LÍDERES E GOVERNO CONDENAM VIOLÊNCIA DE AGENTES PENITENCIÁRIOS

Catarina Alencastro

05/05/2017

 

 

Imbassahy e Arthur Maia chamam invasão da Câmara de ato criminoso

 

O governo considerou um ato antidemocrático e criminoso a invasão da Câmara por agentes penitenciários. A votação na comissão que aprovou o texto da reforma da Previdência foi suspensa anteontem, adiando a análise de destaques, após agentes entrarem em confronto com a polícia legislativa. -BRASÍLIA- A invasão de um grupo de agentes penitenciários à comissão especial da reforma da Previdência na Câmara, na noite de quarta-feira, foi duramente condenada por deputados e integrantes do Planalto. O ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, chamou a invasão de ato de criminoso:

— Com relação à invasão, entendo como um ato antidemocrático e criminoso. Entendo, também, que os agentes públicos deverão cobrar dos responsáveis indenização pelos danos ocorridos.

O tumulto provocado pelos agentes, combatido com gás pimenta, levaram ao adiamento da conclusão da votação em primeiro turno por uma semana. O relator da proposta de reforma, Arthur Maia (PPS-BA), também condenou a invasão.

— Foi um ato criminoso, que precisa ser punido de maneira exemplar com o rigor da lei — afirmou Arthur Maia.

Já o presidente em exercício da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), divulgou nota dizendo que a Casa “repudia com veemência” os atos de violência praticados pelos representantes da categoria. Ramalho anunciou reforço na segurança, quando a matéria for votada em plenário.

“A Câmara dos Deputados reitera sua disposição de garantir o debate democrático de todos os assuntos relevantes para a sociedade brasileira, mas não vai tolerar o cerceamento de seus trabalhos a partir de métodos violentos e desordeiros”, diz um trecho do comunicado.

 

‘NA MARRA, NÃO VAI’, DIZ MARUN

O chefe do departamento da Polícia Legislativa, Suprecílio Barros, negou que tenha havido falha na segurança. Segundo ele, houve um problema de engenharia no portão por onde entraram os manifestantes, pois a solda se rompeu. O policial afirmou que foi apreendida uma granada de gás lacrimogênea com os manifestantes. O artefato só deveria ser usado em áreas externas. Será aberta uma investigação sobre a entrada dessa munição no prédio da Câmara. Ela teria sido usada pelos manifestantes no corredor da comissão.

Tanto Ramalho quanto Barros argumentaram que a Polícia Legislativa conseguiu conter a maior parte dos manifestantes que forçaram a entrada do lado de fora da Câmara. E que apenas um grupo de cerca de 40 manifestantes conseguiu romper o bloqueio. O policial ressaltou que não eram “manifestantes comuns”, pois são treinados em conter rebeliões. Segundo ele, muitos tinham armas de fogo.

— No momento em que eles começaram a invadir, a gente interveio, e a maioria do grupo não conseguiu invadir. Esse mesmo grupo conseguiu entrar, todo mundo, no Ministério da Justiça (na terça-feira). Teve um embate de 30 minutos, eles tentando invadir, e a gente conseguiu manter a ordem. Muitos tinham armas de fogo. Esse pessoal é preparado para retomar presídio em caso de rebelião, são pessoas que têm treinamento, estão acostumadas com gás lacrimogêneo — comentou Barros.

O presidente da comissão especial da reforma da Previdência, Carlos Marun (PMDBMS), disse ser favorável ao pleito da categoria, que quer as mesmas condições especiais de aposentadoria previstas para policiais federais e legislativos. Mas avisou que não vai ser “na marra” que eles vão conseguir ser atendidos:

— Com relação aos agentes penitenciários, temos que separar as coisas. Existe o mérito, eu sou favorável. Acredito que exista uma similaridade muito grande entre as atividades do agente penitenciário e do policial. A outra coisa é a forma como essa reivindicação se estabeleceu. Esta é inaceitável. Na marra, não vai.

O globo, n.587 , 05/05/20175. Economia, p. 22