente para Brasília, onde deveria chegar já na madrugada de hoje. Na capital federal, deve morar no apartamento em que Simone vive atualmente com a filha do casal. À noite, houve um protesto em frente ao local onde ele deverá morar.

O Supremo Tribunal Federal decidiu na terça-feira, por três votos a dois, conceder habeas corpus a Dirceu. Votaram pela liberdade os ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski. Foram contrários ao habeas corpus Edson Fachin e Celso de Mello. No despacho sobre as medidas cautelares para a libertação, Moro determinou que José Dirceu entregue o seu passaporte, mas o documento já está em posse da Justiça desde o julgamento do mensalão. Em Brasília, o petista não terá restrições para fazer deslocamentos. (*Especial para O GLOBO)

O globo, n.30587 , 05/05/2017. País, p. 7