Decreto causa conflito entre Maia e Jungmann

Cristiane Jungblut, Letícia Fernandes e Eduardo Barreto 

25/05/2017

 

 

Ministro credita pedido de tropas ao presidente da Câmara, que nega

BRASÍLIA- A edição do decreto do presidente Michel Temer acionando a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), para que as Forças Armadas assumam a segurança da Esplanada dos Ministérios por uma semana, provocou troca de acusações sobre a autoria do pedido. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, creditou ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a proposta, o que provocou mal-estar na Casa. Cobrado pelos colegas, Maia disse que pediu a ajuda da Força Nacional porque o ambiente em frente ao Congresso estava “um inferno”, mas que o uso de forças militares não era de sua responsabilidade.

Maia acusou o ministro Jungmann de mentir e, à noite, cobrou que o uso das Forças Armadas durasse apenas 24 horas. O GLOBO apurou no Palácio do Planalto que o governo deverá realmente rever a decisão de usar as Forças Armadas até o dia 31, reduzindo o prazo.

— O ambiente estava radicalizado, eu pedi ao presidente que pudesse enviar o apoio da Força Nacional. O ministro Jungmann deu uma coletiva dizendo que o pedido da GLO, que é a utilização das Forças Armadas, era um pedido da Presidência da Câmara. Eu afirmo e reafirmo que isso não é verdade. Se o governo decidiu adotar outra medida é uma responsabilidade do governo — disse Maia, acrescentando que pediu ao líder do governo que entrasse em contato com o ministro da Defesa para que a verdade fosse restabelecida.

No início da noite, Jungmann admitiu rever o prazo: — Estamos avaliando. Em seguida, o Planalto divulgou nota confirmando a disposição: “Restabelecendo-se a ordem, o documento será revogado. O presidente da República ressalta que não hesitará em exercer a autoridade que o cargo lhe confere sempre que for necessário”. A decisão de usar as Forças Armadas foi tomada pelo presidente Michel Temer em reunião com os ministros da Defesa, Raul Jungmann, e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen.

O governador do DF, Rodrigo Rollemberg, reclamou da decisão. “Em todas as 151 manifestações realizadas nos últimos dois anos, as forças de segurança federal e distrital agiram de maneira integrada e colaborativa. Em todas as ocasiões, a Polícia Militar agiu com eficácia e eficiência, demonstrando estar plenamente apta ao regular o desempenho de sua missão constitucional. Eventuais excessos serão rigorosamente apurados. No entanto, para surpresa do governo de Brasília, a Presidência da República decidiu recorrer ao uso das Forças Armadas, medida extrema adotada sem conhecimento prévio e nem anuência do governo de Brasília”, diz nota do governador.

A GLO é ativada, segundo a Defesa, quando há “esgotamento das forças tradicionais de Segurança Pública, em graves situações de perturbação da ordem”. O dispositivo constitucional, de atribuição exclusiva do presidente da República, prevê que os militares podem, provisoriamente, atuar com poder de polícia

 

O globo, n. 30607, 25/05/2017. País, p. 4