GOVERNO RECUA E REVOGA USO DAS FORÇAS ARMADAS EM BRASÍLIA
Eduardo Barreto
Leticia Fernandes
26/05/20017
 
 
 
 
Sob críticas, Temer retira tropas que atuariam por uma semana
 

Sob críticas do Congresso e de setores da sociedade, o pedido de socorro do governo aos militares, que duraria uma semana, acabou em um dia: ontem, o presidente Michel Temer recuou e revogou o uso das Forças Armadas na segurança da Esplanada dos Ministérios. O governo escalou os ministros da Defesa, Raul Jungmann, e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sergio Etchegoyen, para defender o recurso às Forças Armadas e que havia sido feito no dia anterior, m meio ao protesto de 45 mil pessoas, que teve um homem baleado.

Além do recuo, a única nova medida anunciada foi o recurso à Justiça para cobrar ressarcimento pelos danos ao patrimônio público. Sobraram ataques ao vandalismo, e o governo de Brasília também foi responsabilizado. O general Sergio Etchegoyen chegou a dizer que o número de policiais militares era “pequeno”, mas logo tentou se corrigir, sem tirar a atribuição de culpa ao governo local. — Não pequeno, mas insuficiente. Depois de abrir um conflito perigoso com o presidente da Câmara, aliado estratégico do governo, Jungmann afirmou que houve um mal-entendido com Rodrigo Maia (DEM-RJ), em relação ao uso das Forças Armadas. Depois de creditar o pedido de ajuda militar a Maia, Jungmann recuou. Maia havia cobrado que Jungmann restabelecesse a “verdade”, e o ministro minimizou a rusga:

— Foi um mal-entendido. Já liguei para Rodrigo Maia, dei explicações, dizendo que se tratou de um mal-entendido em termos de comunicação. Evidentemente o senhor Rodrigo Maia não tem responsabilidade no que diz respeito ao emprego das Forças Armadas.

Com vistas a conter o protesto , que teve tiros, bombas, depredação, incêndio e 50 feridos, Temer havia acionado a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), dispositivo constitucional que dá a militares poder de polícia em casos de emergência.

Servidores já tinham recebido ordem para encerrar o expediente às 15h, mas o “gatilho disparador” para convocar militares anteontem foi o incêndio no Ministério da Agricultura, segundo Etchegoyen. De acordo com um auxiliar do presidente, Temer teria ficado “muito impressionado” com a grande fumaça preta na Esplanada. Esse auxiliar diz que a área de inteligência do governo havia identificado risco de invasão ao Congresso ao fim do dia, além de chances de que o isolamento da área em frente ao Palácio do Planalto fosse derrubado. Depois que Temer decidiu assinar o decreto, ainda era necessário aparar arestas com o Congresso.

O Planalto preparou uma curta mensagem para os presidentes das duas Casas, que foi levada por um assessor, detalhando os termos da GLO e explicando que o artifício já fora utilizado este ano para reforçar a segurança dos estados. Entre os casos, foi citado o do Rio, que teve militares em fevereiro. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, disse ao emissário do Planalto que a ação militar deveria se restringir à manifestação. Essa era uma reclamação frequente da oposição. Assim, se o protesto terminasse na quarta-feira, como previsto, Maia pediu que a medida fosse revogada. No decreto de Temer, o período estabelecido era de uma semana. Já Eunício Oliveira, à frente do Senado, afirmou que a situação no plenário estava estabilizada e escreveu no mesmo papel que lhe foi entregue: “Respondi várias questões de ordem e neguei todas”.

— E se alguém morresse? Com certeza iriam acusar o presidente de omissão, iriam colocar a culpa aqui no Planalto. Agimos preventivamente — disse um interlocutor do palácio.

As forças de segurança locais, que dispararam tiros em direção aos manifestantes, foram poupadas pelo Planalto. Jungmann chegou a ler a Constituição para justificar a GLO e argumentou que não houve conflito entre militares e pessoas que protestavam, e que o foco era uma postura “defensiva”.

O ministro ainda atacou a resistência no Congresso, dizendo que quando Dilma Rousseff mandou a Força Nacional ao Rio em 2013, para o protesto contra o leilão do Campo de Libra, essas “vozes não se levantaram”.

 

VÍDEO: A DEPREDAÇÃO NO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

Governo contabiliza prejuízo de R$ 1,4 milhão na Esplanada glo.bo/2qoHZwz

O globo, n.30608 , 26/05/2017. País, p. 6