Aécio admite erro, mas nega crime: ‘não tinha dinheiro para defesa’

André de Souza e Carolina Brígido 

24/05/2017

 

 

Senador, acusado de pedir R$ 2 milhões, falou pela 1ª vez após ser afastado pelo STF

-BRASÍLIA- Em sua primeira declaração pública após a divulgação da delação de executivos da JBS, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) reconheceu que “errou” ao se encontrar com o empresário Joesley Batista, delator da LavaJato, mas sustentou nunca ter feito dinheiro na vida pública e afirmou ter sido vítima de uma “armação de réus confessos”.

— Nos últimos dias, minha vida virou do avesso. Fui vítima de uma armação de réus confessos, que só tinham um objetivo: livrar-se dos gravíssimos crimes que são acusados, mesmo que para isso tentassem implicar pessoas de bem — declarou o tucano, em vídeo publicado em suas redes sociais.

Segundo Aécio, que foi gravado pedindo R$ 2 milhões para Joesley Batista, o dinheiro seria utilizado em sua defesa nos inquéritos aos quais responde no Supremo Tribunal Federal, pois, afirma, não ter os recursos necessários para pagar os advogados.

— Com parte desses recursos, poderia então pagar as minhas despesas com inquéritos que, tenho certeza, serão arquivados. E fiz isso porque não tinha dinheiro. Não fiz dinheiro na vida pública. Nessa história, os criminosos não sou eu nem os meus familiares. Os criminosos são aqueles que enriqueceram às custas do dinheiro público e que, agora, nesse instante, lá no exterior, zombam dos brasileiros com os inacreditáveis benefícios que obtiveram. Eles, sim, tem que voltar ao Brasil para responder aos crimes que cometeram — afirmou o senador afastado.

Ele afirmou ainda que sua irmã Andrea Neves e do seu primo Frederico Pacheco são inocentes. Ambos foram presos na última semana.

— Reafirmo aqui, de forma definitiva: não cometi qualquer crime. Minha irmã não cometeu crime algum. Fred, meu primo, não cometeu crime algum. São pessoas de bem, que sofrem hoje com a injustiça de sanções que lhe foram impostas — disse o senador afastado.

No vídeo, Aécio admite três erros: ter permitido que sua irmã se encontrasse com Joesley; o vocabulário que utilizou e ter se deixado enganar pelo dono da JBS.

Também ontem, a defesa de Andrea Neves pediu ao STF a revogação de sua prisão preventiva, convertendo-a em medidas alternativas. Ela foi presa em razão da delação de executivos do frigorífico JBS. O advogado Marcelo Leonardo, que a defende, argumenta que ela não tem participação em supostos crimes e afirma que, “se existentes” são de responsabilidade do irmão Aécio.

“O pedido do PGR, e a decisão agravada (do ministro Edson Fachin), em verdade, apontam razões que, se existentes, poderiam ser aplicadas para a pessoa física do senador Aécio Neves, nunca para sua irmã Andrea, residente na região de Belo Horizonte e sem qualquer ação política pessoal”, argumentou o advogado.

Mais tarde, depois que o pedido de revogação de prisão tornou-se público, a defesa negou que “tenha havido o cometimento de qualquer crime por quem quer que seja, muito menos pelo irmão da mesma, senador Aécio Neves”. De acordo com a nota, a solicitação apenas ressalta que “as supostas razões apontadas pelo Ministério Público não dizem respeito a ela, tratando-se tão somente de acusações não comprovações feitas ao senador”.

Ao GLOBO, Leonardo afirmou que foi mal interpretado. Ele disse que não jogou a responsabilidade para Aécio. O advogado argumentou que quis dizer apenas que os supostos crimes, se de fato existiram, não têm relação com Andrea.

Já a defesa de Aécio Neves também apresentou recurso ao STF contra a decisão de Fachin, que determinou medidas restritivas ao parlamentar. Segundo a defesa, o Judiciário invadiu uma tarefa do Legislativo, porque apenas o Senado poderia tirar o mandato de Aécio. Fachin deverá levar o pedido para julgamento em plenário, bem como o recurso que a PGR apresentou insistindo na prisão do senador. Os casos poderão ser julgados na próxima semana.

 

O globo, n. 30606, 24/05/2017. País, p. 10