Valor econômico, v. 17, n. 4236, 17/04/2017. Política, p. A14

Impacto da 'lista de Fachin' em Padilha causa preocupação

 

Uma das preocupações que percorrem os corredores da área econômica do governo é sobre se (e como) a crise política provocada pela "lista de Fachin" afetará o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Ele tem sido desde o início do processo, ainda no ano passado, o principal articulador da reforma da Previdência junto ao Congresso, tem todo o mapa do Congresso e uma visão completa da reforma em termos de conteúdo, mas aparece como alvo de dois inquéritos da Lava-Jato.

Apesar de fontes relatarem preocupação com os riscos impostos pela lista do ministro do Supremo Edson Fachin, o cenário-base é de continuidade de Padilha à frente dos trabalhos e aposta na vitória do governo.

Ainda que a função de negociação com os parlamentares seja do ministro da secretaria de governo, Antônio Imbassahy, e, mais recentemente, o próprio presidente Michel Temer tenha ido para a linha de frente das negociações da Previdência, o papel de Padilha é visto por algumas fontes da área econômica como essencial. De fato, no período em que ele ficou fora por licença médica, por exemplo, a reforma começou a ter problemas no Congresso, forçando-o a acelerar o retorno dele aos trabalhos.

"Se o governo perder o Padilha, a vida vai ficar difícil. Os demais ministros, se forem substituídos, não têm tanto impacto. Mas não vejo outros atuando como ele nesse processo da Previdência", comentou uma fonte.

Outra fonte da área econômica considera, entretanto, pouco provável que Padilha se enfraqueça, dado que as denúncias são contra uma quantidade e variedade muito ampla de políticos. "A maneira como ele vai se comportar, se de alguma forma vai recuar, pode ser um sinal amarelo. Mas não acho que ele vai recuar porque não está sozinho [como denunciado]", disse esse interlocutor. "Mas ele ainda é o cara. Ele é eficaz, sabe articular e entende de economia", disse.

Um parlamentar com trânsito no Palácio do Planalto minimiza a preocupação em torno de Padilha e considera que o raciocínio valeria para outro momento, quando o ministro ainda costurava o envio da reforma e os primeiros passos dela no Parlamento. Para esta fonte, o momento agora é outro, "a bola está com o Congresso" e o papel de Padilha, ainda que ele seja um ministro muito importante e se espere que ele continue contribuindo para o processo, já não seria mais decisivo.

O entendimento deste congressista é que a crise gerada pela lista do Fachin não vai paralisar o Parlamento, em especial a Câmara. Ele ressalta que menos de 10% dos deputados tiveram inquérito aberto, o que dá espaço e tranquilidade para que os trabalhos continuem. Em relação ao Senado, o otimismo ainda existe, mas é menor porque as denúncias atingiram um terço dos senadores, sendo muitos caciques políticos.

Esse parlamentar reconhece que a "lista de Fachin" e as delações impactaram o ambiente de discussões sobre a Previdência. "Não fosse a lista, o governo já teria criado o clima para aprovar a reforma na Comissão", disse. Mas ele avalia que a mudança de foco gerada pode até acabar sendo positiva para a aprovação da matéria. O raciocínio dele é que a Previdência estava sendo o assunto central do noticiário, reforçando os bombardeios contra ela. Agora, pondera, o tema passa, pelo menos por um tempo, a ser secundário e o debate entre os congressistas sobre os termos da reforma pode ser facilitado, mesmo que o processo se atrase um pouco. A expectativa não é mais de aprovação antes do recesso, mas sim em agosto, cronograma que já está no radar da equipe econômica.

A despeito da convulsão política provocada pelas delações da Odebrecht e das preocupações que ela enseja, as avaliações na área econômica seguem favoráveis. A leitura é que os ativos financeiros, como câmbio e juros tiveram oscilações limitadas, mostrando que ainda há confiança dos agentes econômicos na capacidade de o governo aprovar a reforma.

Uma fonte comenta a relativa estabilidade da "ponta longa" da curva de juros. Depois que a lista veio a público, o DI de 2021 encerrou semana a 9,95%, com alta em relação aos dois dias anteriores, mas praticamente igual ao do fim da semana anterior (9,94%). A taxa de câmbio ficou praticamente estável, com o dólar terminando a semana a R$ 3,13.

Segundo outra fonte, os rumos da economia, em especial dos ativos financeiros, dependerão de como o Congresso vai se comportar com a reforma da Previdência. A avaliação desse interlocutor é que o momento econômico é favorável, com a Selic caindo e alguns sinais mais favoráveis em termos de retomada da atividade, mas que será decisiva a percepção do mercado sobre a velocidade de aprovação da previdência. "Mas esse processo de avaliação ainda vai levar algum tempo", disse.

Outra fonte avalia que os mercados hoje estão muito mais preocupados com questões externas, como a instabilidade geopolítica envolvendo questões como a Síria e a Coreia do Norte. "A cautela dos agentes econômicos não é com o Brasil. Os mercados não estão preocupados com isto."