Depoimentos são ‘problema do governo’, afirma Skaf

Daniel Weterman

06/03/2017

 

 

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, não quis comentar anteontem a citação de seu nome no depoimento de Marcelo Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral.

Ao ser questionado sobre as oitivas dos delatores da na Justiça Eleitoral no processo que julga a chapa Dilma-Temer, vitoriosa na eleição de 2014, Skaf afirmou: “Problema do governo é do governo, cada um com seus problemas. A minha preocupação é ajudar para que o País retome o crescimento econômico”.

O presidente da Fiesp, que visitou uma unidade do Senai no bairro Santo Amaro, na capital Paulista, disse a jornalistas que os impactos políticos causados pelas delações e denúncias de irregularidades em campanhas de 2014 não devem superar a busca pela retomada do crescimento da economia.

Filiado ao PMDB e candidato ao governo do Estado na campanha daquele ano, Skaf teria pedido R$ 6 milhões em doação da Odebrecht para a campanha, conforme relato de Marcelo Odebrecht ao TSE. O dinheiro teria sido acertado como parte de uma doação de R$ 10 milhões acordada entre a empresa e o PMDB, presidido na época pelo então candidato a vice-presidente Michel Temer.

Na semana passada, Skaf divulgou uma nota dizendo que todas as doações recebidas pela campanha ao governo de São Paulo estão devidamente registradas na Justiça Eleitoral. Afirmou ainda que nunca pediu e nem autorizou ninguém a solicitar qualquer contribuição de campanha que não as regularmente declaradas.

Skaf disse que não conversou com Temer sobre as notícias relacionadas aos depoimentos.

“Esperamos que a Lava Jato ou qualquer outra operação cumpra seu papel principal, que é punir aqueles que merecem, que deram motivo, que são criminosos, sejam corruptos ou corruptores”, afirmou o presidente da Fiesp.

“Não devemos ficar por conta só de assistir questões políticas e esquecer da economia e do emprego.”

 

Citado. Skaf, presidente da Fiesp e ex-candidato do PMDB

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PGR tenta finalizar pedidos de inquéritos

Beatriz Bulla

06/03/2017

 

 

Procedimentos da força-tarefa relativos a políticos citados em delações da Odebrecht podem ser encaminhados ainda nesta semana ao Supremo

 

 

O grupo de trabalho do procurador- geral da República, Rodrigo Janot, tenta finalizar nesta semana os pedidos de abertura de inquérito contra políticos citados na delação da Odebrecht. O material precisar ser encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, onde será analisado pelo relator da Lava Jato na Corte, ministro Luiz Edson Fachin.

Ao solicitar as investigações ao Supremo, Janot pedirá para derrubar o sigilo de parte das delações. Só deve ser mantido o segredo de Justiça do conteúdo relacionado a esquemas internacionais relatados pelos delatores.

Após a chegada do material ao Supremo, Fachin deve levar alguns dias para despachar os pedidos do procurador-geral. Pelo calendário com o qual se trabalha na Procuradoria e no Supremo, o material da Odebrecht deve vir a público antes da posse do novo ministro da Corte, Alexandre de Moraes, agendada para o próximo dia 22.

O grupo de procuradores da República do gabinete de Janot está debruçado sobre o caso desde que os acordos de delação dos 78 executivos da Odebrecht foram assinados, em dezembro.

A partir da homologação das delações pela presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, no dia 30 de janeiro, os procuradores começaram oficialmente a preparar os inquéritos, sem pausa durante o carnaval. Janot quer encaminhar o material o mais breve possível ao Supremo.

Serão enviados, de uma vez, pedidos de investigação, arquivamentos de trechos em que considera que não há indicativo de crime e solicitações de desmembramento.

Neste último caso, o procurador-geral da República pede para enviar para outras esferas da Justiça casos em que o nome citado não possui prerrogativa de foro no STF. É a situação, por exemplo, de governadores, que têm foro no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

 

Ministros. Ao Supremo, serão solicitadas investigações de ministros de Estado – como Eliseu Padilha, da Casa Civil – e parlamentares. Padilha foi citado na delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht. O executivo mencionou um jantar no Palácio do Jaburu, com a presença do então candidato a vicepresidente Michel Temer, Padilha e Marcelo Odebrecht, no qual teria sido acertada doação de R$ 10 milhões para campanhas do PMDB.

Em depoimento à Justiça Eleitoral na semana passada, Marcelo Odebrecht confirmou o jantar, mas disse não ter discutido valores com Temer. Segundo o herdeiro da empreiteira baiana, o acerto foi feito antes da reunião no Jaburu, por Padilha e Melo.

Amigo e ex-assessor especial de Temer, o advogado José Yunes prestou depoimento voluntário à PGR em fevereiro no qual disse ter atuado como “mula involuntária” de Padilha.

O ministro da Casa Civil deve ser um dos alvos dos pedidos de abertura de inquérito. Janot não pretende enviar neste momento denúncias diretamente ao STF. A intenção é solicitar primeiro a investigação das autoridades citadas, para só depois fazer a acusação formal. Investigadores consideram que há tempo hábil para que Janot consiga oferecer denúncias no caso Odebrecht até o fim de seu mandato – que se encerra em setembro.

Os trechos de delações que fazem referência a esquemas internacionais de corrupção serão mantidos em sigilo até 1º de junho.

Nesse tempo, a empresa tenta fechar acordos nos países onde realizou pagamentos de propina a autoridades em troca de contratos públicos – 11 no total, segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

 

Procurador-geral. Rodrigo Janot vai pedir o fim do sigilo em parte da delação da Odebrecht

 

Licença estendida

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, que deveria retornar hoje a Brasília, vai pedir para estender a licença médica. Ele foi submetido a uma cirurgia em Porto Alegre e segue sem previsão de alta.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45065, 06/03/2017. Política, p. A5.