JANOT INSISTE NO SUPREMO E VOLTA A PEDIR PRISÃO DE AÉCIO

Jailton de Carvalho

23/05/2017

 

 

Procurador quer decisão do plenário; senador tucano nega crime

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ontem que o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) determine a prisão do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e do deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDBPR). Os dois são acusados de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, obstrução de justiça e organização criminosa. Janot pede que o plenário do STF reconsidere a decisão do ministro Edson Fachin, que rejeitou o pedido, e decrete a prisão preventiva do senador e do deputado.

Primeiro Janot pede que Fachin revise a própria decisão. Como considera que ele pode não acolher o pedido, o procurador solicita que o caso seja levado em caráter de urgência a apreciação dos 11 ministros do tribunal.

Para o procuradorgeral, a prisão de Aécio e de Loures é “imprescindível para a garantia da ordem pública e da instrução criminal”.

Janot argumenta que os crimes atribuídos aos dois parlamentares são “gravíssimos” e, desde o início da fase pública das investigações, na quinta-feira passada, os dois estão em situação de flagrante por crime inafiançável. Janot acrescentou ainda como agravante o fato de que os investigados “vêm adotando, constante e reiteradamente, estratégias de obstrução de investigações da Lava-Jato”.

A defesa de Aécio também vai recorrer. Os advogados do senador querem a revogação da decisão de Fachin que afastou Aécio do Senado. “Com relação ao pedido da PGR, a defesa aguarda ser intimada para apresentar suas contra-razões, oportunidade em que demonstrará a impropriedade e descabimento do pedido ministerial”, diz nota divulgada pelo advogado Alberto Toron.

Em artigo publicado ontem no jornal “Folha de S. Paulo”, Aécio afirmou que não cometeu crime e atacou o dono da JBS e delator Joesley Batista. O tucano inicia o texto dizendo que, nos últimos dias, teve a vida virada pelo avesso. A irmã de Aécio, Andrea Neves, e o primo dele Frederico Pacheco foram presos em operação da Polícia Federal na última quinta-feira.

“Tornei-me alvo de um turbilhão de acusações, fui afastado do cargo para o qual fui eleito por mais de 7 milhões de mineiros e vi minha irmã ser detida pela polícia sem absolutamente nada que justificasse tamanha arbitrariedade. Tenho sentimentos, sou de carne e osso, e esses acontecimentos — o que é pior, originados de delações de criminosos confessos, a partir de falsos flagrantes meticulosamente forjados — me trouxeram enorme tristeza”, afirmou o tucano no artigo.

Conforme O GLOBO revelou, Joesley Batista entregou à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma gravação em que Aécio pede R$ 2 milhões ao empresário, sob a justificativa de que precisava da quantia para pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato. O primo do senador foi filmado recebendo o dinheiro.

“BOA-FÉ” “Tudo isso sofreu um abalo sísmico, na semana passada, com a divulgação de gravações covardemente feitas pelo réu confesso Joesley Batista de conversas com o presidente da República e de outras que manteve comigo. Nestas, ele tenta conduzir o diálogo para criar-me todo tipo de constrangimento. Lamento sinceramente minha ingenuidade — a que ponto chegamos, ter de lamentar a boa-fé! Não sabia que na minha frente estava um criminoso sem escrúpulos, querendo apenas forjar citações que o ajudassem nos benefícios de sua delação” — sustentou o tucano.

Nas gravações, Aécio criticou os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e disse que eles eram “frágeis”. No artigo, o tucano disse que, ao se referir a autoridades, usou um vocabulário que não costuma usar e se penitencia. Declarou que já se desculpou pessoalmente.

“Mas reafirmo: não cometi nenhum crime! Setores da imprensa vêm destacando uma acusação do delator de que, em 2014, eu teria recebido R$ 60 milhões em ‘propina.’ Mas muito poucos tiveram a curiosidade de pesquisar e constatar que isso se refere exatamente aos R$ 60 milhões que a JBS doou legalmente a campanhas do PSDB naquele ano. E foram raros também os que se interessaram em registrar afirmações dos próprios delatores sobre mim — ‘nunca nos ajudou em nada’ e ‘nunca fez nada por nós,’ disseram a meu respeito. Então pergunto: onde está o crime? Aliás, de qual crime acusam a mim e a meus familiares?”, perguntou Aécio.

No artigo, o tucano disse ter solicitado à irmã que procurasse Joesley Batista, a quem ela não conhecia, na tentativa de vender o apartamento em que a mãe mora. Aécio se disse vítima de uma “criminosa armação”, mas que isso não significa que não tenha errado:

“Errei ao procurar quem não deveria. Errei mais ainda, e isso me corrói as vísceras, em pedir que minha irmã se encontrasse com esse cidadão”.

O globo, n.30605 , 23/05/2017. País, p. 8