O Estado de São Paulo, n. 45066, 07/03/2017. Economia, p. B1
PIB brasileiro caiu 3,6% no ano passado e economia voltou aos níveis de 2010
Por: Daniela Amorim / Fernanda Nunes / Vinicius Neder
A economia brasileira encolheu 3,6% no ano passado. Em dois anos, essa queda chegou a 7,2%, a maior recessão já enfrentada pelo País pelo menos desde 1948, quando o IBGE começou a calcular os números do Produto Interno Bruto (PIB). Com esse recuo, a economia encerrou 2016 no mesmo patamar do terceiro trimestre de 2010.
Desde o início desse período de recessão, no segundo trimestre de 2014, o PIB já encolheu 9%, nos cálculos da LCA Consultores.
Como a população cresceu, o PIB per capita, ou seja, a geração de riqueza por pessoa, caiu 11% no período. Na prática, o brasileiro ficou mais pobre, pois o “bolo” a ser dividido por todos está menor e, ao mesmo tempo, há mais bocas para alimentar. “Tem de colocar muita água no feijão”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
O saldo desse período pode ser visto nas ruas: do fim de 2014 ao fim do ano passado, 2,613 milhões de trabalhadores perderam o emprego. Com o orçamento familiar apertado, a fila da busca por uma vaga praticamente dobrou, para 12,342 milhões de pessoas. O valor do total de salários em circulação encolheu em R$ 8,038 bilhões, reduzindo o poder de compra. No PIB, o consumo das famílias caiu 4,2% ano passado, após recuar 3,9% em 2015.
Sem consumidores, 210,6 mil lojas que possuíam funcionários com carteira assinada fecharam as portas, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Isso é mais do que o total de 121,6 mil estabelecimentos localizados em shopping centers, conforme a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop).
“Em três anos, o comércio teve uma queda de 20% nas vendas.
De cada R$ 100,00 que o comércio vendia em 2013, R$ 20,00 desapareceram”, afirmou Fabio Bentes, economista da CNC. O PIB de serviços teve baixa de 2,7% ano passado, mesmo ritmo de queda de 2015.
O PIB industrial encolheu 3,8% ano passado, após cair 6,3% em 2015, mas a crise já vinha desde 2014, quando o recuo foi de 1,5%. Um ano antes, em 2013, o Brasil produziu 3,7 milhões de veículos, segundo a Anfavea, entidade industrial do setor.
Ano passado, a produção total foi 42% menor, com 2,2 milhões de unidades. “O Brasil nunca passou por uma experiência como essa”, disse o presidente da Anfavea, Antonio Megale.
Se as projeções do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/ FGV) para este e o próximo ano estiverem certas, a atividade econômica chegaria ao fim de 2018 ainda 4,9% abaixo do pico, no primeiro trimestre de 2014, nas contas do pesquisador Julio Mereb. Uma volta ao nível máximo, só de 2021 em diante. “Vai ser outra década perdida”, disse o economista José Luís Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB).